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Haiti declara emergência após fugas em massa de presos

4 de março de 2024

Onda de violência agrava crise institucional no país caribenho, enquanto premiê busca apoio para envio de nova missão de paz da ONU. Facções criminosas querem depor atual governo, que ignora acordo por novas eleições.

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Criminosos com rostos encobertos depredam automóvei em rua de Porto Príncipe
Gangues do Haiti vêm realizando ataques de forma cada vez mais coordenadaFoto: Ralph Tedy Erol/REUTERS

O governo do Haiti declarou estado de emergência e impôs um toque de recolher neste domingo (03/03) em meio a uma onda de violência que culminou em fugas em massa de dois dos maiores presídios do país durante o fim de semana.

O toque de recolher será válido por 72 horas, das 18h às 5h, enquanto as autoridades realizam operações de busca para recuperar os fugitivos. A medida, assim com o estado de emergência, poderá ser prorrogada pelo governo.

As autoridades adotaram as medidas de exceção após a violência se espalhar pela capital, Porto Príncipe. Neste domingo, facções criminosas invadiram os presídios e libertaram centenas de detentos, deixando mais de uma dezena de mortos.

Jimmy Cherisier, um dos mais poderosos líderes criminosos do Haiti, conhecido pelo apelido Barbecue ("churrasco"), afirmou em vídeos postados nas redes sociais que o objetivo dos insurgentes é derrubar o primeiro-ministro Ariel Henry, que governa o país desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021.

Fugas em massa

Apenas uma centena dos cerca de 3.800 detentos da Penitenciária Nacional – a maior do país – ainda estavam no local após a fuga deste fim de semana, afirmou Pierre Esperance, da Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos. "Contamos muitos corpos de prisioneiros", relatou.

Entre os poucos detentos que permaneceram no presídio, estava um grupo de 18 ex-soldados colombianos acusados de atuarem como mercenários e de envolvimento no assassinato de Moïse.

Policiais armados em confronto com criminosos em rua de Porto Príncipe
Polícia recebeu ordens para usar todos os meios legais para impor o toque de recolher e prender os criminososFoto: Ralph Tedy Erol/REUTERS

No sábado à noite, os colombianos divulgaram um vídeo pedindo ajuda, afirmando que as gangues massacravam pessoas indiscriminadamente dentro das celas. Um deles disse a jornalistas que não fugiu porque era inocente. O Ministério do Exterior da Colômbia pediu ao governo do Haiti proteção especial ao grupo.

Outro presídio em Porto Principe com cerca de 1.450 detentos também foi invadido. Não havia ainda informações sobre quantos prisioneiros fugiram do local.

"A polícia recebeu ordens para usar todos os meios legais a seu alcance para impor o toque de recolher e prender todos os criminosos", informou em nota o ministro das Finanças do Haiti, Patrick Boivert, que atua como primeiro-ministro interino.

Ataques a instituições

Em menos de duas semanas, várias instituições foram atacadas por gangues em ações cada vez mais coordenadas contra alvos antes impensáveis, como a sede do Banco Central. Na última quinta-feira, quatro policiais morreram nos ataques.

Tiros foram ouvidos em vários bairros da capital. Redes de internet ficaram fora de serviço após a maior empresa do país relatar que uma conexão de cabos de fibra ótica foi cortada durante os distúrbios.

Após ataques a tiros ao aeroporto internacional do país, na semana passada, a embaixada dos Estados Unidos anunciou a suspensão de todas as viagens oficiais ao Haiti e alertou os cidadãos americanos para que deixassem o país o mais rápido possível. Todos os compromissos consulares na embaixada foram cancelados até a próxima quinta-feira.

O premiê Henry se encontra fora do país desde a semana passada. Ele viajou ao Quênia para pedir o envio de uma força de paz internacional apoiada pela ONU, a ser chefiada pelo país africano.

Premiê pede envio de missão internacional

O Conselho de Segurança da ONU aprovou em outubro passado o envio de uma missão internacional ao Haiti. O governo queniano concordou em liderá-la, mas a decisão ainda é alvo de disputa na Justiça do país. Em janeiro, um tribunal declarou ilegal o envio de tropas à nação caribenha.

Na sexta-feira, em Nairobi, Henry assinou um acordo com o presidente queniano, William Ruto, sobre o envio da força militar. O líder queniano relatou que ambos discutiam os próximos passos para acelerar a medida, embora não haja garantias de que o acordo poderá se impor à decisão da Justiça.

Premiê haitiano, Ariel Henry, discursa em evento em universidade no Quênia
O premiê haitiano, Ariel Henry, viajou ao Quênia para pedir envio de força de segurança apoiada pela ONUFoto: Andrew Kasuku/AP Photo/picture alliance

Segundo a ONU, a polícia haitiana possui apenas 9 mil membros com a missão de dar segurança a uma população de 11 milhões. A força policial é rotineiramente superada pelas facções criminosas, que, segundo estimativas, controlam 80% de Porto Príncipe.

O governo dos EUA, que se recusou a enviar tropas para uma possível força-tarefa internacional no Haiti, se limitou a transferir recursos financeiros e apoio logístico. Após os últimos acontecimentos, Washington informou que acompanha com preocupação a situação de segurança na nação caribenha.

Instabilidade política

Henry, neurocirurgião de formação, rejeitou vários pedidos por sua renúncia e adiou diversas vezes a realização de eleições parlamentares e presidenciais, que não ocorrem desde 2016. Desde então, a Presidência do país continua vaga.

Os críticos o acusam de ignorar um acordo político sob o qual ele deveria ter cedido o poder a autoridades eleitas até a data de 7 de fevereiro deste ano.

rc/bl  (AP, AFP)