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A importância da internet para a democracia

Martin Muno (rc)30 de junho de 2014

Evento reúne nesta semana produtores de mídia, políticos e cientistas em Bonn, Alemanha. Na sessão de abertura, o satirista político egípcio Bassem Youssef falou sobre o temor como instrumento de opressão.

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Foto: DW/J. Kabir

Foi um apelo emocionado, em nome do humor, do riso, da sátira e, também, contra o medo: com palavras enfáticas, o satirista egípcio Bassem Youssef explicou nesta segunda-feira (30/06), primeiro dia do Global Media Forum, porque esse sentimento é tão ameaçador para a democracia e a liberdade.

"A arma mais potente dos poderosos é o medo. Ele nos intimida e nos priva de nosso bem mais precioso: nossa humanidade e dignidade", afirmou o também cirurgião cardíaco em Bonn, no evento promovido pela Deutsche Welle.

Youssef sabe bem do que está falando: ele foi acusado pela liderança política do Egito de ofender o presidente Mohammed Morsi (deposto em 2013) e de difamar o islamismo. Inicialmente, resistiu, porém há quatro semanas fez tirar do ar o programa de sátira política que o transformou numa celebridade no mundo árabe, e que também era transmitido pela TV Deutsche Welle.

O humorista comentou a própria decisão com seu habitual sarcasmo: "Vivemos nos anos mais maravilhosos da democracia no Egito – e quem não concordar, que se corte a língua dele."

"Quem ri não tem medo"

Para Youssef e seus colaboradores, o programa era muito mais do que uma produção televisiva. "Foi uma experiência humana. Aprendemos em primeira mão como a sátira pode ser importante em nossas vidas. Utilizamos humor, riso e música para promover a liberdade e a união, e para combater o fascismo religioso."

No Global Media Forum, o temor foi o foco de suas observações. "O medo é talvez a maior força motriz das massas. A história demonstrou isso, nas diferentes formas de fascismo. O medo é utilizado por todos: Estados democráticos, Estados autoritários e associações terroristas."

Assim, para os poderosos, a sátira é uma ameaça eminente. "Se você ri, não tem mais medo", afirmou Youssef, para quem a internet é um importante veículo de superação do temor: "Meu show não existe mais, mas na rede as ideias continuam vivendo." O campo da batalha entre o medo e a liberdade são os corações e mentes dos jovens que não querem mais se deixar oprimir. E como eles têm a possibilidade do intercâmbio na internet, a qualquer momento toda forma de fascismo será história, acredita Bassem Youssef.

GMF Global Media Forum 2014 Auftritt Bassem Youssef
Humorista político egípcio Bassem YoussefFoto: DW/K. Danetzki

Internet: faca de dois gumes

Antes da apresentação do médico-satirista egípcio no evento em Bonn, o recém-reeleito secretário-geral do Conselho Europeu, Thorbjörn Jagland, destacou os riscos e oportunidades oferecidos pela internet: "A rede conecta as pessoas, tanto globalmente quanto localmente. No entanto, isso também significa: quem não tem acesso à internet não tem chances de participar do processo político". Por esse motivo, as proibições às redes sociais Facebook e Twitter na Turquia representam graves ingerências no direito à liberdade, que os tribunais competentes tiveram razão em revogar, enfatizou Jagland.

Na abertura do Global Media Forum, o diretor-geral da Deutsche Welle, Peter Limbourg, confirmou: "A plataforma definitiva para informação e participação, nos dias de hoje, é a internet; uma invenção maravilhosa que tornou nossas vidas mais variadas, mais coloridas, mais ricas. Seu triunfo em escala global revolucionou a comunicação e a utilização das mídias. Ela é a espinha dorsal da globalização, abre chances para mais desenvolvimento, mais educação e participação social".

Seja na Praça Tahir do Cairo, no Parque Gezi de Istambul, ou na Praça da Independência de Kiev, a internet e, sobretudo as mídias sociais, deram ímpeto ao engajamento social, prosseguiu Limbourg. "A informação e interação através da mídia digital podem dar o impulso definitivo para transformar ânimos latentes em movimentos de cidadania e mobilização da sociedade civil. Em outras palavras: tirar as pessoas do sofá e levá-las às ruas."

GMF Global Media Forum 2014 Peter Limbourg
Diretor-geral da Deutsche Welle, Peter LimbourgFoto: DW/ K. Danetzki

Dessa forma, censura e propaganda ideológica são sinais profundamente condenáveis de desabilitação do cidadão cosmopolita esclarecido, observou Limbourg. "A isso opomos abertura e tolerância, diversidade e respeito – todo o cânone dos valores democráticos", afirmou o diretor-geral da DW. O abuso da internet – quer pela espionagem, criminalidade ou outras manifestações – é, portanto, um grande desafio para a economia, política e ciência. E, naturalmente, também para os veículos de comunicação.