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Balanço de Davos

31 de janeiro de 2010

Em Davos, os banqueiros tiveram uma missão clara: fazer frente à forte regulação do setor financeiro, o que conseguiram somente em parte. Na Europa e nos EUA, políticos não querem mais a manutenção das tendências atuais.

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Sarkozy diz em Davos que capitalismo financeiro é anomaliaFoto: AP

O Fórum Econômico Mundial, que se encerrou neste domingo (31/01) na cidade suíça de Davos, é o clube de discussões mais caro do mundo. – muitas palavras, poucos resultados. É assim que acontece normalmente na exclusiva estação de esqui dos Alpes suíços.

No entanto, os banqueiros que viajaram para Davos neste ano tiveram uma clara missão: fazer frente à forte regulação do setor financeiro. O tema veio à tona em quase todos os pódios de discussão onde estivesse presente algum banqueiro.

O tom das declarações foi sempre o mesmo: "Nós não acreditamos que seja aconselhável sempre vir com novas ideias de regulações, novos impostos, novas sugestões", disse o presidente do Deutsche Bank, Joseph Ackermann. Segundo o chefe do maior banco alemão, isso não traria mais, mas menos segurança e prejudicaria a estabilização do setor financeiro.

As palavras de Ackermann se dirigiram a alguém que nem mesmo teve que viajar à Suíça para dominar o Fórum: Barack Obama. Há cerca de uma semana, o presidente norte-americano foi o primeiro chefe de Estado a vir com um conceito radical para a regulação do mundo financeiro. Obama quer dividir grandes bancos e proibir negócios lucrativos por conta própria. Desta vez, os banqueiros temem que, após o anúncio, venha a legislação.

Lobby no lobby do Hotel

Em numerosas conversas de bastidores com políticos das áreas de finanças e economia em lobbies de hotéis, os banqueiros tentaram evitar em Davos o que seria, em sua opinião, o pior. Para escapar da redução obrigatória do tamanho de suas instituições, alguns banqueiros se mostraram até mesmo dispostos a concessões insólitas.

"Tanto os banqueiros quanto os políticos, nós estamos de acordo que devemos atuar no estabelecimento de um fundo de segurança para bancos, em nível nacional e europeu", afirmou Ackermann, acrescendo que estaria disposto até mesmo a conversar sobre o tema "bastante emotivo" da remuneração de executivos. "Nós já modificamos a estrutura salarial, mas não o teto máximo – nós vamos trabalhar nessa empreitada e fazer uma proposta."

Entre si, todavia, os banqueiros estão longe de um consenso, como sugere o presidente do Deutsche Bank. Isso também ficou claro em Davos. Alguns grandes bancos de investimento norte-americanos pretendem lutar, com todos os meios, contra qualquer limitação adicional de suas possibilidades. Há muito que algumas instituições financeiras europeias deixaram de lado a resistência.

Regras internacionais ou cada um por si?

Schweiz Davos Weltwirtschaftsforum Josef Ackermann
Para Ackermann, muita regulação traz menos segurançaFoto: AP

Essa discordância existe também entre os governos do mundo. Mas a legislação para a regulação dos bancos deve ser mundial? Ou bastaria que cada Estado fizesse alguma coisa por si só?

Isso foi também um tema constante de discussão em Davos. Quanto a isso, o prêmio Nobel de Economia Joseph Stieglitz tem uma posição clara: é possível se dizer que um acordo global seja melhor, "mas a minha preocupação é que os americanos digam que os europeus devam dar o pontapé inicial e que os europeus falem que agora é a vez dos americanos".

Os banqueiros adoram isso, disse Stieglitz. Pois eles sabem que dessa forma nunca haverá consenso, não havendo, então, uma regulação. "Por isso, nós devemos começar em nível nacional. Cada Estado tem a responsabilidade de proteger seus cidadãos e sua economia."

O grande todo, explica Sarkozy

Weltwirtschaftsforum Davos / Halbvolles Glas
Em breve, alguns bancos irão enfrentar problema de pessoalFoto: AP

Nesse ponto, o que está em jogo é muito mais que somente os bancos. Trata-se da nossa forma de operar economicamente. Em Davos, o homem para tão grandes palavras foi Nicolas Sarkozy. Ele reivindicou nada menos que o retorno da moral ao nosso sistema econômico. "Não se trata de abolir o capitalismo, mas nós devemos decidir que tipo de capitalismo almejamos". Atualmente, o mundo vivencia o desmascaramento do capitalismo, segundo ele. "O capitalismo é baseado em valores. O capitalismo financeiro é uma anomalia que desrespeita os valores do capitalismo", disse Sarkozy.

Os altos executivos de bancos presentes na plateia não gostaram do que escutaram. Apesar de toda a crítica, a crise financeira e as repetidas críticas aos banqueiros tiveram um aspecto positivo, diz o prêmio Nobel Stieglitz. "Meus alunos se interessaram de forma desproporcional pela área de economia financeira – ninguém se interessa pelas outras áreas. O bom da crise financeira é que pelo menos esse problema está resolvido."

Em breve, alguns bancos também terão alguns problemas de pessoal para resolver. Pois no ano 2 depois do grande crash, os cidadãos não querem mais aceitar a manutenção das tendências atuais – os banqueiros em Davos entenderam esse recado.

Autor: Manfred Götzke (ca)
Revisão: Marcio Damasceno