1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
PolíticaCoreia do Sul

Governo de Seul é criticado por guia sexista para grávidas

11 de janeiro de 2021

Site da cidade orientava grávidas a deixar refeições prontas para "maridos não habituados a cozinhar" antes do parto. Dicas também incluíam métodos pouco convencionais para mulheres não engordarem durante a gravidez.

https://p.dw.com/p/3nnTL
Barriga de mulher grávida. A mulher acaricia a barriga com as mãos. O rosto dela não é mostrado.
De acordo com site governamental, gestante deveria se certificar que haveria papel higiênico o suficiente até ela voltar do hospital. Foto: imago images/Panthermedia

O governo da cidade de Seul, capital da Coreia do Sul, está enfrentando uma série de críticas da população após publicar uma guia sexista para grávidas. O texto orientava, por exemplo, que antes do parto elas deveriam deixar refeições prontas para os maridos "não habituados a cozinhar" e sugeria ainda medidas para que as mulheres não parecessem "desgrenhadas" depois de dar à luz.

Até a tarde desta segunda-feira (11/01), mais de 20 mil pessoas já haviam assinado uma petição pedindo a punição dos responsáveis ​​pelo conteúdo, publicado num site da cidade. Os autores da petição afirmam que o objetivo do site parece ser o de promover que a mulher fique solteira, e não a maternidade". "A cidade de Seul pensa nas mulheres como bens públicos que dão à luz?", questiona a petição.

A publicação foi feita pelo governo da capital sul-coreana no site do Centro de Informações sobre Gravidez e Parto, em 2019. O conteúdo é descrito como supervisionado pela Sociedade Coreana de Obstetrícia e Ginecologia. As diretrizes foram removidas na semana passada, depois de causarem uma onda de críticas. O governo de Seul disse que copiou as informações das diretrizes de gravidez do Ministério da Saúde e Bem-Estar. Em sua defesa, a pasta afirmou que percebeu que o conteúdo era sexista e o excluiu em 2019.

De acordo com as orientações que acabaram sendo removidas, nos primeiros meses de gestação, as mulheres deveriam deixar à mostra roupas que usavam antes da gravidez para "motivá-las" a manter o peso e não gazear exercícios. Além disso, o site dizia que tarefas domésticas, como limpar a casa e lavar a louça, ajudam a manter o peso.

"Pendure as roupas que você usava antes de engravidar em um local onde sejam fáceis de ver, pois isso vai motivá-la a manter seu peso sob controle e voltar ao mesmo peso que tinha antes de dar à luz", afirmava o site. "Se você ficar tentada a comer demais ou deixar de fazer exercícios, dê uma olhada nas roupas".

A preocupação com a aparência deve ser mantida, de acordo com o site, e a mulher deve comprar uma faixa de cabelo "para não parecer desgrenhada depois de ter o bebê".

Perto da data prevista para o parto, o site aconselhava a mulher a preparar algumas refeições para o marido e garantir que ele e os outros filhos tivessem roupas suficientes até que ela voltasse do hospital. 

"Jogue fora a comida velha da geladeira e prepare três ou quatro pratos que os membros da família gostem. Se você tiver alguns pratos instantâneos, seu marido não habituado a cozinhar pode prepará-los facilmente", dizia a publicação.

O site também aconselhava evitar "transtornos à família verificando se há papel higiênico, pasta de dente, escova de dente, sabonete e detergente em quantidade suficiente".

Em um comunicado, o governo de Seul reconheceu que não "revisou completamente" o conteúdo antes de publicá-lo e garantiu que vai estabelecer processos de revisão para que isso não ocorra novamente. 

Em 2018, o governo sul-coreano já havia sido criticado por divulgar diretrizes para estudantes do ensino médio que sugeriam que "as mulheres devem melhorar sua aparência e os homens devem trabalhar para melhorar suas capacidades financeiras". As diretrizes também sugeriram que os homens que gastarem "muito dinheiro em encontros" podem esperar ser "compensados".

A Coreia do Sul enfrenta uma crise demográfica, com a taxa de natalidade despencando. Em 2020, o país registrou pela primeira vez na história mais mortes do que nascimentos. A Coreia do Sul já chegou a ser o país com menor taxa de natalidade do mundo. 
 

LE/afp/ots