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Flávio soube antes de operação contra Queiroz, diz ex-aliado

17 de maio de 2020

À "Folha", suplente afirma que senador foi informado por um delegado da PF sobre ação que expôs movimentações financeiras de seu assessor. Operação teria sido retardada para não prejudicar eleição de Jair Bolsonaro.

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Flávio Bolsonaro
Flávio teria feito as revelações a Paulo Marinho em dezembro de 2018Foto: Getty Images/AFP/M. Pimentel

O senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, teria sido informado com antecedência de que a Operação Furna da Onça, que atingiu Fabrício Queiroz, então funcionário de Flávio, seria deflagrada. A afirmação é do empresário Paulo Marinho, suplente do senador e figura importante na campanha presidencial de Bolsonaro, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

Em nota neste domingo (17/05), Flávio rebateu as declarações de Marinho, descrevendo-as como "estórias que não passam de invenção de alguém desesperado e sem votos".

Queiroz é investigado por lavagem de dinheiro, suspeito de operar um esquema de "rachadinha" (divisão de salários de funcionários) no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), quando este era deputado estadual (entenda aqui os desdobramentos do caso Queiroz, o primeiro escândalo do governo Bolsonaro).

Marinho contou à Folha que, em dezembro de 2018, com Bolsonaro já eleito e prestes a assumir o Planalto, Flávio procurou o empresário para pedir a indicação de um advogado criminal. Segundo o jornal, ele estaria "absolutamente transtornado" com o escândalo envolvendo seu gabinete e, preocupado com possíveis consequências ao governo de seu pai, precisava se defender.

O empresário disse que, nesse encontro, Flávio contou que foi avisado sobre a operação entre o primeiro e segundo turnos das eleições de 2018 (7 e 28 de outubro), por um delegado da Polícia Federal (PF) apoiador de Bolsonaro.

Marinho afirmou ainda que, segundo Flávio, a PF teria retardado a operação para que ela não fosse realizada durante o segundo turno, evitando assim prejudicar a candidatura de seu pai.

"Eu sou eleitor, adepto, simpatizante da campanha [de Jair Bolsonaro], e nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição", teria dito o delegado a Flávio, segundo relatou Marinho.

Ao repassar a informação, o delegado também teria sugerido que a família tomasse "providências" antes da operação. Segundo Marinho, Flávio então comunicou o caso ao pai, que por sua vez pediu a demissão de Queiroz da Alerj, bem como da filha dele, Nathalia, funcionária do gabinete de Bolsonaro, então deputado federal, em Brasília.

De fato, os dois foram exonerados de seus cargos em 15 de outubro de 2018, no período entre o primeiro e o segundo turno das eleições.

A Furna da Onça foi deflagrada em novembro de 2018. Tais revelações teriam sido feitas por Flávio a Marinho em 13 de dezembro de 2018. À época, Queiroz estava sumido, e Flávio disse a seu suplente que mantinha contato indireto com Queiroz por meio de um advogado.

Segundo o jornal O Globo, um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) reforça a versão de Marinho de que a PF sabia da movimentação de Queiroz antes das eleições.

O documento, que expõe casos de movimentações financeiras suspeitas por parte de servidores da Alerj, foi produzido em janeiro de 2018 e entregue à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal. O relatório é um dos documentos que deu origem à Furna da Onça.

Segundo Marinho, o encontro em dezembro ocorreu em sua casa, e também participaram da conversa os advogados Victor Alves, que trabalha no gabinete de Flávio, e Christiano Fragoso, indicado para defender o senador na ocasião.

O empresário sugeriu que as declarações feitas por Flávio nessa reunião podem "explicar" o interesse de Bolsonaro sobre o comando da Superintendência da PF no Rio – algo que provocou choques entre o presidente e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que acabou deixando o cargo acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal.

Marinho foi eleito suplente na chapa de Flávio Bolsonaro na eleição para o Senado em 2018 e foi um dos apoiadores mais próximos de Jair Bolsonaro durante o pleito presidencial, chegando a ceder sua casa no Rio para a estrutura de campanha. Ele acabou rompendo com a família Bolsonaro depois das eleições, e hoje é pré-candidato a prefeito do Rio pelo PSDB.

Em nota neste domingo, Flávio declarou que o "desespero de Paulo Marinho causa um pouco de pena". "[Ele] preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão. Trocou a família Bolsonaro por Doria e Witzel, parece ter sido tomado pela ambição", disse, sobre o rompimento com o clã.

O senador sugeriu ainda que seu suplente teria "interesse" em lhe prejudicar, já que é seu substituto no Senado, e esse seria mais um motivo para "esse tipo de ataque".

"Ele sabe que jamais teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão. E por que somente agora inventa isso, às vésperas das eleições municipais em que ele se coloca como pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio, e não à época em que ele diz terem acontecido os fatos, dois anos atrás? Sobre as estórias, não passam de invenção de alguém desesperado e sem votos", concluiu.

Parlamentares da oposição e ex-presidenciáveis também reagiram às revelações feitas por Marinho à Folha, mas cobrando investigações para apurar se a PF de fato antecipou a deflagração da operação a Flávio.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da minoria no Senado, disse que as afirmações do empresário são "gravíssimas" e, se comprovadas, demonstram "a interferência de Bolsonaro e de sua família na Polícia Federal antes mesmo do início de seu governo".

Randolfe afirmou que vai pedir o depoimento de Marinho no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura suspeitas de interferência de Bolsonaro na PF, e prometeu protocolar uma ação contra Flávio no Conselho de Ética do Senado, o que pode levar a abertura de um processo de cassação contra o parlamentar.

O ex-presidenciável Fernando Haddad (PT), por sua vez, disse que houve "fraude" nas eleições de 2018, enquanto Guilherme Boulos (Psol) cobrou ações do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sugerindo suposta obstrução de justiça e fraude eleitoral por parte do clã.

EK/ots

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