Fischer exige respeito dos direitos humanos no Iraque
25 de março de 2003"No nosso parecer, teria havido um outro caminho, outra possibilidade além da guerra, mas não se trata agora de atribuir culpa a ninguém", disse o ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer, ao iniciar seu discurso perante a Comissão Permanente de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.
O objetivo de um amplo desarmamento do Iraque poderia ter sido alcançado por vias pacíficas, através dos inspetores de armas. As Nações Unidas continuam sendo a instituição mais importante para a manutenção da paz e da estabilidade, frisou o político do Partido Verde.
Proteção para a população e prisioneiros de guerra
Os direitos humanos estão especialmente ameaçados em tempos de guerra, pelo que a comunidade internacional precisa agir. A população iraquiana continuará se debilitando. Sobretudo as mulheres e as crianças serão as principais vítimas. O governo alemão está profundamente preocupado com o risco de uma catástrofe humanitária.
"Por isso apelamos às partes beligerantes para que se atenham incondicionalmente ao direito internacional. A população civil, sobretudo, deve ser protegida. As partes em conflito devem tratar prisioneiros de guerra em consonância com a Convenção de Genebra", apelou o ministro alemão.
Paz pressupõe justiça social
Sua preocupação, contudo, não está voltada apenas para a observação dos direitos humanos durante guerras em geral ou a do Iraque em particular. "A guerra pode ser ganha por meios militares, mas a paz, não. Só se garante a segurança de forma duradoura e estável quando os direitos humanos e as liberdades fundamentais são reconhecidos e respeitados mundialmente", prosseguiu, defendendo as Nações Unidas e seus órgãos, como a própria Comissão Permanente de Direitos Humanos, como o fórum adequado para a discussão de assuntos de interesse geral. Somente em âmbito multilateral se pode lutar, de forma convincente, pela aplicação de valores e normas.
Combate ao terrorismo não justifica excessões
Mesmo com as atenções voltadas para a guerra do Iraque, não se deve esquecer a luta conjunta contra o terrorismo, lembrou Joschka Fischer. É preciso evitar que, sob o pretexto de combate ao terror, os direitos humanos e as liberdades fundamentais sejam suspensos ou sofram limitações. "Não pode haver, para ninguém, um desconto antiterrorismo", advertiu.
Fischer reconheceu a necessidade de medidas policiais ou militares para a proteção da população de ameaças graves, mas insistiu que, a longo prazo, o melhor meio para a prevenção de conflitos é garantir a todos uma participação em pé de igualdade na vida política, social e econômica.
O ministro alemão não deixou de se referir à tortura. "O fato de existir um número crescente de países que admitem a tortura, tacitamente ou mesmo de forma explícita, nos preocupa." A proibição da tortura teria validade absoluta. Mesmo em situações que exijam medidas de excessão, não pode ser feita uma excessão no tocante à tortura.
O político alemão manifestou também sua preocupação com a situação dos direitos humanos na Coréia do Norte, onde a população estaria excluída de direitos fundamentais, além de estar privada do mais necessário para sua subsistência. Fischer criticou claramente a China, por perseguir minorias étnicas e religiosas, mas considerou muito positivo que recentemente tenham sido libertados prisioneiros políticos e que houvesse contato entre representantes do governo e do Dalai Lama.