Grafite, entre a arte e a criminalidade
16 de julho de 2013A administração da cidade de Bonn, ex-capital alemã no oeste do país, enfrenta com frequência o problema dos grafites: são figuras ou inscrições grafitadas ilegalmente nas fachadas dos prédios, em quadros elétricos nas ruas ou em passagens subterrâneas.
A prefeitura de Bonn destina anualmente cerca de 90 mil euros para retirar grafites ilegais da paisagem urbana. Um valor estável há alguns anos, segundo Siegfried Hoss. Ele é o encarregado da administração local para questões ligadas a grafites e materiais poluentes e um dos organizadores de uma ação intitulada "semana contra o grafite ilegal". Hoss enfrenta os grafiteiros ilegais com dureza: "Trata-se de um delito, é um dano à propriedade alheia", define.
Danos milionários
Hoss cita um exemplo: as caixas de energia dos correios, da companhia de telefonia e de outras empresas. "No caso dos quadros elétricos que pertencem à cidade, os grafiteiros têm que arcar com os custos para a remoção dos grafites, que giram entre 200 e 300 euros", completa ele. E aqueles que não dispõem deste dinheiro precisam prestar serviços à cidade. "Já tivemos casos assim. Eles tiveram que limpar para verem o quanto isso é trabalhoso", conta o encarregado da prefeitura.
Em Bonn, será criada uma "parceria pela ordem", que envolve a prefeitura, a polícia local, a polícia federal, a companhia ferroviária Deutsche Bahn e associações locais – todos em prol de uma troca de experiências no combate ao grafite ilegal na cidade. Em todo o território alemão, os danos para as comunidades giram em torno de 200 milhões de euros por ano, gastos na remoção dos grafites. Os dados são do Deutscher Städtetag, associação de cidades alemãs que representam os interesses dos municípios junto ao governo federal e à União Europeia. Mas muitos dos envolvidos na questão do grafite se perguntam se a conduta das autoridades de combater grafites ilegais é o melhor caminho para solucionar o problema.
Mais belos e mais duráveis
Numa passagem subterrânea na região central de Bonn, nas paredes longas e pouco observadas pelos transeuntes, está estampado o rosto marcante e enorme do filho mais famoso da cidade e cuja popularidade vai muito além das fronteiras locais: o compositor Ludwig van Beethoven.
Seu perfil clássico foi grafitado ali sob encomenda da prefeitura. Cores saturadas e um fundo escuro fazem com que a pintura ganhe um ar de nobreza. Tais "grafites encomendados" têm como meta evitar que outros grafiteiros se aventurem pelo local, diz o artista Benjamin Sobala. Outro exemplo é a estação rodoviária localizada nas imediações: "Ali grafitamos há mais ou menos três anos e desde então o local ficou protegido", completa.
Grafiteiro aposentado há alguns anos, Sobala deverá assumir a partir de agora a função de mediador entre os artistas e a prefeitura de Bonn. Em oficinas, ele transmite informações sobre as possibilidades legais da arte do grafite. Apesar disso, Sobala mantém uma postura crítica frente ao comportamento da administração da cidade quando o assunto é disponibilizar superfícies para o grafite permitido. "Comparando, vejo que Colônia tem muito mais áreas legais para serem grafitadas que Bonn. Muitas delas são disponibilizadas por comerciantes. Acho uma pena que aqui não seja assim também", lamenta o artista. Pois é exatamente este, segundo ele, um fator capaz de reduzir o volume de grafites ilegais numa cidade.
Remoção rápida
Este é um mecanismo do qual as autoridades locais de Bonn não estão convencidas, contrapõe Hoss. "Em algum momento essa área legal acaba. E o próximo que chega vai sempre pensar: ‘olha, aqui está grafitado, vou continuar no prédio ao lado'. E aí já temos, de novo, um delito", explica o encarregado da prefeitura.
Quando há grafites indesejados nas paredes, Sobala afirma que é preciso agir imediatamente. "Remover o mais rápido possível, antes que os grafiteiros se sintam legitimados em suas ações". Sua dica é usar "um verniz anti-grafite, que pode ser lavado 50 vezes. Isso também ajuda", diz.
Urubus, burcas e bananas
A motivação dos grafiteiros ilegais vai de mero vandalismo, passando por pensamentos sublimes de fazer arte, até o ativismo político. Enquanto os chamados tags, ou seja, abreviaturas de nomes, são apenas borras nas paredes aos olhos de muitos artistas ligados ao grafite, há outros exemplos: os grafites de bananas do artista alemão Thomas Baumgärtel decoram hoje em dia mais de quatro mil entradas de prédios e galerias do país.
Em Leipzig, a obra Madonna com criança, do francês Blek le Rat, foi devidamente restaurada, sendo agora considerada patrimônio histórico. No Afeganistão, a artista Shamisa Hassani insere telas de burcas azuis em seus grafites como forma de combater a opressão das mulheres no país. E, em Nairóbi, ativistas estampam grafites de urubus nas fachadas das casas de políticos supostamente corruptos.
Razões mais que suficientes para considerar o grafite uma arte, defende Benjamin Sobala. Mesmo assim, acrescenta o ex-grafiteiro, "defendo a pintura legal, porque sei, como proprietário de um imóvel, que não é bom quando você tem que desistir da sua viagem do ano para pintar a fachada da sua casa", conclui o artista.