Fórum Social Mundial chega ao "berço" da Primavera Árabe
26 de março de 2013Com o lema "Dignidade", o 11º Fórum Social Mundial (FSM) começa nesta terça-feira (26/03) em Túnis, capital da Tunísia. O lema deste ano remete à luta do povo tunisiano, que há dois anos gritava nas ruas do país por trabalho, liberdade e dignidade.
"Depois de uma revolução, certamente o FSM tem uma grande importância", afirma Mouhieddine Cherbib, membro do comitê organizador. Discutir questões essenciais envolvendo justiça social, economia e segurança local em nível mundial é algo muito importante, afirma. Essas discussões não seriam possíveis sob o regime ditatorial de Zine Abidine Ben Ali.
"Imagine quantas vezes um trabalhador de Redeyef (região mineradora no sudoeste do país) teve a oportunidade de se encontrar com colegas da Alemanha, da França, da Bélgica ou da Mongólia. O que antes era inimaginável, hoje é possível, e é esse o objetivo do FSM", disse Cherbib. Segundo ele, as questões levantadas no FSM são as mesmas que estão no centro dos debates sobre justiça e democracia na Tunísia.
O Fórum Social Mundial foi criado em 2001 como contraponto ao Fórum Econômico Mundial, que acontece todos os anos em Davos, na Suíça. A primeira edição do FSM ocorreu em Porto Alegre.
Grandes expectativas
Até o final desta semana, cerca de três mil workshops, manifestações e shows acontecerão no campus da Universidade de Túnis. Os organizadores esperam a participação de 4.500 organizações, reunindo até 50 mil participantes de todo o mundo, que discutirão temas como globalização, trabalho, direitos das mulheres e meio ambiente. Para o primeiro dia do evento estão planejadas uma assembleia de mulheres e uma grande manifestação pelo centro da capital tunisiana.
Mesmo não havendo uma ênfase especial no mundo árabe, muitos tunisianos têm esperanças que o fórum seja um impulso para a democracia no país. A Tunísia luta contra extremistas e a crescente crise econômica. "Nosso processo democrático está progredindo lentamente, espero que o fórum possa contribuir para fazê-lo avançar", disse Cherbib.
Logística problemática
A ativista dos direitos das mulheres Halima Jouini engajou-se nos preparativos para o Fórum Social Mundial com o objetivo de intensificar o processo de transformação na Tunísia. "Queremos mudanças: mais justiça social, igualdade entre homens e mulheres e democracia", disse a ativista, que reforçou que a Tunísia nunca mais deve viver sob uma ditadura. "Esperamos que o fórum dê fôlego para continuarmos com a luta pela democracia e participação popular no governo", completou.
Essa é a primeira vez que a Tunísia recebe um evento de grande porte e os organizadores estão lutando contra uma série de problemas de logística. Parte do orçamento, de meio milhão de euros, prometido pelo governo e por doadores internacionais, ainda não foi pago. A acomodação para os participantes de países em desenvolvimento, que não podem pagar por um quarto de hotel, mostrou ser um grande desafio. Uma coisa, no entanto, funcionou a favor dos organizadores: a greve de três dias planejada pelos funcionários do aeroporto foi cancelada no último momento.