"Gostaria de derrotar o Brasil no final da Copa 2006"
13 de novembro de 2004DW-WORLD: Jürgen Klinsmann, você tem formação profissional de padeiro. Quer dizer: de manhã assava pão, de tarde jogava futebol, antes de se tornar jogador profissional. Você é um verdadeiro jogador de pelada?
Jürgen Klinsmann:
Sim, acho que a minha geração estava cheia de jogadores de rua, pois o futebol não organizado, ou seja, fora dos clubes, era ultra-importante. A gente ia todo dia para o campinho ou um gramado, ou aonde quer que fosse, só para passar o tempo – com futebol. Não tínhamos muitas outras alternativas: ou brincar de pique ou jogar futebol. Acho que devo meu talento a essas peladas, e no fim de contas, também a minha carreira profissional.Como presidente da Fundação Jugendfussball (Futebol para a Juventude), você aposta no futebol de rua, na idéia de transmitir tolerância e entendimento através dele. O futebol é capaz disso?
Claro. O futebol pode muito mais, pois influi em todas as áreas de nossa vida, seja na educação, na possibilidade de se soltar, liberando sentimentos de agressão, ou como forma de integração na comunidade. É também um meio de obter uma visão do mundo, de coisas internacionais. Quando me ocupo do Brasil ou Argentina, enquanto terras do futebol, me ocupo automaticamente do país e da cultura. Enfim, o futebol penetra em todos os setores de nossa sociedade, e é portanto o veículo perfeito para atingir as pessoas.
Os futebolistas deveriam ser um exemplo para as crianças. No entanto há jogadores que jogam a bola com a mão contra o gol, jogam-se no chão, fazendo fita. Um goleiro da seleção como Oliver Kahn enfia o dedo no nariz do colega Klose, num jogo da Bundesliga. Esses jogadores podem servir de exemplo?
Claro. Porque o futebol é cheio de emoção. Quando coisas um tanto negativas ocorrem, isso também tem a ver com emoção, pois emoções vão sempre nas duas direções, tanto pelo e positivo como também, por vezes, negativo. E isso é o fascinante no futebol, ninguém sabe de antemão o que pode se passar durante uma partida. Isso também se aplica ao dia-a-dia, em casa, com a família, ou com amigos, nem sempre se faz tudo perfeito. Por isso os craques são imperfeitos, como qualquer outra pessoa. Através dos erros é que se aprende. E é cometendo erros e os admitindo que um jogador aprende e se desenvolve.
O estado de espírito básico na Alemanha – você certamente percebe isso lá dos Estados Unidos, onde mora – tende rapidamente ao negativo, é mais para pessimista. Você não se preocupa que isso venha abater seus jovens jogadores?
Não, estamos confiantes que um certo espírito positivo, que espalhamos em nosso time com Oliver Bierhoff, Joachim Löw, Andy Köpke, que ele se transmita a todo o time. O futebol é um jogo de emoções, mas também se baseia em autoconfiança, Com autoconfiança, encaro minha tarefa diferente e tenho muito mais possibilidades de êxito do que se estou com medo. E o nosso trabalho é dar a essa equipe autoconfiança, passo a passo, em direção a 2006. Aqui e lá vai haver uma recaída, ao perdermos um jogo, mas o sentido geral, ao longo desses dois anos, tem que ser positivo. Esse time tem um potencial altíssimo, muitos grandes talentos, também talentos jovens, e precisamos trabalhar com eles para que se sintam capazes de cumprir essas tarefas.
A Alemanha tem a lucrar com esse estado de espírito tão positivo da seleção nacional? O que significa a Copa do Mundo 2006 para o país?
Significa muitíssimo. Acho que, observando a história, toda vez que a seleção alemã venceu uma Copa do Mundo, isso teve enorme significado para a sociedade. Quer dizer, para o país, para as pessoas, para a auto-estima, o orgulho. Queremos uma seleção com que as pessoas possam se identificar, da qual fiquem orgulhosas. Que vejam nela os pioneiros do espírito positivo.
Olhando para trás, o que a equipe nacional de 1954 provocou com o milagre de Berna, ou a de 1974 – mesmo numa época tão tensa do ponto de vista da política mundial, quanto o início dos anos 70. Depois veio a queda do Muro de Berlim em 1989/90, quando também fomos campeões do mundo, portanto mais um momento histórico. E acompanhando a globalização, seria naturalmente fantástico se conseguíssemos dar esse passo gigante. Portanto, o que a seleção nacional alcança está sempre entrelaçado com a sociedade.
Sua mensagem foi bem clara: a Alemanha vai ser campeã do mundo em 2006. Quem bateremos na final?
Não teria nada contra se fosse o Brasil. Acabamos de enfrentá-los em Berlim, não é mesmo?
A seu ver, qual é a reputação do futebol alemão no exterior?
Ela continua sendo muito alta, no mundo inteiro. Claro, registram-se aqui e ali altos e baixos, e também no exterior se critica um pouco quando as coisas não vão tão bem. Mas, quando participamos de uma competição, todo o mundo tem enorme consideração e respeito por nós, pois dizem: "OK, de algum jeito os alemães vão se virar, eles sempre conseguem dar um jeito, quando se trata de um grande campeonato". Esse também é um fator psicológico que nos dá uma vantagem para 2006. E quando começarem os jogos entre as seleções, os adversários vão ter grande respeito. Pois estamos jogando em casa, e a história mostrou que no momento preciso estamos lá, e isso poderá ser uma pequena vantagem para nós.