Gasoduto subaquático unirá Alemanha e Rússia
8 de setembro de 2005O gasoduto que vai percorrer 1200 quilômetros no Norte da Europa, das fontes de gás natural da Sibéria aos centros de consumo na Alemanha, pode começar a sair do papel já nos próximos meses. A empresa russa de energia Gazprom e empresas da Alemanha como Basf e EON fecharam um contrato para iniciar a construção da obra.
O documento foi assinado nesta quinta-feira (08/09) em uma cerimônia que contou com a presença do chanceler federal da Alemanha, Gerhard Schröder, e do presidente russo, Vladmir Putin. "Hoje é realmente um dia histórico", afirmou Schröder. "Estou muito grato por essa cooperação estratégica entre a Alemanha e a Rússia."
O projeto servirá para diminuir a dependência alemã do petróleo, além de solidificar a amizade entre os dois políticos. Putin, que viveu na Alemanha Oriental, faz questão de falar alemão ao conversar com Schröder. Segundo comentários, os dois são amigos próximos e se tratam mutuamente por du (você).
Uma prova dessa proximidade é o fato de a cerimônia de assinatura do contrato do gasoduto, prevista para outubro, ter sido adiantada de modo a ajudar a campanha do chanceler à reeleição, no pleito que acontece no próximo dia 18. Afinal, o novo gasoduto resolverá um problema que preocupa muito a Alemanha, onde três quartos das residências têm aquecimento a gás. Além disso, trocar petróleo por gás natural, considerada uma fonte de energia limpa, agrada os eleitores preocupados com questões ambientais.
A Agência Internacional de Energia (AIE), apesar de considerar a redução da dependência alemã do óleo um fator positivo, adverte que a estratégia de se tornar mais dependente do gás russo pode ser um problema em caso de discordâncias diplomáticas entre as duas nações.
Também no Brasil
O Brasil também fez um acordo para comprar gás da Bolívia, que tem grandes reservas do produto. Entretanto, como o contrato foi firmado em dólar, o produto trazido da Bolívia se revelou caro demais para os consumidores brasileiros. Por isso, o projeto ainda não foi totalmente completado. Nos últimos anos, a Petrobrás encontrou várias fontes de gás natural em território nacional, que teria custo mais baixo que o trazido do país vizinho.
Os tubos do gasoduto serão construídos sob o oceano, passando pelos mares territoriais da Polônia e pelos países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia), que reclamaram por não terem sido consultados. Marek Belka, primeiro-ministro da Polônia, disse na última terça-feira (06/09) que o gasoduto foi uma forma de Vladimir Putin mostrar poder. "Nós não estamos felizes com essa situação. É um grande problema que teremos de acompanhar", disse ele, referindo-se aos perigos de vazamentos nos balneários turísticos de seu país.
O presidente polonês, Aleksander Kwasniewski, disse na quarta-feira (07/09) que espera que a líder conservadora Angela Merkel (CSU), que lidera as pesquisas para a eleição alemã, coloque fim ao projeto caso seja eleita. O principal assessor de Merkel para questões de política externa, Wolfgang Schäuble, é um crítico severo do gasoduto e disse que o fato de a Polônia e os países bálticos não terem sido incluídos em sua concepção "é um desastre".
Custos e críticas
A perspectiva é de que a obra, que vai custar 4 bilhões de euros (cerca de 12 bilhões de reais), fique pronta até 2010. A nova plataforma de transporte de gás, pela qual passarão 25 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, abastecerá cerca de um terço do consumo anual do produto na Alemanha.
Entretanto, o projeto não está livre de controvérsias: de acordo com especialistas, existem dois gasodutos terrestres entre Rússia e Alemanha que poderiam ter sua capacidade ampliada pela metade do custo da obra marítima.
Mas os dois países afirmam que a opção pelo gasoduto submarino foi uma forma de evitar problemas diplomáticos ainda maiores com países como Belarus, Eslováquia, Polônia e Ucrânia. "Quando se constrói um gasoduto embaixo d'água, não é necessário atravessar a fronteira de outros países", explicou Roland Götz, líder do grupo de pesquisa Rússia/CEI do Instituto de Ciência e Política de Berlim. Ele lembra que um gasoduto terrestre demandaria o pagamento de taxas de trânsito.
A Rússia, que tem grandes reservas de gás natural, pode lucrar ainda mais com o gasoduto. O contrato com a Alemanha prevê que o fornecimento pode ser elevado para 55 bilhões de metros cúbicos por ano. Alem do mais, já existe um estudo para se fazer um desvio na tubulação, o que permitiria ao país o fornecimento de gás natural também para a Grã-Bretanha. Com a futura extensão do projeto, a matéria-prima russa poderá chegar também a outros países da Europa Ocidental.