Rússia avalia abate de caça como "provocação planejada"
26 de novembro de 2015O ministro do Exterior da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou nesta quarta-feira (25/11) que o abatimento de um caça russo por parte da Força Aérea turca "parece ser uma provocação planejada", mas garantiu que a Rússia "não entrará em guerra" com a Turquia.
O chefe da diplomacia russa telefonou cerca de uma hora com seu homólogo turco, Mevlut Cavusoglu. Segundo Lavrov, o ministro turco "tentou justificar as decisões da Força Aérea turca" afirmando que a aeronave russa "voou um total de 17 segundos no espaço aéreo turco".
"Tenho sérias dúvidas de que se trate de um ato espontâneo, parece muito uma provocação planejada", disse Lavrov. "No entanto, não entraremos em guerra com a Turquia. As nossas relações com o povo turco não mudaram", garantiu, em coletiva de imprensa.
Momento antes, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, também havia declarado que seu país "não tem qualquer intenção de provocar um aumento de tensão após este incidente", no entanto, sem deixar de cutucar Moscou.
"Sejamos honestos. Apoiar alguém que pratica terrorismo de Estado... Se você confirma, se você aprova violência ou opressão, então você é um opressor", disse Erdogan, em aparente referência ao apoio russo ao presidente sírio, Bashar al-Assad.
Putin: Moscou reagirá de outra forma
À imprensa russa, o presidente do país, Vladimir Putin, assegurou que tomará todas as medidas necessárias para proteger o contingente aéreo que participa na operação antiterrorista na Síria. Depois de ter afirmado no dia do abatimento "terá graves consequências para as relações russo-turcas", Putin salientou, nesta quarta-feira, que Moscou reagirá de "outra forma" se houver novos incidentes com a Turquia.
Putin recomendou ainda aos cidadãos russos que não se desloquem à Turquia, um dos seus destinos turísticos favoritos. "Os nossos cidadãos que estão na Turquia podem correr um sério perigo", disse. Ano passado, cerca de 3 milhões de russos passaram suas férias na Turquia.
"Prontos para formação de Estado-maior comum"
Em Paris, apesar dos pouca cooperação aparente conquistada pelo presidente francês, François Hollande, durante sua turnê mundial, o embaixador russo na França, Alexander Orlov, afirmou que a Rússia "está pronta para formar um Estado-maior comum" contra o EI, apesar da tensão entre Ancara e Moscou.
"Estamos prontos para todas as formas de planejamento conjunto sobre as posições do 'Daesh' (acrônimo árabe do EI) e elaborar um Estado-maior comum com a França, com os EUA e com todos os países que quiserem entrar nesta coalizão", disse o diplomata, em entrevista à rádio francesa Europe1. Ele afirmou ainda que os turcos "serão bem-vindos" nesta aliança.
Após as conversações na Casa Branca entre Hollande e Barack Obama, na terça-feira, o presidente americano afirmou que seria "extremamente útil" se a Rússia trabalhasse juntamente com os EUA e com outros países para colocar um fim à guerra na Síria.
Moscou reforça presença militar em Latakia
Se no campo da política os avanços são moderados, em solo sírio houve mudanças imediatas. Moscou despachou um cruzador para ajudar a reforçar a defesa aérea em torno da base russa em Latakia, na Síria. Além disso, foram enviados também os sofisticados sistemas de mísseis antiaéreos S-400 e, a partir de agora, aeronaves russas serão protegidas durante bombardeios por caças de combate. A mensagem à Turquia e seus aliados é clara: não ouse tentar novamente.
PV/lusa/afp/rtr/dpa/ap