1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Projeto Desertec

17 de junho de 2009

Quinze empresas, também alemãs, se reuniram para produzir energia solar no deserto do Norte da África. Meta: gerar 15% da demanda total da Europa até 2050. Africanos insistem em "parceria de mão dupla".

https://p.dw.com/p/IQWw
Futuro da energia está no SolFoto: Solar Millennium AG, Erlangen

Em dez anos, espetaculares usinas solares no Saara poderão estar produzindo energia para a Europa, assim como para o Oriente Médio e a África do Norte (os chamados "países do MENA"). Com este fim, 15 empresas africanas e europeias, entre as quais várias alemãs, anunciaram para o próximo dia 13 de julho a fundação de um consórcio industrial.

Os custos para a construção das usinas solares no deserto norte-africano são calculados em 400 bilhões de euros. O projeto foi desenvolvido pela fundação Desertec, que tem como cofundador o círculo de especialistas Clube de Roma.

Há anos, os cientistas vêm enfatizando sua esperança na produção de energia solar nos desertos. Este será o primeiro grande projeto internacional na África. Na Alemanha, além da resseguradora Münchener Rück, encontram-se entre os que pretendem participar do consórcio o conglomerado elétrico Siemens, as operadoras de energia RWE e Eon, o banco privado Deutsche Bank e empresas do setor de energia solar.

A Münchener Rück se considera porta-voz da iniciativa. Na qualidade de resseguradora, ela sente fortemente as consequências do aquecimento global, devido aos enormes danos causados por catástrofes naturais, como, por exemplo, ciclones.

Velha ideia

Desde 1985 existem usinas para produção de energia a partir da radiação solar. Através de coletores parabólicos, essas usinas termossolares armazenam o calor irradiado e o transformam em eletricidade.

A vantagem desse tipo de construção é permitir a produção de eletricidade mesmo quando o Sol não brilha. Para tal, empregam-se tanques de armazenamento energético, cujo número deve ser tanto maior quanto menos luz solar houver.

Segundo o professor Robert Pitz-Paal, diretor de Pesquisa Solar no Instituto de Técnica Termodinâmica (pertencente ao Centro Alemão Aeroespacial, o DLR), a oferta solar nos países do MENA é muito melhor do que no centro ou mesmo no sul da Europa. Além disso, há grandes áreas não utilizadas no norte africano.

"Do ponto de vista puramente matemático, bastaria, em princípio, 2% a 3% da área desértica para assegurar o abastecimento energético da região e da Europa", calcula.

Ainda engatinhando

TREC Parabolrinne mit Sonne
Espelhos parabólicos no deserto da CalifórniaFoto: TREC

Mais especificamente: o Saara tem três vezes mais sol do que a Europa, um dos motivos por que a produção termossolar no deserto custaria aproximadamente apenas um terço do que se as usinas fossem construídas no Velho Continente.

Apesar de todas essas vantagens, ressalva Pitz-Paal, o preço da eletricidade produzida hoje por esse tipo de usina ainda é mais elevado do que a proveniente de combustíveis fósseis. A explicação para tal é que a tecnologia envolvida ainda se encontra em vias de desenvolvimento, exigindo investimentos volumosos.

Além disso, é necessária uma gigantesca infraestrutura de rede para transportar a energia até a Europa. Neste ponto, o especialista em energia menciona, como solução, as redes de corrente contínua em alta tensão (CCAT), que possibilitam a transmissão de grandes blocos de energia a longas distâncias, com uma perda de, no máximo, 15%. O consórcio industrial euro-africano pretende apresentar planos nesse sentido nos próximos dois a três anos.

Parceria de mão dupla

Com base no projeto Desertec, o DLR calcula que, até o ano 2050, a Europa poderá estar cobrindo 15% de sua demanda energética com eletricidade vinda do deserto. Pitz-Paal considera a meta realista, sob a condição de que todos os envolvidos colaborem intensamente.

Isso se aplica, naturalmente, também aos países do MENA. Amal Haddouche, diretora-geral do Centro de Desenvolvimento de Energias Renováveis (CDER) do Marrocos, insiste que esta tem que ser uma parceria "de mão dupla", isto é, em que todos lucrem.

"Não podemos ser apenas país de trânsito. O Marrocos tem enormes problemas de abastecimento, dependemos em 95% de nossos fornecedores. A questão da segurança do abastecimento é importantíssima para nós. Neste ponto temos as mesmas preocupações que a Europa."

O Marrocos, país que não dispõe de extração de petróleo própria, espera com a instalação das usinas termossolares solucionar também seu problema de escassez de água. Pois, como resíduo da produção elétrica, as unidades produzem calor. Em vez de dispersá-lo na atmosfera, poder-se-ia utilizá-lo para dessalinizar a água do mar.

Estabilidade indispensável

Há várias locações em cogitação para as usinas no Norte da África. O critério mais importante é que se trate de países politicamente estáveis. No Deserto do Mojave, Califórnia, e na Espanha já existem as primeiras instalações. Segundo as estimativas da Siemens, bastaria uma superfície de 300 vezes 300 quilômetros de espelhos parabólicos no Saara para suprir todo o planeta com eletricidade.

Autor: Khalid El Kaoutit
Revisão: Alexandre Schossler