Crise no Egito
21 de novembro de 2011O governo egípcio de transição apresentou o pedido de renúncia nesta segunda-feira (21/11) ao Conselho supremo das Forças Armadas, que está no poder desde a derrubada do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro. O anúncio foi feito pelo porta-voz militar Mohamed Hijazi, citado pela agência oficial de notícias Mena. Hijazi declarou que a demissão foi decidida "devido às circunstâncias difíceis que o país atravessa atualmente", acrescentou a agência oficial egípcia.
Manifestantes e forças de segurança travaram batalhas campais no Egito também nesta segunda-feira, pelo quarto dia consecutivo de protestos contra o governo egípcio. Pelo menos 33 pessoas foram mortas nos confrontos, conforme informaram nesta segunda-feira (21/11) funcionários de hospitais, 32 delas na Praça Tahrir, no centro do Cairo. O ministro da Cultura, Emad Abu Ghazi, apresentou sua demissão em protesto à forma como a liderança do país está lidando com os protestos.
Imagens transmitidas ao vivo pela televisão mostram as forças de segurança atacando manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, enquanto estes revidam com pedras. Confrontos de maior violência foram registrados principalmente nas proximidades do Ministério do Interior.
Manifestantes querem governo civil
As manifestações, iniciadas na sexta-feira, exigem que o Supremo Conselho Militar, governo militar interino, entregue o poder o quanto antes a uma administração civil. O principal alvo das revoltas é o chefe do governo militar, o marechal Hussein Tantawi. "O povo quer a execução do marechal", gritam os manifestantes.
A Praça Tahrir, centro dos atuais protestos, também serviu de palco principal ao levante que levou à queda do regime Mubarak. A violência começou no sábado, segundo dia de protestos, quando uma manifestação reunindo mais de 5 mil pessoas culminou nos piores choques no país nos últimos meses.
Cerca de 1,7 mil feridos
Médicos contabilizaram em 32 o número de mortos no Cairo, a maioria deles teria sido vítima de tiros, outros morreram por asfixia devido ao gás lacrimogêneo. Um homem foi morto em protestos em Alexandria. Houve também feridos em confrontos em cidades como Suez e Alarixe, entre outras. O Ministério da Saúde egípcio contabilizou o número de mortes em 22, informou na segunda-feira a agência de notícias Mena. Em todo o país, um número estimado de feridos desde sábado é de 1,7 mil.
O governo no Cairo apelou à população, pedindo calma e prometendo que "as circunstâncias que levaram aos incidentes" estariam sendo investigadas, e os resultados seriam "apresentados ao povo de forma clara e transparente, dentro de poucos dias".
Eleições parlamentares
Uma eleição em três etapas, marcada para começar na próxima segunda-feira, irá eleger um novo parlamento, com vistas à promulgação de uma nova Constituição. Entretanto, o pleito foi obscurecido pela disputa em torno de um esboço de Constituição que deixaria as Forças Armadas fora do controle civil. O apoio ao atual governo diminui, enquanto crescem na população as suspeitas de que os militares pretendem continuar no poder.
O conselho militar tomou o poder pouco depois da queda do governo Mubarak e afirmou que pretende abdicar dele logo após a eleição presidencial.
Preocupação internacional
A atual onda de violência é recebida com grande preocupação em nível internacional. O ministro do Exterior da Alemanha, Guido Westerwelle, apelou pelo fim da violência. "O caminho em direção à democracia não deve ser interrompido agora", declarou o ministro, através de um porta-voz. "O uso de violência e suas consequências, como um elevado número de mortos e de feridos é alarmante”, ressaltou.
A União Europeia pediu aos egípcios que exerçam o autocontrole. O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, salientou que o direito a manifestações pacíficas no Egito não deve ser violado.
Apelo aos manifestantes
Um porta-voz militar apelou nesta segunda-feira que os manifestantes deixem a Praça Tahrir. Os conflitos começaram na noite de sexta-feira, após uma manifestação naquele dia contra o regime militar e o governo de transição. Partidos islâmicos organizaram o ato, realizado na Praça Tahrir, mas deixaram o local em seguida.
Entretanto, milhares de manifestantes, na sua maioria jovens, permaneceram na praça, ameaçando só deixar o lugar quando suas reivindicações forem atendidas. Entre elas, está a renúncia do governo de transição e o anúncio de uma data para as eleições presidenciais, que devem acontecer, segundo eles, no mais tardar em abril.
MD/afp/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer