Funcionário da Foxconn denuncia condições exploratórias de trabalho
18 de setembro de 2012Deutsche Welle: Em março de 2012, o novo diretor-executivo da Apple Tim Cook declarou luta contra horas extras ilegais nas fábricas de seus fornecedores. Na época, ele prometeu elevar o padrão de vida dos trabalhadores. Há alguns dias, um jornalista de Xangai reportou sobre as más condições de trabalho e horas extras ilegais. Essas informações estão corretas?
Funcionário da Foxconn: Sim, trabalhamos duro aqui. O trabalho exige muito e o nível salarial é baixo. Eu próprio tenho que trabalhar, algumas vezes durante turnos noturnos, sete horas sem pausa. A pressão é muito grande e meu salário mensal é de 1.550 yuans (aproximadamente 190 euros), cerca de um euro por hora de trabalho.
Mesmo com as horas extras, o meu ganho mensal é muito baixo, porque o custo de vida sobe constantemente. Além disso, a fábrica é muito rígida com os empregados. Quem faz um bom trabalho não tem nenhum reconhecimento. Quem não faz um trabalho bom é criticado. Isso é muito estressante.
Você disse que a fábrica é muito rígida com os empregados. Você poderia explicar com mais detalhes?
Nosso chefe só exige obediência, somos como máquinas, a fábrica quer nos controlar. Há até um slogan na Foxconn: "Fora do laboratório não há alta tecnologia, o que prevalece é a obediência e a disciplina".
Onde você ouviu esse slogan?
Está pendurado na parede como um slogan, trata-se de uma espécie de "cultura corporativa". Os chefes sempre dizem que isso é bom, podemos ganhar mais dinheiro se formos obedientes. É dito para os novos funcionários: "Faça o que o supervisor do seu turno exigir e não seja renitente". Isso significa que não podemos expressar nossas próprias vontades. Por exemplo, não temos um horário estipulado para pausas. Só podemos fazer pausas se o supervisor do turno permitir.
Há alguns meses, quando o novo diretor-executivo da Apple Tim Cook visitou a China, a Foxconn anunciou que a carga de trabalho semanal seria de no máximo 49 horas, incluindo horas extras, e que esse limite seria rigorosamente cumprido. Isso foi implementado em sua fábrica?
Essas foram apenas belas palavras. Por ocasião do treinamento inicial, nos foi dito que teríamos uma pausa de dez minutos a cada duas horas, mas na realidade eu nunca vi isso acontecer. Disseram também que o turno noturno começaria às 20h e que três horas depois haveria uma pausa para refeição, mas a duração completa dessa pausa nunca foi cumprida a rigor.
Depois da refeição temos que trabalhar até às 7h sem pausa. São mais de sete horas seguidas, todas as noites. A lei trabalhista chinesa estipula que os empregados não podem fazer mais que 36 horas extras por mês. Mas aqui na fábrica, os empregados chegam a fazer mais de 80 horas extras por mês.
Mesmo assim você e seus colegas continuam trabalhando na empresa. Por quê?
Um colega mais experiente me disse uma vez que ninguém é forçado a ficar aqui. Se você reclama, vai muito provavelmente ganhar o título de "inconveniente" do supervisor do seu turno, mas mesmo ele não pode nos forçar a fazer algo contra a nossa vontade.
Mas quando o chefe aparece, ele faz ameaças. Ou ele tenta persuadir você com slogans do tipo: "Todos estamos aqui para ganhar dinheiro. Duas horas de trabalho significa um pouco mais de dinheiro", mas por duas horas extras eu ganho apenas 30 yuans, uma refeição já custa por volta de 20 yuans.
Com essa quantidade excessiva de horas extras, a Foxconn excedeu os limites legais. A empresa não tem medo que os empregados possam falar publicamente das más condições de trabalho?
Tenho a impressão de que a direção da Foxconn não se importa. Pelo contrário, a Foxconn recebe muito apoio do governo. Nos últimos anos a companhia aumentou muito a sua participação no mercado chinês. A Foxconn cria muitos empregos e paga muitos impostos, por isso o governo fecha os olhos. O diretor-executivo da Foxconn, Terry Gou, não faz disso um segredo. Ele disse que se as condições de trabalho na empresa fossem "problemáticas", a Foxconn já teria sido "destruída" e não teria tido a chance de se desenvolver tão rapidamente no mercado chinês.
Para proteger a fonte, a entrevista foi conduzida anonimamente. A DW conhece a identidade do funcionário da Foxconn.
Entrevista: Yanyan Han (mas)
Revisão: Carlos Albuquerque