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Guterres alerta contra misoginia e desrespeito às mulheres

7 de março de 2023

Secretário-geral da ONU diz que igualdade de gênero está em ritmo lento e progressos obtidos estão sendo perdidos. "O patriarcado contra-ataca, mas responderemos", afirma.

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Menina afegã lê um livro num cemitério
No Afeganistão, meninas foram novamente banidas das escolas pelo regime talibãFoto: Ebrahim Noroozi/AP/picture alliance

No ritmo atual serão necessários 300 anos para que seja alcançada a igualdade entre homens e mulheres, alertou nesta segunda-feira (06/03) o secretário-geral da ONU, António Guterres, em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado na quarta (08/03).

"Os progressos obtidos em décadas estão se evaporando diante de nossos olhos", afirmou na abertura da 67ª sessão da Comissão sobre a Condição Jurídica e Social da Mulher, que prosseguirá até 17 de março.

"A desinformação e a desinformação misógina florescem nas plataformas das redes sociais. A chamada trolagem de gênero visa especificamente silenciar as mulheres e removê-las da vida pública. As histórias podem ser falsas, mas o dano causado é muito real", declarou Guterres.

Um dos focos do seu discurso foi a situação no Afeganistão, onde o regime talibã tem deteriorado os direitos das mulheres, com restrições como a segregação por sexo em lugares públicos, a imposição do véu ou a obrigação de serem acompanhadas por um familiar do sexo masculino em viagens longas, além de proibir meninas de estudar.

"No Afeganistão, mulheres e meninas foram apagadas da vida pública. Em muitos lugares, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres estão sendo revertidos. Em alguns países, as meninas que vão à escola correm o risco de serem sequestradas e agredidas. Em outros, a polícia ataca mulheres vulneráveis que jurou proteger", relatou.

Ele destacou que a pandemia de covid-19 e as guerras no mundo, da Ucrânia ao Sahel, afetaram em primeiro lugar as mulheres e as meninas.

Tecnologia e inovação

Em seu discurso de abertura da sessão, que este ano abordará as diferenças de gênero nos âmbitos da tecnologia e da inovação, o secretário-geral da ONU também enfatizou que mulheres e meninas estão ficando para trás na corrida tecnológica.

"Três bilhões de pessoas ainda não estão conectadas à internet, e a maioria delas são mulheres e meninas em países em desenvolvimento. E nos países menos desenvolvidos, apenas 19% das mulheres estão online", denunciou.

Recorrendo a mais dados, Guterres apontou também que as meninas e mulheres representam apenas um terço dos estudantes de ciências, tecnologia, engenharia e matemática e alertou que a disparidade de gênero é ainda maior no setor da inteligência artificial, onde "apenas um em cada cinco trabalhadores é uma mulher".

O patriarcado contra-ataca

"Séculos de patriarcado, discriminação e estereótipos nocivos criaram uma enorme lacuna de gênero na ciência e na tecnologia. A inteligência artificial está moldando nossos mundos futuros. Esperamos que não o faça com um viés de gênero", acrescentou.

"Sem a perspicácia e a criatividade de metade do mundo, a ciência e a tecnologia realizarão apenas a metade de seu potencial", advertiu Guterres.

Ele fez um apelo urgente para empoderar as mulheres e melhorar a situação delas nos âmbitos trabalhista e educativo e aumentar seu nível de renda. Além disso, pediu aos líderes políticos que promovam a plena participação de mulheres e meninas na liderança científica e tecnológica.

"O patriarcado contra-ataca, mas responderemos. Estou aqui para dizer alto e claro: as Nações Unidas estão com as mulheres e meninas em todos os lugares", afirmou Guterres, assegurando que a ONU jamais renunciará à luta pelos direitos fundamentais.

as/rk (Efe, Lusa, AFP)