Gripe aviária: prevenção ou alarmismo?
21 de outubro de 2005Qual é a linha divisória entre prevenção e alarmismo? Em relação aos focos de gripe aviária na Turquia, Grécia, Romênia e Rússia, ninguém na Europa sabe a resposta para essa pergunta. De qualquer forma, não parece haver motivo para as pessoas correrem às farmácias e comprarem o medicamento antiviral Tamiflu, ou mesmo deixar de comer frango, como está ocorrendo no continente.
Há dois temas fundamentais, e eles têm de ser tratados separadamente. De um lado, está a ameaça à saúde dos animais e, do outro, o perigo para os humanos. Antes de mais nada, a gripe aviária é uma epidemia veterinária, um perigo até agora restrito às aves, entre as quais tem causado devastação.
Nenhuma certeza
Dez milhões de aves foram abatidas na Ásia nos últimos dois anos, numa tentativa de evitar que o vírus H5N1 atingisse outras regiões. Entretanto, como o ciclo migratório dos pássaros pode levar a doença para todas as partes do mundo, essas medidas não têm grande efeito.
É crucial considerar as condições em que os animais são criados. A decisão do governo alemão de permitir apenas a criação de aves em confinamento é correta, ainda que possa trazer perdas para a agropecuária orgânica do país.
Não há nada de novo sobre a gripe aviária – na verdade, a doença vem aparecendo e desaparecendo ao longo dos últimos 100 anos. Há dois anos, por exemplo, o vírus eclodiu na Holanda, porém o surto foi contido rapidamente.
Nem mesmo as mais rigorosas precauções bastam para impedir que o vírus causador da doença chegue à Europa central. Entretanto, devido ao bem estruturado sistema preventivo da União Européia e às medidas preventivas já tomadas, são muito boas as chances de controlar a gripe aviária caso ela chegue ao continente.
Em comparação, os países do Oriente Médio e da África Oriental terão mais dificuldades em controlar qualquer aparição do H5N1. O impacto econômico pode ser grande, o que siginifica que essas regiões precisam de apoio no combate à doença.
Ao menos até o momento, os seres humanos não se mostraram um campo fértil para a multiplicação do vírus, uma vez que o mal não é transmitido de uma pessoa para outra. Ainda que possa ser fatal também para humanos, ele é contraído apenas por meio de contato direto com sangue ou excrementos de aves – o que pode ocorrer, por exemplo, na hora do abate de frangos e outros tipos de ave.
Epidemia de gripe
Contudo paira o temor de que o vírus da gripe aviária sofra mutação, tornando-se contagioso entre humanos e desencadeando uma pandemia. Já se fala em milhões de mortes ao redor do mundo. E quanto mais este número é repetido, mais ameaçador parece.
Cientistas estão particularmente nervosos, pois, do ponto de vista estatístico, já estaria mais do que na hora de uma grande epidemia de gripe. Teme-se que o H5N1 se transforme num supervírus, embora não haja qualquer certeza quanto a isso. Um vírus completamente diferente poderia causar a epidemia – e ela pode ocorrer no ano que vem, em 20 anos, ou nunca.
Pensando em termos reais, é uma boa idéia tomar medidas de precaução, como a estocagem de medicamentos pelo governo. Mas não há necessidade para preocupação excessiva ou reações de pânico. Manipular o medo das pessoas, por meio de repetidas referências a uma possível pandemia, é simplesmente irresponsável.