Guaidó anuncia retorno à Venezuela e convoca protestos
3 de março de 2019O líder oposicionista Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por mais de 50 países, encerrou neste fim de semana, no Equador, sua turnê pela América Latina que incluiu países como Argentina e Brasil, onde foi recebido pelo presidente Jair Bolsonaro.
Em pronunciamento ao lado do presidente equatoriano Lenín Moreno, Guaidó anunciou seu retorno à Venezuela, embora corra riscos de ser preso ao chegar ao país, e convocou manifestações contra o regime de Nicolás Maduro para esta segunda e terça-feira.
"Anuncio meu retorno à casa a partir do Equador, país irmão, que hoje também reinicia relações produtivas entre nossos povos, para enfrentar não só a crise migratória, mas também o flagelo da corrupção", disse Guaidó após encontro com Moreno, em Salinas, neste sábado (02/03).
O autoproclamado presidente interino pediu ao povo venezuelano que tome as ruas "na segunda e terça-feira, apesar de também ser carnaval na Venezuela", considerando que "hoje temos pouco a comemorar e muito a fazer". "Por isso vamos pedir protestos nesses dias. Sempre dentro da Constituição", acrescentou.
Em seu discurso, pediu que as autoridades venezuelanas participem dos protestos e voltou a prometer anistia aos militares que deixarem de cooperar com o chavismo. Apesar de recentes deserções de soldados, Maduro ainda conta com o apoio da cúpula das Forças Armadas.
Guaidó chegou no sábado ao Equador, sua última parada de uma excursão que o levou a vários países do continente. Ao longo da semana, visitou Brasil, Colômbia, Paraguai e Argentina, onde foi recebido por chefes de Estado para discutir a crise na Venezuela.
Ele deve retornar a seu país nesta segunda-feira. Até o momento, sabia-se que Guaidó planejava voltar em breve a Caracas, mas a data ainda era desconhecida.
O líder oposicionista deixou a Venezuela em 22 de fevereiro, quando viajou à Colômbia para participar da tentativa de entrega de ajuda humanitária a seu país por vias terrestres no fim de semana passado, que acabou sendo frustrada pelas forças do regime de Maduro.
O presidente venezuelano ameaçou prender Guaidó se ele retornasse ao país, acusando-o de ter desrespeitado uma proibição judicial de deixar a Venezuela. Devido à ameaça, o retorno do oposicionista tem sido visto com preocupação por observadores internacionais.
Em nota emitida no sábado, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro demonstrou preocupação com a segurança de Guaidó nesse retorno.
"O governo brasileiro, ao rechaçar as intimidações e ameaças do regime Maduro contra o presidente encarregado da Venezuela, Juan Guaidó, e sua família, manifesta a expectativa de que sua volta à Venezuela ocorra sem incidentes", diz o texto.
O Itamaraty pede ainda "que os direitos e segurança do presidente Guaidó, seus familiares e assessores sejam plenamente respeitados por aqueles que ainda controlam o aparato de repressão do regime".
A União Europeia (UE), por sua vez, também alertou contra uma possível prisão de Guaidó em Caracas e ameaçou o regime de Maduro com consequências.
"Qualquer medida que comprometa a liberdade, segurança ou integridade pessoal de Guaidó irá gerar um acirramento das tensões e será condenada com firmeza pela comunidade internacional", advertiu na noite de sábado a chefe de política externa da UE, Federica Mogherini, em nome dos Estados-membros do bloco.
Guaidó é presidente da Assembleia Nacional, órgão que representa o Poder Legislativo da Venezuela, de maioria opositora, mas cujos poderes foram suprimidos pelo regime de Maduro. Ele se autoproclamou presidente interino do país no fim de janeiro, sendo reconhecido por mais de 50 países, entre eles os Estados Unidos, o Brasil e vários outros da região.
Potências como China e Rússia, por sua vez, seguem respaldando Maduro. Neste domingo, Moscou afirmou que fará "tudo que estiver a seu alcance" para impedir uma intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela. A opção militar, contudo, já foi descartada pelo próprio Grupo de Lima, formado por uma maioria de países das Américas que defendem a queda de Maduro.
EK/afp/dpa/efe/lusa/ots
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