Föhr, a ilha verde no Mar do Norte
2 de julho de 2005"Hoje o tempo está bom, ou seja, o que as pessoas consideram bom. Está fazendo sol. No mais, o forte vento impede as pessoas de passear pela praia e as obriga a andar rente às casas. A vista da minha janela é sempre encantadora: as ondas trazendo a espuma até a margem, os barcos, as gaivotas dançando sobre a água e inúmeras crianças com capuzes vermelhos e brancos construindo castelos de areia."
"Está sendo uma estadia muito agradável, nada de feio ou irritante. Só o tempo mesmo é que resolveu me contrariar..." Foi assim que o escritor realista alemão Theodor Fontane descreveu a ilha de Föhr, no Mar do Norte, à sua mulher, Emilie, numa carta datada de 27 de agosto de 1891.
À mercê do vento e da maré
Ou seja, já naquela época, mesmo em pleno verão, a única coisa a se reclamar do Mar do Norte era o tempo. De fato, independentemente da estação, o vento é uma constante no arquipélago das ilhas frísias, bastante expostas à ação eólica e marítima. Se não fossem os diques, as ilhas – que mais se assemelham a bancos de areia à mercê da maré – não seriam habitáveis.
Föhr é a ilha mais discreta das ilhas frísias do norte: menos pitoresca e turística que Sylt, a chamada "pérola do Mar do Norte", e menos idílica que Amrum, com suas amplas dunas e imensas praias. Föhr é considerada ideal para famílias com filhos pequenos, pois a ilha praticamente não tem mar aberto, por causa de sua proximidade do continente e de sua localização entre Sylt e Amrum.
Travessia do mar, a pé
Apesar de não ser nada para surfistas (a não ser windsurfistas, que sempre podem contar com o vento), Föhr oferece um outro programa, justamente por estar tão longe do alto-mar: uma longa caminhada pelo estuário até o continente ou até a ilha de Amrum. Quando a maré baixa, é possível percorrer os bancos de areia cobertos de água durante a maré cheia. O importante é se munir de galochas e ter um guia que conheça bem os itinerários, pois não é de se subestimar o risco de ser surpreendido pela maré cheia no meio do caminho.
Por ser menos exposta à erosão que as vizinhas, Föhr é uma das ilhas mais verdes do arquipélago. A agricultura também desempenha um papel econômico relevante, o que torna o ambiente menos turístico e mais "autêntico". Além da cidade de Wyk, onde se localiza o porto, Föhr tem 16 vilarejos originariamente rurais, cujas casas foram sendo compradas nas últimas décadas, sobretudo por alemães de Hamburgo.
Casa frísia, telhado de junco
Os novos moradores se preocuparam de forma geral em manter a arquitetura original. As casas de fazenda, que originariamente incluíam moradia e estábulo em um único edifício, foram mantidas no formato original. Verdadeiramente típico é o telhado das casas frísias, feito de feixes de junco, como as casas dinamarquesas. Aliás, a Frísia do Norte é, em parte, alemã, e em parte, dinamarquesa.
Assim como nas demais ilhas frísias, a melhor forma de explorar Föhr é de bicicleta. A proximidade dos vilarejos permite que os ciclistas percorram a ilha toda, fazendo pausas de descanso e intervalos para refeições em cenários idílicos. Uma bebida típica é o chá frísio, uma mistura de diversos tipos de chá preto (assam, darjeeling, ceilão), a ser preparado com pedrinhas de açúcar e um pouco de creme de leite.
Vida e morte, por escrito
Uma absoluta peculiaridade cultural de Föhr é o cemitério da Igreja de São Lourenço, na vila de Süderende. Suas lápides não contêm apenas nomes e datas de nascimento e morte, mas também longas descrições biográficas. A mais famosa delas é a do capitão Matthias Petersen, nascido em 24 de dezembro de 1632 e morto em 16 de setembro de 1706: "Ele sabia navegar bem até a Groenlândia, onde caçou 373 baleias com êxito, o que o levou a ser denominado – com o reconhecimento de todos – 'O Felizardo'".
As vidas gravadas nas lápides revelam, em conjunto, a história de uma ilha exposta à ameaça de ventos e mares, como outras ilhas frísias, sempre prestes a ser sopradas para fora do mapa por uma tempestade.