Governo alemão e Anistia elogiam nomeação de brasileiro
26 de julho de 2002"É excelente a escolha do diplomata brasileiro", anunciou o departamento de imprensa do Ministério em Berlim. Em entrevista à redação Online da Deutsche Welle, a secretária-geral alemã da organização ativista dos direitos humanos, AI, Barbara Lochbihler, saudou a indicação do brasileiro, mas discordou da sua intenção anunciada de evitar confrontação. Por causa de suas críticas aos Estados Unidos, China e Rússia, a irlandesa Mary Robinson deixará prematuramente o cargo que o brasileiro vai assumir em 12 de setembro. A mudança foi criticada por ONGs internacionais ativistas dos direitos humanos, como a Human Rights Watch e a Sociedade de Defesa dos Povos Ameaçados.
"O grande sucesso da missão de paz da ONU em Timor Leste se deve principalmente à determinação de Vieira de Mello e sua habilidade diplomática nas negociações", disse um porta-voz da chancelaria alemã, nesta quinta-feira (25), repetindo o que dissera o embaixador da Alemanha na ONU, Hanns Schumacher. Ele acrescentou que o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, confirmou, com a escolha, que a garantia dos direitos humanos no mundo continua sendo uma das tarefas mais importantes da ONU. O brasileiro, que atuou em outras regiões de conflito como o Kosovo, fez a maior parte de sua carreira diplomática no Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR).
Críticas e advertências
Baseada na experiência de Vieira de Mello na ex-colônia portuguesa Timor Leste, em 1999, a ONG alemã Sociedade de Defesa dos Povos Ameaçados considerou a sua nomeação agora "um desastre para os direitos humanos". A Human Rights Watch também fez duras críticas ao sucessor de Robinson, que sai do cargo sob elogios de grande parte dos ativistas dos direitos humanos por causa de suas posições firmes que despertaram a ira da superpotência americana. A ONG advertiu que Vieira de Mello não tem experiência prática na questão dos direitos humanos e que por fazer parte das estruturas da ONU pode ser prejudicial aos grupos que desejam pressionar os governos.
Confrontação e diálogo
A representante da Anistia Internacional na Alemanha concordou com Vieira de Mello sobre a necessidade de despolitizar o tema direitos humanos, mas advertiu que isso será muito difícil por causa das linhas conflitantes na Comissão dos Direitos humanos da ONU, entre os Estados membros da União Européia e os não-alinhados, como Índia e Cuba. Há ainda as divergências entre os direitos individuais e os coletivos, usados com freqüência como pretexto para violações dos direitos humanos, e também os Estados grandes, como EUA, Rússia e China. Estes não querem permitir críticas à situação dos direitos humanos em sua casa e pressionam para fazer valer a sua vontade, esclareceu Lochbihler.
Ela concordou em parte com a meta de Vieira de Mello de evitar confrontação e apostar no diálogo para garantir os direitos humanos: "Só confronto é ruim, mas acho que como diplomata de carreira ele está certo de encontrar solução sem confrontação. As experiências mostraram, todavia, que se precisa pressão e confrontação ao mesmo tempo em que se tenta conversações, não sendo possível a despolitização da questão dos direitos humanos".
Lochbihler discordou, por outro lado, da crítica de outras ONGs de que Vieira de Mello pode ser mais suscetível a pressões do que a atual alta comissária dos direitos humanos, que entrou em rota de colisão com as potências americana, russa e chinesa. Para ela, a pressão não depende da pessoa mas do cargo. A representante máxima da Anistia Internacional na Alemanha acha também que a nacionalidade de Vieira de Mello não terá papel importante. "Só porque ele é brasileiro não significa automaticamente que os Estados latino-americanos vão implantar suas propostas", disse ela, oferecendo a seguir a cooperação de sua organização ao diplomata brasileiro na sua tarefa de advogado das vítimas de violações dos direitos humanos.