Bad Banks
21 de abril de 2009Com a medida de criação dos bad banks, seria possível pelo menos ganhar tempo. Os bancos limpariam de uma vez seus balanços e poderiam se dedicar novamente às suas tarefas normais. E um dia, espera-se, talvez esses títulos problemáticos recuperem seu valor. O governo alemão discute em Berlim, nesta terça-feira (21/04), as vantagens e desvantagens de um bad bank para a economia.
Uma coisa é certa: um lixão central não deverá ser criado para os títulos tóxicos, ou seja, para aqueles que perderam completamente seu valor com a crise financeira e se tornaram invendáveis: a sucata dos produtos financeiros. Essa já havia sido uma decisão tomada categoricamente pela premiê alemã, Angela Merkel, e repetida à exaustão pelo porta-voz do governo.
Sem pressa
E outra coisa parece clara: os políticos não parecem ter pressa para tomar qualquer decisão a respeito. Mesmo que federações de bancos e da indústria e até mesmo o presidente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, peçam pressa. Ao jornal econômico Handelsblatt, Strauss-Kahn criticou que "há lentidão por todo lado".
Thomas Steg, vice-porta-voz do governo alemão, não se deixa impressionar pelo comentário: "Não é nada surpreendente que Strauss-Kahn reclame a ausência de decisões. Com isso, ele chove de certa forma no molhado, no caso, chove no molhado em Berlim. Nós já estamos girando em torno dessas decisões, mas estamos nos dando o tempo necessário para que possamos apresentar um conceito realmente razoável e maduro", declara Steg.
Lixeira financeira
A cúpula realizada em Berlim nesta terça-feira teve exatamente como tarefa o desenvolvimento de um plano para uma lixeira financeira made in Germany. Fato é que a concessão de crédito por parte dos bancos a empresários de médio porte ainda não está funcionando, apesar das medidas estatais de salvação dos bancos. E que a razão disso são os riscos que ainda repousam nos balanços dos bancos.
A confiança tem que ser reavida. E por isso estão sendo feitas sugestões independentes de partidos políticos para a criação de diversos modelos de bad banks. A questão central é: em que dimensão o contribuinte terá que pagar pelos erros dos bancos?
Em debate está a criação de bad banks descentralizados em nível estadual, mas também de bad banks para instituições de crédito que tenham sido especialmente atingidas pela crise. A premiê Merkel é uma das defensoras do modelo.
Princípio racional
O especialista em questões financeiras do Partido Social Democrata (SPD), Johannes Kahrs, afirma não ter, a princípio, nada contra a ideia, embora insista que os riscos financeiros deveriam ficar sempre nas mãos dos respectivos bancos. Isso valeria também para os prejuízos bilionários que constam dos balanços dos bancos estaduais.
"Quem ficou por anos a fio com os lucros resultantes de altos riscos também tem que responder pelos prejuízos quando esses riscos aparecem. Acho esse um pensamento racional, é o princípio básico da economia. E por que isso deveria ser diferente nos estados do país? Cada governo estadual terá que pegar dinheiro emprestado, mas o governo federal também terá que fazer isso", observa Kahrs.
O valor nominal dos títulos tóxicos é estimado entre 500 bilhões e 1 trilhão de euros, calcula Otto Bernhardt, especialista em finanças da União Democrata Cristã (CDU). A Alemanha já disponibilizou até agora 400 bilhões de euros de garantias. No momento, parte-se do princípio de que haja uma lacuna de garantias no valor de aproximadamente 20 bilhões de euros.
"Inércia do governo"
"Embora não esteja claro se esses títulos considerados hoje tóxicos sejam realmente tão tóxicos. Pode ser que parte deles, após a superação da crise, recupere um alto valor. E que a necessidade de amortização não seja então tão alta quanto seria hoje", analisa Hermann Otto Solms, especialista em questões financeiras do Partido Liberal (FDP).
Mesmo assim, Solms aconselha que medidas sejam tomadas com rapidez e critica o governo do país pela inércia no trato da questão. Segundo ele, deveria se evitar que os bancos tenham que lançar agora em seus balanços os títulos financeiros desvalorizados.
Isso, segundo Solms, destroi o capital próprio dos bancos, o que pode levar a interrupções na concessão de empréstimos a empresas de médio porte, podendo até mesmo estagnar essas concessões.
Qual modelo de bad bank seria o apropriado para a Alemanha? Quantos deverão, no fim, existir? Para responder a tais perguntas, o governo alemão terá tempo somente até junho, quando começa não apenas o recesso parlamentar na pausa de verão no país, mas também a campanha eleitoral. E nenhum partido quer fazer campanha com um assunto que ninguém consegue compreender.
Autor: Richard Fuchs
Revisão: Alexandre Schossler