Forças sírias retomam ataques aéreos a Ghouta Oriental
21 de fevereiro de 2018A Força Aérea da Síria realizou novos ataques que resultaram em vítimas nesta quarta-feira (21/02) em Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco. Enquanto isso, potências ocidentais e agências humanitárias reiteraram suas preocupações sobre o vertiginoso aumento no número de mortos e alertaram para uma catástrofe humanitária.
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O regime do presidente Bashar al-Assad intensificou neste mês seus ataques ao enclave rebelde a leste de Damasco, onde quase 300 civis foram mortos desde domingo. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, jatos de guerra executaram novos ataques aéreos a vilarejos em Ghouta Oriental nesta quarta-feira e mataram 24 civis.
A maioria morreu após bombas de barril – artefatos explosivos misturados com fragmentos metálicos e que causam danos indiscriminados – terem sido lançadas no vilarejo de Kfar Batna. Mais de 1.400 pessoas sofreram ferimentos em três dias, no que é a onda mais sangrenta de ataques ao enclave rebelde desde o início da guerra civil, em 2011.
Médicos e profissionais da saúde ficaram sobrecarregados ao longo de fevereiro. O cerco de cinco anos ao enclave restringiu o acesso a suprimentos médicos, e três clínicas foram atingidas esta semana e deixaram de funcionar. O hospital da cidade de Arbin foi atingido duas vezes na terça-feira. O Observatório afirmou que jatos russos executaram o ataque, o primeiro em Ghouta Oriental em três meses.
A Anistia Internacional considerou nesta terça-feira que os ataques em Goutha Oriental são crimes de guerra. "O governo sírio, com o apoio da Rússia, está atacando de forma proposital seu próprio povo em Goutha Oriental", afirmou a pesquisadora da AI sobre a Síria, Diana Semaan.
O governo alemão exigiu que o "regime de Assad interrompa imediatamente o massacre em Ghouta e permita a entrada de ajuda humanitária e a saída para atendimento médico" e que "os apoiadores do regime de Assad usem sua forte influência para alcançar esse fim".
O Kremlin negou qualquer envolvimento nos ataques e afirmou que as acusações são infundadas.
"Qual o crime dela?"
O hospital em Douma, a maior cidade localizada em Ghouta Oriental, ainda está em funcionamento, mas o influxo de feridos é tamanho que médicos e enfermeiros não podem salvar todos. "Recebemos uma mãe ontem que foi retirada dos escombros. Ela estava grávida de seis meses e gravemente ferida", disse uma enfermeira cirúrgica. "Fizemos uma cesariana, mas não conseguimos salvar nem ela nem o bebê."
Próximo dela, um homem expressou sua raiva depois de levar o corpo da filha de seus vizinhos – recuperado dos escombros de sua casa – para o necrotério. "Que crime essa garota cometeu? Qual o crime dela?", gritou.
O chefe do Observatório Sírio de Direitos Humanos, Rami Abdel Rahman, disse que ao menos 67 crianças estão entre as 274 pessoas mortas contabilizadas nos ataques aéreos desde domingo. O derramamento de sangue levou o Unicef a emitir uma declaração em branco apenas com o seguinte título: "Não temos mais palavras para descrever o sofrimento das crianças".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou estar "profundamente alarmado" pelo vertiginoso aumento da violência. A porta-voz do Departamento de Estados dos EUA, Heather Nauert, criticou as "táticas de cerco e fome" do regime de Assad e apelou que o "fim da violência deve começar agora".
Ghouta Oriental é o lar de mais de 400 mil pessoas que vivem sob cerco devastador, com acesso restrito a alimentos ou serviços básicos. Grupos contrários ao regime de Damasco, principalmente facções islâmicas, controlam a área desde 2012. Como o chamado "califado" da organização extremista "Estado Islâmico" (EI) praticamente foi erradicado do mapa, o regime sírio redireciona suas forças para atacar os inimigos restantes.
Preparativos para ofensiva terrestre
Nos últimos dias, forças governamentais têm se espalhado em torno de Ghouta Oriental, aparentemente se preparando para uma ofensiva terrestre. "Há tempos tememos que Ghouta Oriental vivenciará uma repetição das cenas terríveis observadas pelo mundo durante a queda do leste de Aleppo. E estes temores parecem justificados", disse Mark Schnellbächer, chefe regional do Comitê Internacional de Resgate.
A batalha, na qual as forças do governo de Damasco recuperaram a segunda maior cidade da Síria das mãos dos rebeldes em 2016, provocou grandes destruições e sofrimentos, que levaram a comparações com a devastação registradas em Stalingrado e no Gueto de Varsóvia, na Segunda Guerra Mundial.
O regime de Assad também busca recuperar controle em outras áreas no norte do país, incluindo a província de Idlib, a última que permanece em grande parte fora de seu controle. Na terça-feira, forças do governo se posicionaram na região de Afrin, um enclave curdo ao longo da fronteira do norte da Síria com a Turquia. Forças curdas pediram ajuda a Damasco, após uma série de ofensivas turcas na região.
PV/afp/ap/dpa/ots
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