1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
SociedadeJapão

Funeral de Shinzo Abe reúne milhares de pessoas em Tóquio

12 de julho de 2022

Presença de vice-presidente de Taiwan nas homenagens fúnebres causou desconforto com a China. Ex-primeiro ministro japonês foi morto a tiros em um evento de campanha na sexta-feira.

https://p.dw.com/p/4E1lb
Pessoas olham para uma foto de Abe
Cerimônia fúnebre foi privada, mas japoneses puderam prestar homenagens do lado de fora do temploFoto: Kim Kyung-Hoon/REUTERS

O funeral do ex-primeiro ministro do Japão Shinzo Abe reuniu milhares de pessoas nesta terça-feira (12/07)  em frente ao templo budista Zojoji, em Tóquio, onde familiares e amigos próximos se despediram do ex-premiê assassinado na sexta-feira.

Desde o início do dia, milhares de pessoas se reuniram no exterior do templo para prestar homenagens e deixar flores em um altar, montado numa área do recinto aberta ao público, com fotos sorridentes de Abe.

Um forte esquema policial foi montado nas proximidades do templo para garantir a segurança. O fluxo superou em muito o de segunda-feira, quando cerca de 2,5 mil pessoas se deslocaram ao velório do ex-líder japonês, incluindo figuras públicas e diplomatas de vários países.

O ministro das Relações Exteriores do Japão, Yoshimasa Hayashi, disse que mais de 1,7 mil mensagens de condolências foram recebidas de 259 países, territórios e organizações internacionais.

Enquanto as pessoas se aglomeravam do lado de fora, no interior ocorreu o funeral de rito budista, de forma privada. Entre os presentes, estavam a viúva de Abe, Akie, o atual primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, e o secretário-geral do Partido Liberal Democrático, Toshimitsu Motegi.

Cortejo pelas ruas de Tóquio

Após a cerimônia, o caixão foi selado e levado para cremação. No caminho para o crematório, centenas de pessoas alinharam-se nos passeios do lado de fora do templo, esperando a passagem do cortejo. No trajeto, o carro fúnebre passou por alguns locais representativos na vida de Abe, como a principal sede política de Tóquio - Nagata-cho -, onde o ex-primeiro ministro trabalhou por mais de três décadas.

Além do ato fúnebre desta terça-feira, as autoridades japonesas planejam uma homenagem pública ao ex-primeiro-ministro, em data e local ainda a serem determinados.

Na segunda-feira, o governo do Japão anunciou que irá conceder a Abe o título póstumo do Colar da Ordem do Crisântemo, a mais alta condecoração do país. Abe foi o primeiro-ministro nipônico que mais tempo se manteve no cargo, com um mandato iniciado em 2006 e outro entre 2012 e 2020.

Shinzo Abe morreu na sexta-feira depois de ter sido atingido a tiros num comício eleitoral em Nara, no oeste do Japão. O político de 67 anos foi atingido pelas costas quando fazia um discurso na rua antes das eleições parlamentares que decorreram no domingo passado e consolidaram o partido do ex-premiê no poder.

Carro fúnebre passa por uma rua, enquanto muitas pessoas na calçada observam.
Centenas de pessoas aguardaram a passagem do cortejo fúnebre em direção ao crematórioFoto: Issei Kato/REUTERS

China causa desconforto

A presença do vice-presidente de Taiwan em um memorial organizado em honra a Abe não agradou a China, que apresentou um protesto formal ao Japão.

O porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China Wang Wenbin disse que as autoridades de Taiwan "agarraram a oportunidade para fazer manipulação política" e que Pequim "apresentou graves protestos ao Japão, em Pequim e em Tóquio, e deixou clara a sua posição".

"O seu esquema político nunca poderá ter sucesso", disse Wang, em uma coletiva de imprensa.

O vice-presidente de Taiwan, Lai Ching-te, prestou homenagem na residência de Abe, em Tóquio, na segunda-feira. Mais tarde, Lai foi fotografado a deixar o templo Zojoji, no centro da capital japonesa, onde ocorreu o funeral de Abe.

Lai é o mais alto funcionário de Taiwan a visitar o Japão desde que Tóquio cortou relações diplomáticas formais com Taipé, em 1972, e restabeleceu relações com Pequim.

A China reivindica Taiwan como uma província separatista a ser reunificada – se preciso pela força - e opõe-se a qualquer atividade da ilha enquanto entidade política independente.

Abe era um forte defensor de Taiwan, que foi uma colônia japonesa por 50 anos, e onde o sentimento público favorece fortemente Tóquio.

China e Taiwan vivem como dois territórios autônomos desde 1949, quando o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha depois da derrota na guerra civil frente aos comunistas.

Em 2021, depois de renunciar ao cargo de primeiro-ministro, Abe irritou Pequim com um discurso no qual sinalizou forte apoio a Taiwan e afirmou que "a aventura militar [chinesa] levaria ao suicídio econômico".

O ministro das Relações Exteriores do Japão, Yoshimasa Hayashi, disse que Lai viajou a Tóquio em caráter privado e que não houve mudança na política japonesa sobre relações de trabalho não-governamentais com Taiwan.

Pessoas prestam homanegens em frente a uma foto de Abe
Altar foi montado do lado de fora do templo onde ocorreu o funeral, para que japoneses pudessem fazer suas homenagensFoto: Yoshitaka Nishi/Yomiuri Shimbun/AP Photo/picture alliance

Suspeito teria planejado ataque por meses

A polícia acredita que o suspeito de ter assassinado Abe começou a planear o ataque contra o ex-primeiro-ministro japonês no outono europeu passado.

As autoridades acreditam que o suspeito decidiu tentar matar Abe depois de ver uma mensagem de vídeo, em setembro do ano passado, gravada pelo ex-premiê para uma organização afiliada à Igreja da Unificação, que o suposto assassino "odiava", segundo detalhes revelados pela mídia japonesa.

O detido, Tetsuya Yamagami, confessou à polícia que atacou Abe por causa das suas supostas ligações com uma organização religiosa que lhe causou problemas familiares.

A filial japonesa da Igreja da Unificação já tinha confirmado que a mãe de Yamagami era membro do grupo e não quis comentar as supostas doações que a mulher teria feito à organização e que teriam levado a família à falência, de acordo com a história contada pelo detido.

O comício da passada sexta-feira ocorreu na rua, em frente a uma estação e com um forte esquema de segurança, mas sem qualquer separação física entre o político e os cidadãos, algo comum em eventos deste tipo no Japão.

Yamagami foi ao local uma hora e meia antes do ataque, segundo imagens captadas pelas câmaras de segurança, aparentemente em busca de uma posição ideal para por em prática o plano.

Com uma arma semelhante a uma espingarda caseira, ele aproximou-se de Abe por trás e disparou uma primeira vez a uma distância de sete metros e, uma segunda, a cinco metros.

A arma do crime consistia em dois tubos de metal fixados com fita adesiva e montados num painel de madeira. Era capaz de lançar até seis projéteis a cada disparo, o que lhe conferia maior precisão e letalidade, segundo o próprio atacante.

Yamagami recebeu treino em montagem e uso de armas de fogo quando trabalhou para as Forças de Autodefesa Marítima do Japão (Exército), entre 2002 e 2005, e começou a fabricar as próprias armas há cerca de um ano, inspirado em vídeos da internet.

le (Lusa, AP, AFP)