Crise do euro
27 de janeiro de 2012Na avaliação do governo brasileiro, o momento mais crítico da crise da dívida europeia já passou. Em entrevista à imprensa internacional nesta quinta-feira (26/01), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que uma situação de "estresse maior" ou de "rompimento" – como houve com a quebra do banco Lehman Brothers em 2008 – está afastada. "Mas os problemas não estão resolvidos", ressalvou.
Um "certo risco" ainda ronda a Europa, avaliou o ministro. "Teremos alguma volatilidade e turbulência até que a questão das dívidas soberanas dos países europeus esteja equacionada." Ele demonstrou otimismo quanto ao caso grego: para o ministro, a União Europeia, os credores privados, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o governo da Grécia vão encontrar uma solução permanente em breve.
Mantega também comentou a atuação do Banco Central Europeu no gerenciamento da crise. "O fundamental é que percebemos uma disposição do Banco Central Europeu para resolver, ou pelo menos equacionar, os problemas financeiros ou da dívida soberana – embora ele não confesse isso", afirmou.
O ministro se refere à ação inédita do BCE, em dezembro último, quando uma quantia de 500 bilhões de euros foi ofertada a 520 instituições financeiras europeias. Foi a primeira vez que a autoridade monetária europeia emprestou recursos a um prazo tão longo com juros tão baixos – 1% ao ano e vencimento em três anos. "Isso afastou a possibilidade da quebra de bancos na região", avaliou Mantega.
Ajuda brasileira
Paralelamente, o FMI articula uma nova linha de financiamento aos endividados. Segundo o ministro brasileiro, a instituição está consultando os seus membros e espera reunir uma quantia estimada em 500 bilhões a 600 bilhões de dólares. "Essa soma de novos aportes de recursos do FMI poderão ajudar a solucionar a crise", afirmou.
Em passagem por Berlim nesta semana, a chefe do FMI, Christine Lagarde, já havia mencionado essa iniciativa de aumentar os recursos de empréstimos. Apesar de o ministro não ter dito claramente com quanto o Brasil poderia contribuir, ele já afirmou no passado a intenção de ajudar. Em troca, o Brasil e outros países emergentes pedem, a longo prazo, maior poder de voto no FMI.
"O Brasil está disposto a colaborar com aporte. Desta vez o FMI não veio trazer dinheiro como no passado, mas veio pedir dinheiro para o Brasil emprestar. Prefiro ser credor do que devedor. Temos larga cooperação, que vamos reforçar”, disse o ministro na ocasião da visita de Lagarde ao país, no início de dezembro.
Panorama para 2012
Apesar das reduzidas projeções de crescimento mundial, o Brasil garante que terá "um comportamento diferenciado". Pelos cálculos do governo, a economia deve ter uma expansão de 4,5% em 2012 – acima dos 3% previstos pelo FMI. "Crescemos menos em 2011 porque tínhamos um novo governo, foi fase de ajustes e também tivemos que implantar medidas para controlar o crescimento", justificou Mantega.
Para manter o ritmo, o governo prevê cortes de despesas e investimentos pesados. Os programas sociais, como o Minha Casa, Minha Vida, o Bolsa Família e a erradicação da miséria, no entanto, não sofrerão corte de verbas, afirmou. "O sacrificio no orçamento é feito pelos gastos de custeio: administração da máquina pública, viagens, compras de equipamentos, etc. As despesas sociais e investimentos do governos serão todos preservados", garantiu.
Até 2014, serão investidos 1 trilhão de reais por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O governo deve participar com 42 bilhões de reais, ou 1% do PIB. Apenas para a Copa do Mundo, a estimativa de investimento é de cerca de 35 bilhões de reais.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler