Guerra do uniforme de uma peça entre Fifa e Puma
22 de abril de 2004Modelo inteiriço, com a parte superior verde, a inferior vermelha, e detalhes laterais acolchoados acentuando as costelas, à la Batman. Elegante, talvez. Mas certamente irregular. O uniforme adotado pela seleção nacional de futebol da República de Camarões está lhe valendo a perda de seis pontos nas eliminatórias para a Copa do Mundo 2006 e uma multa de 125 mil euros.
No futebol, roupa é bem mais do que uma questão de gosto. Ao sentenciar o ex-campeão africano a essa pena draconiana, a Fifa baseou-se no Artigo 4º do regulamento imposto por seu International Board. Lá consta expressamente que o equipamento dos jogadores compõe-se de chuteiras, caneleiras, meias, camisa e calções.
Entretanto, segundo Horst Widmann, assessor do presidente da Puma, nas Regras de Jogo não há nada impedindo que as duas partes do uniforme sejam costuradas juntas. A fabricante alemã de artigos esportivos pretende apresentar ao Tribunal Regional de Nurembergue uma queixa civil contra a Fifa. E exigirá uma "indenização milionária".
Favorecimento ilícito
A Puma assumiu total responsabilidade sobre o design do uniforme que, segundo ela, é o resultado "dos avanços mais modernos de pesquisa". A multinacional ofereceu apoio incondicional à equipe de Camarões, dispondo-se até a arcar, se necessário, com a salgada multa.
Contudo, Widmann supõe outros motivos por trás de punição tão rigorosa. Ele lembra que a rival Adidas é patrocinadora oficial da Fifa: "É fato que a Adidas tem sido favorecida nos últimos 30 anos. Isso é arbitrariedade", reclamou o assessor.
Prova disso seria que, até há pouco, a faixa da concorrente era classificada como "elemento de design" nas camisas dos jogadores, e não como logotipo de firma. O resultado é que os outros fornecedores de equipamentos tinham menos espaço para publicidade.
Adeus à Copa?
Segundo o presidente da Fifa, Joseph Blatter, seu problema não é com a Puma, mas sim com Camarões. A federação nacional haveria "ignorado a autoridade" da organização internacional de futebol, permitindo o uniforme inteiriço nas quartas-de-final da Copa Africana das Nações.
A Federação Camaronesa de Futebol já fora advertida no início da competição, quando os"leões indomáveis" portaram a controvertida indumentária pela primeira vez. Em resposta, ela prometera por escrito à Fifa adotar um uniforme regular, a partir das quartas-de-final.
Blatter considera inadmissível o desrespeito ao acordo: "Isso tinha que ser punido". Ele nega qualquer intenção de prejudicar a Puma, que no máximo sofreria uma desvantagem financeira com a proibição.
Indignado também está o treinador dos atletas africanos, o alemão Winfried Schäfer. Ele vê como praticamente nulas as chances de seu time participar da Copa do Mundo na Alemanha.