Comércio internacional
16 de abril de 2011Os líderes do G20 concordaram em supervisionar de perto as políticas econômicas de sete das maiores economias do mundo, como parte de um plano para prevenir novas crises financeiras globais. A decisão foi tomada nesta sexta-feira (15/04), durante reunião dos ministros das Finanças do grupo em Washington.
O pacto foi acertado entre as 20 maiores economias do mundo após meses de disputas, alimentadas principalmente pelo temor da China de que o acordo mirasse sua política de controle do câmbio.
Pelo acordo, o FMI (Fundo Monetário Internacional) vai observar uma série de indicadores econômicos e financeiros, como endividamento, déficit orçamentário e balança comercial, para determinar se as políticas adotadas por um país estão pondo em risco a economia global. Se este for o caso, o FMI proporá mudanças, mas nenhum país será obrigado a seguir essas recomendações.
EUA e China na mira
Segundo a ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, as sete maiores economias do mundo estarão automaticamente sujeitas à medida. Nada impede, porém, que outros países também sejam observados, caso haja o temor de que as políticas por eles adotadas ponham em risco a economia mundial.
Países cujo PIB (Produto Interno Bruto) representa mais de 5% do total produzido pelo G20 fazem parte do grupo a ser supervisionado. A declaração final do G20 não cita nominalmente esses países, mas os Estados Unidos – país com o maior déficit comercial – e a China – maior exportador – certamente fazem parte do grupo, pois estão no centro dos debates sobre o desequilíbrio no comércio mundial.
Segundo negociadores que participaram do encontro em Washington, Alemanha, Japão, Reino Unido, França e Índia completariam a lista.
Muitos economistas afirmam que o desequilíbrio no comércio global – principalmente o crônico déficit na balança comercial dos Estados Unidos e o enorme superávit da China – estão entre as origens da recente crise financeira e econômica mundial, que resultou na pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial.
Controle de fluxos de capital em debate
Os negociadores também concordaram em continuar as discussões sobre normas de controle de fluxos de capital – ponto sensível para as nações emergentes como o Brasil, que tentam combater uma inflação alimentada também pelo dinheiro evadido de países com baixas taxas de juros, como os Estados Unidos.
O Brasil resiste aos esforços para restringir o uso de medidas de controle de capital. "Não queremos que os elevados níveis globais de liquidez gerem problemas para a economia brasileira", afirmou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
Negociadores das nações industrializadas argumentam que os emergentes podem controlar os fluxos de capital e a inflação simplesmente permitindo que as suas moedas se fortaleçam em relação ao dólar. Se a China fizesse isso, ajudaria também a equilibrar o comércio mundial, afirmam.
Na visão dos emergentes, o problema são as baixas taxas de juros nos países industrializados. Elas fazem com que os investidores levem o dinheiro dessas economias para as emergentes, em busca de melhor remuneração.
O Brasil tem adotado medidas de controle de fluxos de capital. Em 2010, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o dinheiro que entra no país em investimentos de curto prazo foi elevado para 6%.
Câmbio flutuante para todos
Ao final do encontro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu que todos os países do G20 deixem flutuar livremente as respectivas moedas para estabilizar o sistema monetário internacional. "Minha sugestão é uma homogeneização, de modo que todos adotemos o câmbio flutuante", disse Mantega em entrevista coletiva para a imprensa.
"Creio que a proposta foi bem recebida pelo G20", comentou o ministro brasileiro ao salientar que esse sistema de flutuação "pode não ser puro, pode ter limitações", sem dar mais detalhes. Para Mantega, a grande vantagem do sistema que surgiu no final da Segunda Guerra Mundial era que todas as nações tinham um câmbio fixo.
"Todo o mundo tinha uma taxa de câmbio fixa, portanto as disparidades dos fluxos de capital eram menores", afirmou, salientando que o mundo avança agora no sentido de um sistema de câmbio flutuante. Questionado sobre a reação da China à proposta, Mantega assegurou que esta não foi negativa. "A China deveria adotar um sistema de câmbio flutuante", disse o ministro brasileiro.
"Nas condições atuais não há câmbio flutuante, há manipulação, temos de ter restrições de capitais, mas se todos seguirmos no sentido de um câmbio flexível, então não precisaremos fazer controle de capital, porque haverá menos capitais", sustentou.
AS/rtr/lusa/afp
Revisão: Augusto Valente