Cúpula do G20 em Seul
10 de novembro de 2010As políticas cambiais e de comércio exterior das maiores potenciais econômicas mundiais estarão no centro dos debates da cúpula de dois dias do G20, que começa nesta quinta-feira (11/11) em Seul, na Coreia do Sul.
Participam do encontro na capital sul-coreana os principais líderes mundiais, entre eles os presidentes Barack Obama e Nicolas Sarkozy, a premiê Angela Merkel e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, também está em Seul.
Já nas conversações prévias, conduzidas por negociadores das 20 maiores economias do mundo, não se chegou a um consenso para resolver a chamada guerra cambial, assinalou nesta quarta-feira um porta-voz do comitê preparatório sul-coreano.
Ele descreveu os debates prévios, que começaram na segunda-feira, como acalorados e disse que até esta quarta-feira não havia sido possível estabelecer diretrizes para a elaboração de uma declaração final que proponha medidas para reduzir os desequilíbrios no câmbio das principais moedas e na balança comercial de nações como os EUA.
EUA: críticas aos países exportadores
Os desentendimentos entre Estados Unidos, União Europeia e os países do Bric ficaram novamente evidentes na véspera do encontro. Obama referiu-se indiretamente à Alemanha e à China ao defender que países com grandes superávits na balança comercial revisem suas políticas de comércio externo.
"Assim como os Estados Unidos mudaram muito, também o devem fazer aquelas economias que tenham previamente se apoiado nas exportações para compensar a debilidade da sua demanda interna", afirmou Obama em carta aos demais líderes do G20 divulgada logo após sua chegada a Seul, nesta quarta-feira.
O presidente negou que os Estados Unidos estejam manipulando o valor da sua moeda por meio da injeção de 600 bilhões de dólares na economia americana, anunciada na semana passada. "A solidez do dólar se sustenta em definitivo nos fortes fundamentos da economia americana", escreveu Obama.
Antes de partir para Seul, Merkel advertiu os EUA dos riscos que a política cambial americana estaria criando para a economia mundial. Ela se referia à compra de títulos públicos anunciada pelo Fed (Banco Central dos EUA), calculada em 600 bilhões de dólares.
Merkel disse que medidas como essa podem criar novas "bolhas" no mercado financeiro, pondo em risco toda a economia mundial. A premiê também descartou a proposta americana de criar limites para o saldo (positivo ou negativo) de uma nação no comércio externo, sugestão descartada por todos os membros do G20.
China: cada um deve resolver seus problemas
Em face às críticas à política cambial do país, o presidente da China, Hu Jintao, apelou aos demais países que assumam suas responsabilidades e enfrentem seus próprios problemas em vez de colocar a culpa de suas dificuldades econômicas no abismo entre nações superavitárias e deficitárias.
Em entrevista à agência de notícias oficial da China, Xinhua, Hu Jintao também defendeu o controverso controle estatal do yuan, a moeda chinesa. Há tempos os Estados Unidos acusam a China de manter o yuan desvalorizado para impulsionar as exportações chinesas.
Pouco antes do início do encontro foi divulgado que o superávit na balança comercial da China aumentou de 16,88 bilhões de dólares em setembro para 27,15 bilhões de dólares em outubro. Já o déficit americano deverá alcançar cerca de 45 bilhões de dólares em outubro.
Brasil: guerra cambial
O ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, disse em Seul que as reações negativas de vários países ao anúncio do Fed deverão levar Obama a fazer alterações. Segundo a Agência Brasil, Mantega voltou a criticar a injeção de dinheiro pelo Fed, que na visão dele pode agravar a crise mundial.
Na semana passada, Lula criticou as políticas cambiais dos EUA e da China, afirmando que os dois países estão fazendo uma guerra de divisas. "Os Estados Unidos necessitam reativar sua economia, e a China sabe que não pode manter sua moeda desvalorizada", afirmou.
Dilma, que estava ao lado de Lula, disse que o problema deve ser enfrentado por toda a comunidade internacional. "Todos os países que não são os Estados Unidos e a China se dão conta de que há uma guerra cambial no mundo. Esse é um problema que não será resolvido por cada país individualmente. A última vez que aconteceu algo parecido, isso resultou na Segunda Guerra Mundial", afirmou a presidente eleita.
AS/dpa/afp/abr
Revisão: Carlos Albuquerque