Exclusivo
19 de março de 2007Acompanhado de 50 representantes dos setores empresarial, acadêmico e político, o governador do estado de Hessen, Roland Koch, voltou neste domingo (18/02) de uma visita de uma semana ao Brasil e ao Chile. Em entrevista exclusiva à DW-WORLD, ele faz um balanço da viagem.
DW-WORLD: O senhor esteve na semana passada com uma delegação de políticos e empresários em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Santiago do Chile. Que resultados obteve nessa viagem?
Roland Koch: Essa viagem teve vários objetivos, como se vê pela composição da delegação. Naturalmente o foco também difere respectivamente: os empresários querem ter parceiros para negócios, os cientistas procuram projetos de parceria nas universidades, os políticos querem fazer uma avaliação própria de um importante setor da cooperação, muito além do aspecto econômico. Ao mesmo tempo, tentamos atrair empresas brasileiras que não pretendem apenas cooperar com firmas alemãs, mas também planejam abrir filiais próprias no mercado europeu. Nós oferecemos Frankfurt e o estado de Hessen, no centro da Alemanha e da Europa, como base para o estabelecimento e a expansão dessas empresas no mercado europeu.
Nesse sentido, o senhor obteve resultados concretos?
Minha filosofia nessas viagens não é concluir o que outros prepararam, e sim, que nós comecemos a trabalhar e a estabelecer os contatos. Por isso, o resultado, em muitos pontos, é o início de contatos. Muitas empresas, no entanto, já fecharam acordos concretos de cooperação. Eu mesmo assinei com o governo chileno um convênio de intercâmbio estudantil. Acho que trouxemos uma considerável lista de idéias, que continuaremos desenvolvendo. E, considerando que a central européia da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha já atua com cinco funcionários em Frankfurt, não estamos iniciando as atividades e, sim, já atingimos bons resultados.
Os sul-americanos reclamam freqüentemente que não recebem a devida atenção da Alemanha e da União Européia. Isso começa a mudar?
Acredito que é preciso diferenciar entre os países. O Chile, por exemplo, é o país mais privilegiado, com um acordo de associação muito ambicioso com a União Européia, o que nenhum outro país da América do Sul tem. Com certeza, nos últimos anos, os interesses da Alemanha se concentraram mais na região asiática do que na América do Sul.
Uma viagem como esta que eu fiz também tem a meta de ajustar um pouco esta perspectiva e evitar que percamos de vista este interessante espaço da economia globalizada. Mas esperamos também encontrar estruturas, vide Mercosul, com as quais sejam possíveis parcerias, assim como nós as podemos oferecer pelo lado da UE, mesmo sabendo que isso demora mais do que desejamos.
Onde o senhor vê hoje as melhores chances para investimentos alemães no Brasil e no Chile?
Além dos contatos tradicionais, como a troca de matérias-primas por produtos industrializados, vemos para os próximos anos possibilidades no setor de biotecnologia, principalmente no que se refere à proteção ambiental; na geração de energia, sobretudo biodiesel e todo o processamento de energias renováveis; e também na área de tecnologia da informação, desde a cooperação científica até a cooperação empresarial.
Com o governo de São Paulo, o senhor pretende estabelecer uma cooperação na área de bioenergia. Como se dará essa cooperação, visto que no âmbito federal se fala sobre isso há anos, mas sem resultados concretos?
Nós vemos uma chance na troca de experiências que cada um fez em sua região. O Brasil tem uma experiência de várias décadas na produção e no uso de bioetanol, no que nós não temos nada comparável. Mas também na Europa a geração de energia através de álcool tende a aumentar. Nossos empresários precisam conhecer essa tecnologia, se quiserem ter sucesso no mundo globalizado. Já na área do biodiesel, a Alemanha tem muito mais experiência, pelo simples fato de este combustível ser usado não só em veículos utilitários e máquinas, mas também em carros de passeio.
Acreditamos que, com intercâmbio e projetos conjuntos nessas áreas, poderemos obter avanços. Isso começa com a cooperação científica e se estende a um grande número de contatos empresariais. Trata-se de passar do abstrato para projetos concretos, que deverão levar a resultados, paralelamente, nos dois países.
Qual foi a sua impressão do boom dos biocombustíveis no Brasil, em termos de balanço ambiental, social e de sustentabilidade da produção?
Não há dúvida de que os avanços atingidos na discussão do clima, no que se refere às matérias-primas renováveis, desencadeou uma onda de entusiasmo e satisfação no Brasil, e que, em parte, predomina o debate sobre as conseqüências ecológicas. Tive a oportunidade de discutir intensamente esta questão com o ministro brasileiro das Minas e Energia. Também falamos sobre os setores agrícolas em que é possível ampliar as áreas para garantir a produção de bioetanol e sobre o balanço total do CO2, que só se torna positivo quando a energia necessária à produção do etanol vem do bagaço. Portanto, o processo depende de uma tecnologia de ponta, senão o balanço de CO2 é negativo.
Acredito que os brasileiros têm consciência desse problema. Eles sabem que há limites e que não podem trabalhar sem regras. Mas se essas regras forem respeitadas, o Brasil, em termos climáticos e também ecológicos, é um parceiro altamente interessante para projetos na área de bioetanol.
Com o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, o senhor acertou uma cooperação para formação de policiais. O que policiais brasileiros podem aprender de seus colegas alemães?
Nessa cooperação com o Rio de Janeiro, não se trata tanto de tática policial. Não temos motivos para querer explicar aos policiais brasileiros como devem combater a criminalidade. Tratamos da formação de funcionários na fase de preparação de uma reforma organizacional, destinada a criar uma polícia única, com atribuições mais claras, como fizemos há 30 anos em Hessen e em outros estados alemães. Nesse campo, nossos funcionários podem transmitir muitas experiências.
Como será a cooperação acertada na área do ensino superior?
Com o Chile, fechamos um acordo que permite um intercâmbio anual de 50 estudantes de cada um dos dois países, com bolsa de estudo e isenção de mensalidade. Até agora, os 16 estados alemães juntos ofereciam 100 vagas sob essas condições para estudantes chilenos. Além disso, desenvolvemos com o Chile e o Brasil um programa na área de tecnologia de informação, ligado à Universidade de Ciências Aplicadas de Darmstadt. É um projeto de formação de profissionais de nível superior, mas que ao mesmo tempo se destina a criar uma rede de apoio a pequenas e médias empresas, inclusive com intercâmbio de software entre os países envolvidos, algo que no nível da pequena empresa seria inviável.
O senhor convidou empresários brasileiros e chilenos a também visitarem Hessen. Em que áreas eles poderiam atuar em seu estado?
Penso que há diversos campos potenciais de atuação, à semelhança do que nós vimos no Brasil e no Chile. Mas a questão central é onde será a sede da organização comercial, do escritório de desenvolvimento ou da representação de uma instituição financeira, se uma empresa brasileira ou chilena decidir ingressar no mercado europeu. Essa é uma questão que cada vez mais empresas sul-americanas, que se recuperaram dos anos de crise, se colocam num mercado globalizado. Nossa meta é convencer todos os envolvidos de que temos aqui as condições mais apropriadas em termos logísticos, científicos e de mão-de-obra qualificada. Nesse contexto, a região de Frankfurt concorre diretamente com cidades como Londres e Paris.