Guaidó convoca greves na Venezuela
2 de maio de 2019Milhares de manifestantes saíram às ruas nesta quarta-feira (01/05) em várias cidades da Venezuela contra o presidente Nicolás Maduro. Os protestos foram convocados pelo líder oposicionista Juan Guaidó um dia depois do levante que não conseguiu derrubar o governo.
Guaidó discursou aos manifestantes que estavam reunidos em Caracas. O autoproclamado presidente interino do país convocou uma greve progressiva na administração pública a partir desta quinta-feira como novo passo da chamada Operação Liberdade, que visa derrubar Maduro.
"Amanhã vamos acompanhar a proposta de greve escalonada", disse Guaidó diante de milhares pessoas que se concentraram no leste da capital. "Se o regime acreditava que tínhamos chegado ao máximo de pressão, se equivocou. Vamos continuar nas ruas até conseguir a liberdade da Venezuela", declarou.
O opositor também comemorou o fato de que milhares de pessoas estejam nas ruas protestando, "apesar da intimidação" que atribui ao governo de Maduro. Guiadó não se referiu expressamente ao levante fracassado da terça-feira, no entanto, afirmou que continuará convocando protestos até conseguir o fim da "usurpação", que é a forma como se refere ao mandato de Maduro.
Guaidó disse ainda que o chavismo "vai tentar aumentar a repressão" contra as manifestações e, apesar disso, pediu aos cidadãos que usem uma faixa azul como as que empregaram os militares rebeldes que desafiaram o governo.
Sob um sol escaldante, os manifestantes batiam tambores e carregavam cartazes com a inscrição "liberdade". Em outros pontos da capital, grupos entraram em confronto com integrantes da Guarda Nacional Bolivariana (GNB).
As forças de segurança lançaram bombas de gás lacrimogêneo e usaram balas de borracha para dispersar os manifestantes, que respondiam jogando pedras e coquetéis molotov. Os confrontos deixaram ao menos 27 feridos.
Violentos protestos ocorreram nos arredores da base aérea de La Carlota, local onde Guaidó iniciou, na terça-feira, o levante contra Maduro. Manifestantes encapuzados enfrentaram os policiais por mais de três horas. Os agentes dispararam em várias ocasiões para conter o avanço dos opositores.
As manifestações populares contra o governo também aconteceram em várias cidades do interior do país.
Movimento de apoio a Maduro
Os chavistas também saíram às ruas em apoio a Maduro. Em Caracas, o grupo se concentrou no centro e no oeste da cidade para participar dos atos convocados pelo governo para o Primeiro de Maio.
No ato, Maduro acusou os Estados Unidos de terem comando o levante "contra a democracia venezuelana" e afirmou que a Justiça está procurando os responsáveis pela revolta. "Mais cedo ou mais tarde, pagarão com a prisão pelo crime de traição", ressaltou.
Maduro afirmou ainda que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi enganado quando lhe disseram que ele tinha intenção de fugir para Cuba assim que começasse a revolta militar em Caracas. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse na terça-feira que o líder venezuelano desistiu de deixar a Venezuela após ser convencido pela Rússia.
Após a convocação de greve por Guaidó, o dirigente chavista Diosdado Cabello pôs em dúvida que a proposta tenha sucesso e disse que o opositor fala "muitas bobagens". Cabello, uma das principais figuras do chavismo, ironizou ainda as declarações do enviado dos Estados Unidos para o país, Elliott Abrams.
Mais cedo, Abrams afirmou que membros do alto escalão do governo da Venezuela que estariam negociando com a Casa Branca a saída de Maduro do poder desligaram os celulares. Ele disse ter ficado frustrado com o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, o presidente do Tribunal Supremo de Justiça, Maikel Moreno, e o comandante da Guarda de Honra Presidencial, Iván Rafael Hernández Dala. "Falaram, falaram e falaram e, quando chegou o momento da ação, não estavam dispostos a fazer", criticou.
Considerado o "número 2" do chavismo, Cabello acusou o enviado americano de estar mentindo e afirmou que era preciso fazer uma homenagem ao ministro da Defesa pela rápida resposta ao levante militar.
Operação Liberdade
A oposição venezuelana vem há meses realizando grandes protestos contra Maduro, mas ainda não conseguiu tirá-lo do poder. As manifestações desta quarta-feira ocorreram um dia depois de uma ousada tentativa de revolta militar comandada por Guaidó, que não conseguiu romper o respaldo do alto comando militar ao governo.
O levante foi marcado por confrontos em Caracas entre opositores e forças leais ao regime, que deixaram pelo menos 80 feridos e mais de 100 pessoas presas, de acordo com dados não oficiais. Apesar de não ter conseguido atingir o objetivo pretendido, Guaidó insistiu que "Maduro não tem apoio nem respeito das Forças Armadas, muito menos do povo da Venezuela".
Diante da incerteza, a revolta levou dezenas de venezuelanos a fugirem para o Brasil na terça-feira. Segundo dados do governo, 850 venezuelanos entraram no país a pé, quase o triplo da média que atravessa a fronteira diariamente.
Enquanto o líder oposicionista foi apoiado como presidente interino por cerca de 50 países, as Forças Armadas mantiveram seu apoio a Maduro, que conta também com o apoio de aliados como a Rússia, a China e Cuba.
Maduro classificou o levante convocado por Guaidó de uma "escaramuça golpista que foi derrotada" e disse que o regime continua contando com o apoio dos comandos militares.
A crise venezuelana aumentou ainda a tensão entre Estados Unidos e Rússia. Pompeo acusou Moscou de desestabilizar a Venezuela ao apoiar Maduro e afirmou que Washington está preparado para intervir militarmente no conflito, se necessário.
Já o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, criticou a interferência dos Estados Unidos na crise venezuelana. Em comunicado, Lavrov disse ter conversado por telefone com Pompeo e ressaltou que a interferência de Washington em assuntos internos de um país é uma violação do direito internacional. O ministro alertou ainda que a escalada de agressões pode ter consequências sérias.
CN/efe/lusa/afp/ap/rtr
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