Fome energética dos tigres asiáticos dificulta combate ao aquecimento
13 de novembro de 2012Óleo, gás e sobretudo carvão – especialmente combustíveis fósseis – são algumas das fontes que ajudam a suprir a crescente demanda asiática por energia. A China produz 70% de toda a força necessária para manter em funcionamento seu parque industrial de proporções superlativas por meio do carvão. Isso representa um volume de emissões poluentes maior do que qualquer outro país do mundo.
De acordo com as estimativas de Hanns Günther Hilpert, pesquisador especializado em Ásia do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), o consumo de carvão deve crescer ainda mais. Quer dizer que as metas de reduzir significativamente as emissões de CO2 até 2050, a fim de limitar o aquecimento global a dois graus, dificilmente serão cumpridas.
China é apenas um exemplo
Outros países asiáticos têm um apetite energético similar ao chinês. A Índia, por exemplo, precisa ampliar sua capacidade de geração energética em até cinco vezes nos próximos anos. Por lá, assim como na China, o carvão continua sendo a principal fonte, e o país detém uma das maiores reservas mundiais do mineral.
De acordo com o chefe do departamento internacional de energias renováveis do Greenpeace, Sven Teske, enquanto o carvão perde a importância como fonte de energia na maior parte do mundo, na Índia e na China a dependência da matriz mineral segue em expansão.
O crescimento desenfreado tem criado uma série de problemas para os mercados emergentes da Ásia. “Eles construíram a própria infraestrutura energética na fase de maior demanda, com o boom econômico e precisam pensar agora em como atender a essa demanda”, avalia Hilpert.
Essa também é a razão pela qual Índia e China têm acelerado a construção de suas plantas nucleares. Os chineses têm mais de uma dúzia de usinas nucleares em funcionamento e uma produção que já ultrapassa os 10 Gigawatts. Outras 25 usinas estão em construção e há planos para mais 50. Desde a catástrofe nuclear de Fukushima, porém, a liberação de novas obras foi suspensa. Todos os reatores em funcionamento estão sendo submetidos a verificações dos padrões de segurança.
A comissão de energia nuclear da Índia também anunciou a contrução de novas unidades produtoras de energia nuclear, que serão somadas às centenas de plantas movidas a carvão que devem ser construídas a fim de explorar o recurso natural disponível no país. Em Jaitapur, a 300 quilômetros ao sul de Mumbai, em uma região propensa a terremotos, fica a maior usina nuclear do mundo. A planta foi alvo de protestos depois do acidente nuclear do Japão, mas continua em pleno funcionamento.
Chance para as energias renováveis
O apetite energético dos tigres asiáticos tem, porém, criado mercado também para as chamadas energias renováveis. “As pessoas podem tomar o caminho certo desde o início”, acredita Sven Teske. “Reconstruir as infraestruturas demanda muita energia, e os passos intermediários podem ser igualmente conturbados para os países ocidentais.”
O especialista do Greenpeace defende a instalação de plantas de produção de pequeno porte para a captação de energia solar e eólica. Elas podem ser construídas rapidamente e ofereceriam uma solução para situações como a da Indonésia, onde existem 14 mil ilhas e cerca de metade da população do país não tem acesso à energia elétrica. A solução também serviria para a Índia, onde 70 mil vilarejos ainda vivem no escuro. Se a energia costuma chegar quando se faz necessária, vale dizer que ela beneficia toda a economia local, promovendo a geração de novos empregos.
Cada país precisa de soluções próprias
A tecnologia em questão depende das condições de cada lugar. Quando as condições são desfavoráveis para a produção de determinado tipo de energia, a adoção de outra fonte pode ser possível. A China e a Índia oferecem excelentes condições para a instalação de grandes usinas eólicas. Nas Filipinas, além do vento, fontes geotérmicas podem ser usadas com eficiência. Em regiões montanhosas, existe a opção das hidrelétricas, como no sul de Taiwan, onde pequenas centrais foram montadas. Plantas semelhantes estão sendo cogitadas para a própria ilha.
No entanto, qualquer medida deve ser adotada com cuidado, para que uma solução positiva não termine por se transformar em um problema – especialmente quando se trata da construção de usinas hidrelétricas, em que o limite entre benefícios e danos é muito estreito. Isso ocorreu, por exemplo, com a criação da represa de Três Gargantas, na China, que é hoje a maior do mundo. Por lá, centenas de milhares de pessoas precisaram ser removidas. Conservacionistas apontam ainda efeitos ecológicos a longo prazo, que colocam em risco a sobrevivência de milhares de espécies de animais e plantas.
China tem feito melhor do que sua fama prega
Na ponta do lápis, no entanto, a China e seu 1,4 bilhão de habitantes não é exatamente a maior poluidora mundial, como se costuma apontar. Ao menos é isso que garante o especialista do Greenpeace Sven Teske. Em uma comparação internacional quanto ao consumo de energia, a China aparece em uma posição intermediária. No entanto, conforme Teske, isso ocorre porque uma grande fatia da população não participa do crescimento experimentado pelo país. Os esforços em prol do meio ambiente são, de qualquer maneira, imperativos. “A fome energética da China precisa ser saciada, e o país fará tudo o que for preciso para isso”, prevê Teske.
Hans Günther Hilpert, do SWP, tem pelo menos uma certeza: “As lideranças políticas já entenderam a necessidade de proteger o meio ambiente”. Contudo, o imenso país parece ter o desejo de repensar suas posturas. O novo planejamento para os próximos cinco anos prevê uma expansão no uso de energias renováveis, o aumento da eficiência energética e produtividade.
Autor: Po Keung Cheung (ie)
Revisão: Francis França