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Formigas agricultoras plantam café nas florestas tropicais

Theresa Krinninger av
24 de novembro de 2016

Pesquisadores alemães descobriram nas ilhas Fiji uma espécie de formiga que semeia, aduba, colhe plantas e as usa como casa. Assim como os seres humanos, ela possui um instinto agrícola – há milhões de anos.

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Formiga "Phildris nagasau", das Ilhas Fiji
Phildris nagasau semeia comida e moradia no topo de gigantes botânicos tropicaisFoto: Ludwig-Maximilians-Universität München/Susanne Renner

As formigas da espécie tropical Phildris nagasau, nativas das ilhas Fiji, no Pacífico, fazem algo que se acreditava só os seres humanos fossem capazes: elas cultivam pés de café na casca de outras árvores, a fim de colher o néctar com que se alimentam. Mais tarde, utilizam como moradia as estruturas bulbosas na copa da floresta.

"Essa é a primeira formiga que planta suas futuras habitações”, observa a botânica Susanne Renner, da Universidade Ludwig-Maximilian (LMU), de Munique. Durante semanas, os insetos fertilizam as plântulas, sem tirar nenhum benefício direto. Só após três a cinco meses é que podem se mudar para a jovem planta de café.

Formiga "Phildris nagasau", das Ilhas Fiji
Espécies de café tem mesma idade dos insetos: 3 milhões de anosFoto: Ludwig-Maximilians-Universität München/Susanne Renner

"É como um agricultor que cultiva sua safra”, compara Renner, em entrevista à DW. Em conjunto com seu doutorando Guillaume Chomicki, ela desenvolveu a pesquisa sobre a espécie "agricultora" nas regiões insulanas tropicais de Fiji e Bornéu, as quais abrigam numerosas espécies de formigas.

Para estudar os insetos, Chomicki subia no topo das árvores com a ajuda de cordas, ficando pendurado durante horas para observar e realizar experimentos. Uma meta era descobrir se o planejamento de longo prazo na Phildris nagasau é fruto de inteligência.

"Até onde se sabe, esse comportamento é todo inato. A formiga precisa saber que sementes plantar", revela Renner. Para testar, ofereceu-lhes outras sementes e grãos de cereais. No entanto, elas só aceitavam as das espécies que mais tarde pudessem utilizar como moradia.

Três milhões de anos de cooperação

Para garantir o sucesso do plantio de suas casas, as formigas vigiam as plantinhas em regime de turnos, e as adubam com excrementos e urina. Além disso, não plantam as sementes na casca de qualquer árvore, só nas apropriadas à futura habitação.

Desse modo, as plantas de café vão parar na copa de determinados gigantes tropicais, ficando, assim, mas próximas da luz. Quase como num gesto de gratidão, as plantas desenvolvem câmaras ocas, onde a formiga-rainha reside e são criadas suas larvas.

A dupla de pesquisadores de Munique constatou que as formigas plantam seis diferentes espécies de cafeeiros. Também espantoso é a espécie Phildris nagasau  e essas espécies terem exatamente a mesma idade, 3 milhões de anos.

"Isso é realmente incrível: essa espécie de formiga cultivou seis diferentes espécies vegetais", admira a botânica alemã. Hoje, a proliferação desses tipos de café específicos é inteiramente dependente da ação dos insetos.

Formiga "Phildris nagasau", das Ilhas Fiji
Trabalho das formigas só é recompensado após mesesFoto: Ludwig-Maximilians-Universität München/Susanne Renner

Descoberta acidental

Segundo Renner e Chomicki, o comportamento das formigas das ilhas Fiji é, no máximo, comparável ao de outros insetos sociais, como abelhas ou cupins, pois exige cooperação.

A simbiose entre formigas e outros animais ou plantas não é novidade. Algumas vivem em determinadas plantas, defendendo-as contra os inimigos naturais. As saúvas da América do Sul cultivam fungos nutritivos em seus ninhos subterrâneos, usando como substrato as folhas que coletam.

Outras se alimentam das secreções doces de certas lagartas, em troca de proteção. Também na Europa existem formigas "pecuaristas", que defendem os pulgões contra o ataque das joaninhas, igualmente se alimentando das secreções que "ordenham".

A diferença em relação à espécie de Fiji é que estas cultivam plantas ativamente. Essa revelação tornou ainda mais valiosas as horas passadas nas copas das árvores tropicais: originalmente, os pesquisadores da LMU pretendiam estudar a evolução da interação entre formigas e vegetais. "Mas que a cooperação fosse tão específica assim, foi antes uma descoberta acidental", revela Susanne Renner.