Governo de Seul é criticado por guia sexista para grávidas
11 de janeiro de 2021O governo da cidade de Seul, capital da Coreia do Sul, está enfrentando uma série de críticas da população após publicar uma guia sexista para grávidas. O texto orientava, por exemplo, que antes do parto elas deveriam deixar refeições prontas para os maridos "não habituados a cozinhar" e sugeria ainda medidas para que as mulheres não parecessem "desgrenhadas" depois de dar à luz.
Até a tarde desta segunda-feira (11/01), mais de 20 mil pessoas já haviam assinado uma petição pedindo a punição dos responsáveis pelo conteúdo, publicado num site da cidade. Os autores da petição afirmam que o objetivo do site parece ser o de promover que a mulher fique solteira, e não a maternidade". "A cidade de Seul pensa nas mulheres como bens públicos que dão à luz?", questiona a petição.
A publicação foi feita pelo governo da capital sul-coreana no site do Centro de Informações sobre Gravidez e Parto, em 2019. O conteúdo é descrito como supervisionado pela Sociedade Coreana de Obstetrícia e Ginecologia. As diretrizes foram removidas na semana passada, depois de causarem uma onda de críticas. O governo de Seul disse que copiou as informações das diretrizes de gravidez do Ministério da Saúde e Bem-Estar. Em sua defesa, a pasta afirmou que percebeu que o conteúdo era sexista e o excluiu em 2019.
De acordo com as orientações que acabaram sendo removidas, nos primeiros meses de gestação, as mulheres deveriam deixar à mostra roupas que usavam antes da gravidez para "motivá-las" a manter o peso e não gazear exercícios. Além disso, o site dizia que tarefas domésticas, como limpar a casa e lavar a louça, ajudam a manter o peso.
"Pendure as roupas que você usava antes de engravidar em um local onde sejam fáceis de ver, pois isso vai motivá-la a manter seu peso sob controle e voltar ao mesmo peso que tinha antes de dar à luz", afirmava o site. "Se você ficar tentada a comer demais ou deixar de fazer exercícios, dê uma olhada nas roupas".
A preocupação com a aparência deve ser mantida, de acordo com o site, e a mulher deve comprar uma faixa de cabelo "para não parecer desgrenhada depois de ter o bebê".
Perto da data prevista para o parto, o site aconselhava a mulher a preparar algumas refeições para o marido e garantir que ele e os outros filhos tivessem roupas suficientes até que ela voltasse do hospital.
"Jogue fora a comida velha da geladeira e prepare três ou quatro pratos que os membros da família gostem. Se você tiver alguns pratos instantâneos, seu marido não habituado a cozinhar pode prepará-los facilmente", dizia a publicação.
O site também aconselhava evitar "transtornos à família verificando se há papel higiênico, pasta de dente, escova de dente, sabonete e detergente em quantidade suficiente".
Em um comunicado, o governo de Seul reconheceu que não "revisou completamente" o conteúdo antes de publicá-lo e garantiu que vai estabelecer processos de revisão para que isso não ocorra novamente.
Em 2018, o governo sul-coreano já havia sido criticado por divulgar diretrizes para estudantes do ensino médio que sugeriam que "as mulheres devem melhorar sua aparência e os homens devem trabalhar para melhorar suas capacidades financeiras". As diretrizes também sugeriram que os homens que gastarem "muito dinheiro em encontros" podem esperar ser "compensados".
A Coreia do Sul enfrenta uma crise demográfica, com a taxa de natalidade despencando. Em 2020, o país registrou pela primeira vez na história mais mortes do que nascimentos. A Coreia do Sul já chegou a ser o país com menor taxa de natalidade do mundo.
LE/afp/ots