Alemão retrata Irã além de ameaça nuclear e terrorismo
5 de agosto de 2012Quando o alemão Benedikt Fuhrmann deixou sua cidade natal, Bad Tölz, com um amigo, num carro transformado em casa, a ideia era rumar para o Vietnã. Equipado com gravadores e câmeras, o fotógrafo e cineasta pretendia seguir a Rota da Seda, histórico roteiro comercial entre Ocidente e Oriente.
Mas os planos mudaram quando os dois alemães tiveram que atravessar a primeira verdadeira fronteira do trajeto, entre a Turquia e o Irã. "O primeiro contato com os iranianos foi com um funcionário da alfândega na fronteira, e eu fiquei com medo que ele confiscasse meu equipamento de filmagem", relata Fuhrmann.
Dez minutos mais tarde, o medo tinha passado, diluído na xícara de chá tomada na companhia do funcionário, feliz pela aparição de um carro alemão na fronteira. Foi então que o fotógrafo de 35 anos teve certeza de que precisava conhecer o Irã mais de perto. O resultado pode ser apreciado na igreja Sankt Maximilian Kirche, em Munique, até 12 de agosto.
Mergulho no Irã
Durante um ano, Fuhrmann cruzou o país de carro, percorrendo mais de 70 mil quilômetros. Ele mergulhou na vida agitada da capital Teerã, com seus 15 milhões de habitantes, desfrutou da hospitalidade dos nômades nas montanhas, e em pequenas vilas de pescadores à beira mar. A única coisa de que não gostou foi que o fársi que aprendera a falar em Teerã era inútil em alguns vilarejos.
Após três meses esperando por um visto de imprensa e diante da deportação iminente, o cineasta recebeu permissão para filmar e fotografar no país. Mas isso não significa que tudo decorreu sem percalços, a partir de então.
"Fui algumas vezes para a cadeia, por estar em áreas aonde jornalistas raramente vão. Eles não sabiam o que era uma carteira de jornalista. Então, me levavam por precaução para a cadeia." Mas ele logo era liberado.
Ao contrário de alguns funcionários do governo, os iranianos em geral nunca o tratavam com desconfiança. "Quando alguém diz ser alemão no Irã, não se escuta nada de negativo", diz Fuhrmann. As pessoas associam à Alemanha futebol, tecnologia e produtos de qualidade.
Resistência inicial
De volta ao país natal, Fuhrmann queria apresentar suas impressões sobre o Irã e seu povo, numa exposição multimídia intitulada "Servus e Salam" – alusão às fórmulas de saudação bávara e iraniana. Mas a busca por patrocinadores e espaços mostrou-se difícil. Assim que falava sobre o projeto, ele percebia certo medo "de bombas atômicas, terroristas, do presidente Mahmud Ahmadinejad e do Islã".
Mas as inúmeras rejeições deram mais força a Fuhrmann. Finalmente ele conseguiu o apoio de Rainer Maria Schiessler, padre da Maximilian Kirche. Ele disponibilizou as instalações da igreja em Munique para a exposição, e na noite de abertura fez uma oração pela paz ao lado de representantes de diferentes religiões. Outros padres considerariam a ideia absurda, mas para Schiessler, era uma confirmação de que ele fizera "tudo certo".
Depois de Munique
Fuhrmann conseguiu arrecadar de doadores de todo o mundo mais de 50 mil euros para seu projeto, na internet e em redes sociais. A vernissage na Maximilian Kirche foi um sucesso, com muitos iranianos entre os numerosos visitantes.
"Foi muito emocionante quando uma mulher veio até mim e disse: 'Você me devolveu meu país'", conta o fotógrafo. Agora, ele pretende mostrar suas imagens do Irã em outros lugares, inclusive na israelense Tel Aviv. Ronny Edry, fundador da campanha "Israel ama o Irã" no Facebook, já aderiu à causa de Fuhrmann.
Autor: Samira Nikaeen (lpf)
Revisão: Augusto Valente