Punição dos franceses
15 de março de 2010O presidente da França, Nicolas Sarkozy, começou a semana sob o signo da derrota: nas eleições regionais do último domingo (14/03), seu partido, a União por um Movimento Popular (UMP), conseguiu apenas 26,18% dos votos.
Segundo resultados preliminares do Ministério francês do Interior, o Partido Socialista, de oposição, alcançou 29,48% nas urnas. O Europa Ecologia, também de esquerda, conseguiu 12,47%. Ao todo, os partidos de esquerda conquistaram 50% das urnas nesse primeiro turno de votação.
No outro extremo da escala política, o partido Frente Nacional (FN), de Jean-Marie Le Pen, de extrema direita, surpreendeu ao atingir 11,74% dos votos.
Pouco ânimo para votar
Os correligionários de Sarkozy tentaram minimizar a repercussão dos resultados das urnas, ressaltando o baixo índice de comparecimento. Dos 44 milhões de eleitores em potencial, 53,65% ficaram em casa, muito mais do que nas últimas eleições regionais, em 2004.
O primeiro-ministro François Fillon alegou que a alta abstenção "não permite que se tirem conclusões de importância nacional". E ressaltou: "Nada está decidido para o segundo turno".
Este transcorrerá no próximo domingo. Segundo observadores, há grandes chances de a esquerda vencer em todas as 22 regiões metropolitanas da França.
Sarkozy em baixa
O resultado deste primeiro turno está sendo interpretado como uma punição ou advertência ao presidente, partindo dos cidadãos que ainda tentam se recuperar da crise que deixou uma taxa recorde de desemprego. Estima-se que atualmente cerca de 3 milhões de pessoas – quase 10% da população economicamente ativa – estejam sem trabalho na França.
O recente debate sobre a identidade nacional francesa, levantado por Sarkozy, também pode ter influenciado os eleitores. "O UMP tentou, por meio do debate sobre a identidade nacional, tirar votos da FN", porém tiro saiu pela culatra, avalia Wolfram Voger, do Instituto Franco-Alemão em Ludwigsburg.
Nesse contexto, a figura do nacional-populista Le Pen ganhou destaque: "A Frente Nacional foi declarada pelo presidente como derrotada, morta, enterrada. [Este resultado] mostra que ela ainda é uma força nacional, e provavelmente destinada a ficar cada vez maior", comemorou o político de 81 anos.
Uma pesquisa do Instituto CSA mostrou que um terço dos que votaram o fizeram para protestar contra a política de Sarkozy. Do mesmo modo, 29% das abstenções foram uma forma de expressar insatisfação com o governo.
NP/dpa/afp
Revisão: Augusto Valente