Guterres presta juramento na Assembleia Geral da ONU
13 de dezembro de 2016O português António Guterres, eleito próximo secretário-geral das Nações Unidas, prestou juramento nesta segunda-feira (12/12) na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Sua posse será no dia 1º de janeiro de 2017, quando substitui o sul-coreano Ban Ki-moon no comando da organização.
"Juro solenemente exercer com toda a lealdade, discrição e consciência as funções a mim atribuídas como secretário-geral das Nações Unidas", declarou Guterres, comprometendo-se ainda a não "procurar ou aceitar instruções de nenhum governo ou autoridade alheia à organização".
Em seu discurso inaugural de 15 minutos, em que falou em inglês, francês e espanhol, o português afirmou que seu mandato, com duração de cinco anos, terá "três prioridades estratégicas": otimizar a gestão interna da organização, trabalhar pela paz e promover o desenvolvimento sustentável.
"É hora de reconhecermos as deficiências. A ONU deve estar pronta para mudar", defendeu o político, que já foi primeiro-ministro de Portugal. "A organização precisa ser mais ágil e eficiente. Deve se concentrar mais na entrega e menos no processo, mais nas pessoas e menos na burocracia."
Guterres, que declarou estar preparado para "se envolver pessoalmente" na resolução de conflitos mundo afora, observou ainda que assume o comando das Nações Unidas num momento em que as pessoas em todo o mundo estão perdendo a confiança em seus líderes, autoridades e instituições.
"É hora de reconstruir as relações entre o povo e seus líderes – tanto nacionais como internacionais. É hora de os líderes ouvirem e mostrarem que se importam com seu povo e com a estabilidade e a solidariedade mundiais das quais dependemos", afirmou o próximo secretário-geral.
Trajetória
Guterres, de 67 anos, foi indicado ao cargo em 5 de outubro pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. A nomeação foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU uma semana mais tarde.
A partir de 1º de janeiro, ele lidera uma organização que conhece bem, depois de ter chefiado o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), entre junho de 2005 e dezembro de 2015, uma organização com cerca de 10 mil funcionários em 125 países.
A ONG Human Rights Watch saudou a indicação de Guterres, classificando-o de "advogado direto e efetivo dos refugiados". Segundo a organização, "numa época de grandes desafios", ele teria "o potencial para encontrar um tom radicalmente novo em relação aos direitos humanos".
Antes do Acnur, o diplomata foi presidente da organização Internacional Socialista, com sede em Londres, entre os anos de 1999 e 2005, de onde saiu para chefiar o Alto-Comissariado da ONU.
De 1996 a 2002, Guterres foi primeiro-ministro de Portugal, renunciando ao cargo depois da derrota do Partido Socialista nas eleições autárquicas. Na época, justificou a decisão com a necessidade de evitar que o país, "num momento de crise internacional", caísse num "pântano político".
Experiência, urbanidade, talento linguístico e descontração são algumas das qualidades atribuídas a Guterres. Além disso, é considerado um excelente orador, dominando fluentemente os idiomas da ONU e se afirmando como estrategista habilidoso, que persegue com tenacidade suas metas.
Em discurso de despedida nesta segunda-feira, Ban Ki-moon, que liderou a ONU nos últimos dez anos, disse ter certeza que Guterres – um homem "de integridade e princípios", nas suas palavras – vai reagir "com sucesso" aos muitos desafios do cargo e trazer novas conquistas à organização.
O diplomata sul-coreano ainda destacou o papel das Nações Unidas em sua trajetória pessoal. "Para mim, o poder da ONU nunca foi abstrato ou acadêmico, é a história da minha vida", afirmou.
"A ONU nos alimentou. Os livros didáticos da ONU nos ensinaram. A solidariedade da ONU mostrou que não estávamos sozinhos", disse Ban, lembrando sua infância durante a Guerra da Coreia.
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