Google diz ter alcançado "supremacia quântica"
24 de outubro de 2019A gigante da internet Google afirmou nesta quarta-feira (23/10) ter realizado uma experiência que comprova pela primeira vez a "supremacia quântica", que seria um passo decisivo para o desenvolvimento de computadores quânticos. O feito, entretanto, foi questionado pela rival IBM.
Numa experiência com o processador quântico Sycamore, que foi descrita num estudo publicado na revista científica Nature, a Google reivindicou ter conseguido realizar em 200 segundos um cálculo matemático de elevada complexidade que um supercomputador convencional demoraria 10 mil anos para resolver.
"Esse aumento dramático de velocidade em comparação com todos os algoritmos clássicos conhecidos é uma realização experimental da supremacia quântica para essa tarefa computacional específica, anunciando um paradigma de computação muito esperado", afirma o estudo.
A expressão "supremacia quântica" define um momento em que um computador quântico resolve um cálculo tão complexo que não pode ser mais solucionado em tempo razoável por um computador convencional.
Os pesquisadores da Google acreditam que dentro de alguns anos computadores quânticos irão impulsionar avanços em áreas como inteligência artificial, ciência de materiais e química. A empresa está em competição neste campo com gigantes como a IBM e a Microsoft, que disputam para ser os primeiros a comercializar a tecnologia.
A IBM contestou a "supremacia quântica" reivindicada pela Google, considerando que esta subestimou o seu supercomputador convencional Summit, que é capaz de fazer o mesmo cálculo em dois dias e meio e, segundo a empresa, de forma mais precisa. Atualmente o supercomputador mais potente do mundo, o Summit foi desenvolvido pela IBM e está localizado no Laboratório Nacional de Oak Ridge, no estado americano do Tennessee.
Mas especialistas como John Preskill, professor da Universidade de Tecnologia da Califórnia (CalTech) que cunhou o termo "supremacia quântica" reconhecem o avanço que representa a experiência da Google.
"O marco da supremacia quântica, supostamente alcançado pela Google, é um passo fundamental na procura por computadores quânticos práticos", disse Preskill, considerando, no entanto, que os efeitos da computação quântica na sociedade "ainda estejam a décadas de distância" e que o cálculo desenvolvido pela Google tem pouco uso prático.
A computação quântica é baseada no conceito de 'qubit' ('quantum bit'), por oposição ao 'bit' que é a unidade básica do sistema binário em que se baseiam os computadores atuais. Segundo a física quântica, ao contrário de um "bit" clássico, que assume o estado "zero" ou o estado "um", um "qubit" pode assumir o estado "zero" e "um" ao mesmo tempo, o que representa um aumento exponencial da capacidade de processamento de dados.
A produtora de chips de processamento Intel também afirmou que "praticidade quantum" continua a anos de distância.
A Google defende sua posição, mas evita controvérsia com os rivais. A empresa fabricou alguns chips com 54 "qubits", que são muito mais poderosos que os processadores padrão de 64 bits de grande parte dos computadores caseiros. Entretanto, para que a tecnologia seja útil para consumidores, seria necessário produzir processadores com milhares de qubits.
MD/lusa/dpa/rtr
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