Extremismo e cinema
13 de dezembro de 2011A estreia do jovem cineasta David Wnendt se deu com um filme que vai certamente ser motivo de muitas discussões nas próximas semanas na Alemanha. Kriegerin (Guerreira) revela os bastidores do extremismo de direita nos estados do Leste do país. Um roteiro que, diante das recentes descobertas sobre os assassinatos cometidos pelo chamado Grupo de Zwickau, mostrou ser muito mais realista e verdadeiro do que a maioria dos espectadores gostaria que fosse.
Se tivesse sido lançado há poucos meses, é possível que Guerreira tivesse sido rotulado como um filme cheio de clichês. Mas, nesse meio tempo, a realidade superou a ficção, e Wnendt surge como um diretor com qualidades premonitórias. Depois de ter estreado em meados do ano, no Festival de Cinema de Munique, Guerreira foi exibido em alguns festivais, dentro e fora da Alemanha, tendo recebido diversos prêmios. Em janeiro, o filme chega aos cinemas do país.
Símbolos nazistas e ataques racistas
Wnendt conta a história da jovem Marisa, uma adolescente do interior no Leste alemão, fortemente ligada a um grupo de extrema direita. Tatuada com símbolos nazistas, cheia de ódio e brutal com estrangeiros, ela sobrevive como pode. Seu ambiente próximo é povoado por jovens, em sua maioria homens, todos simpatizantes do nazismo.
Depois de um incidente envolvendo dois jovens afegãos, requerentes de asilo na Alemanha, Marisa perde o controle e os atropela, deixando-os feridos. A seguir, a protagonista acaba se redimindo gradualmente do que fez. Ela entra em contato com os dois afegãos e, por fim, auxilia-os na fuga para a Suécia.
Wnendt conta que, há muitos anos, ele tinha apenas a intenção de fazer uma série de fotografias no Leste alemão, a fim de documentar as ruínas industriais em decadência naquela região do país. Neste contexto, acabou entrando cada vez mais em contato com jovens ligados à extrema direita: "Nos povoados do Leste tem-se a impressão de que se trata de um fenômeno de massas. Achei isso assustador, mas também interessante", relata Wnendt.
Ele começou então a pesquisar intensamente sobre o assunto, entrando em contato com extremistas, sobretudo com mulheres jovens. "Nos últimos anos, a proporção das mulheres na cena da extrema direita aumentou mais ainda. Elas não são mais somente simpatizantes, mas assumem cada vez mais um papel ativo, em diversos sentidos", observa o cineasta.
Ambiente autêntico
Wnendt mostra em seu filme como os jovens, bêbados, gritam palavras de ordem nazistas e assistem, em DVDs, a filmes antigos de propaganda do regime de Hitler. O diretor encena ataques a estrangeiros em trens e bondes, mas também pequenos ataques racistas no dia a dia. Wnendt também mostra seus protagonistas no ambientes familiar, retratando a onipotência dos pais e mães. Isso torna os personagens e cenários realistas e autênticos.
A história só se torna inverossímil, do ponto de vista psicológico, com a aproximação rápida demais entre Marisa e o jovem afegão requerente de asilo. Por que o jovem estrangeiro vai pedir ajuda exatamente a uma garota ligada à extrema direita, pouco depois de ela tê-lo atropelado, permanece um enigma até o fim do filme. O fato de Marisa se redimir do que fez deve-se também mais às convenções dramatúrgicas do cinema do que à plausibilidade psicológica da personagem em questão.
No entanto, apesar das críticas, Guerreira é um filme que deixa o espectador abalado e com a respiração presa. A ideia do diretor, de maneira geral, deu certo. "O filme deve ser educativo sem ser pedagógico. Deve se posicionar sem apelar a clichês. Deve provocar e entreter sem incluir efeitos baratos", diz Wnendt.
Guerreira oferece ao espectador explicações para um tipo de comportamento, que, na verdade, não é explicável. Por que a xenofobia espalha-se exatamente pelo Leste alemão e, lá, nas regiões mais interioranas? Por que os jovens deixam a casa dos pais, fazem tatuagens com símbolos nazistas e saem por aí berrando canções nazistas?
Falta de perspectivas e impotência
Wnendt oferece em seu filme respostas em parte já conhecidas para essas perguntas, mas que vão ao cerne da questão: é a falta de perspectiva dos jovens, a onipotência dos pais, as altas taxas de desemprego e possivelmente também o vácuo ideológico que surgiu na região depois da queda do Muro de Berlim.
Mas há também fenômenos típicos da juventude, pequenas ciumeiras, lutas e concorrência dentro das turmas, que acabam frutificando no solo fértil da disposição à violência e do racismo. Ou seja, são respostas que não surpreendem, mas que, encenadas de maneira interessante num filme de ficção, ganham um grande poder de convencimento.
"Os temas e as opiniões dos extremistas de direita inflitram-se cada vez mais no centro da sociedade", diz Wnendt. Segundo ele, a confiança na democracia está se esmaecendo. O diretor aponta que metade da população do Leste alemão não acredita mais na democracia como a melhor forma de Estado. Mesmo aqueles que não se intitulam "de direita", fala Wnendt, são com frequência xenófobos. E isso, na maioria dos casos, em regiões do país nas quais a percentagem de estrangeiros é muito baixa.
Wnendt realizou com Guerreira um filme extremamente atual. O fato de que sua temática de estreia tenha se tornado subitamente tão atual deve deixá-lo apenas parcialmente feliz, pois a ficção de seu filme é assustadoramente real.
Autor: Jochen Kürten (sv)
Revisão: Alexandre Schossler