Gerhard Richter: do mistério da realidade
20 de outubro de 2005Gerhard Richter é o "artista vivo mais caro" do mundo, segundo constatou o Art Newspaper em março de 2002. Uma obra do artista alemão pode custar mais de nove milhões de dólares. A Sotheby leiloou seu quadro Drei Kerzen (Três Velas) por 4,9 milhões de dólares. Uma exposição sucede a outra, sem cessar. Richter não é somente o artista alemão vivo mais caro, mas também o mais conhecido.
Após uma série de projetos na Europa, ele conquistou os EUA em 2002, marcando presença na meca da arte contemporânea. O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) homenageou o artista alemão com uma abrangente retrospectiva, por ocasião de seu 70º aniversário. A exposição saiu em turnê na temporada de 2002/2003, sendo apresentada nos museus de Chicago, São Francisco e Washington.
Um cosmo próprio
É muito difícil dizer o que seria uma obra típica de Richter. Em 40 anos de criação, o estilo do artista mudou continuamente. Ele fez pop art, experimentou com fotorrealismo, provou a arte conceitual e minimalista e se entregou à pintura abstrata. Em determinados momentos, recusou a pintura e criou objetos, fotocolagens e instalações. Em toda tendência artística que se inseriu, Richter criou seu próprio cosmo.
Há o Richter fotorrealista de Emma – Akt auf einer Treppe (Emma – Nu na Escada), uma obra de 1966. Há as famosas tabelas de cores e a pintura cinza dos anos 70. Há o projeto fotográfico conceitual 48 Porträts (48 Retratos), dedicados aos humanistas do século 20. A trajetória artística de Richter não é linear, mas se bifurca, repleta de curvas. No entanto, apesar da diversidade de estilos, ele se mantém fiel a uma idéia. O "mistério da realidade" é o ponto de referência central da obra deste artista eclético.
Verdade in progress
Como a realidade encontra sua representação numa pintura? Até que ponto essa representação é adequada? Essas são as questões que movem Richter. Questões que não precisam necessariamente ser respondidas por um pintor clássico. Em busca da "verdade artística", Richter se envolveu com o hiper-realismo e a pintura expressiva, com a abstração policromática e a paisagem fotográfica realista, com a forma conceitual e os objetos minimalistas.
No início de sua carreira, participou de performances provocadoras da pop art. No ano de 1963, foi um dos mentores da intervenção Capitalismo Realista. Junto com o galerista Konrad Fischer-Lueg, ele se expôs como objeto na vitrine de uma loja de móveis de Düsseldorf. Posteriormente, dedicou-se à pintura, mas seu grande interesse pela fotografia não tardou a levá-lo a integrar as duas mídias
À procura da "verdade da imagem", Richter passou a criar em torno de seus primeiros trabalhos fotorrealistas uma aura fantasmática e misteriosa. Suas fotos desfocadas têm forte impacto.
Ao mesmo tempo, ele trabalhava na gigantesca obra conceitual Atlas: uma fotocolagem de imagens documentais, que une de forma bastante singular a ideologia socialista da antiga Alemanha Oriental, o universo dos valores ocidentais e lembranças pessoais do artista.
O processo é permanentemente atualizado como work in progress. Um projeto que pode ser lido como enciclopédia. Como uma enciclopédia que introduz o observador nos acontecimentos, motivos e elementos da arte de Gerhard Richter.
Nos anos 70, o artista começou a produzir painéis monocromáticos e objetos de vidro e espelhos, um procedimento presente em sua obra até hoje. Um exemplo disso é Acht Grau (Oito Cinza), um conjunto de oito imensas chapas de vidro esmaltadas de cinza no verso, superfícies que espelham tanto a realidade do espaço de exposição como o observador em seu trajeto pela mostra.
Nos anos 80, Richter passou a se dedicar cada vez mais à pintura abstrata, sem abandonar a variante fotorrealista. Isso resultou em obras abstratas de grande intensidade, espontaneidade e expressividade.
O edifício de Richter
A obra de Gerhard Richter se iguala a um edifício de diversos andares. Em cada um deles se passa algo diferente e ao mesmo tempo muito intenso. Contudo, o edifício de Richter tem uma "central": o próprio artista, que criou um mundo heterogêneo de imagens, ideologemas, estilos e técnicas, influenciando de forma essencial a arte moderna européia.