Na próxima quinta-feira (26/08), Hansi Flick, o recém-empossado novo técnico da seleção alemã, vai convocar os jogadores que vão compor a Mannschaft para os primeiros três jogos das eliminatórias da próxima Copa do Mundo. Os adversários não são de peso – Liechtenstein, Armênia e Islândia –, mas todo cuidado é pouco. Basta lembrar o pífio desempenho da Alemanha na última Eurocopa quando foi eliminada já na fase de grupos, dando adeus às suas ambições, ao mesmo tempo que Joachim Löw dava por encerrada a sua carreira e botava definitivamente a sua viola no saco.
Hansi Flick, além de conhecer bem a estrutura interna da Federação Alemã de Futebol e o quanto essa estrutura gira em torno da seleção principal, assumiu a direção técnica cercado de profissionais de sua mais estrita confiança, como Mads Buttgereit, um especialista em jogadas ensaiadas e de bolas paradas.
Ao portal Transfermarkt, Flick declarou recentemente: "Se times de ponta estivessem dispostos a investir tempo em treinos específicos, visando o maior aproveitamento possível do potencial de jogadas a partir de bolas paradas, como cobrança de escanteios ou de faltas, seriam praticamente invencíveis."
Resultados medíocres
Bem, a última vez que alguém fez uma profecia desse tipo foi há 31 anos, quando Franz Beckenbauer, então técnico da seleção, exclamou num arroubo incontido depois de vencer a Copa de 1990: "Seremos invencíveis pelos próximos 20 anos". O seu sucessor, Berti Vogts, teve que conviver com o peso dessa profecia maldita nas suas costas com os resultados medíocres conhecidos.
Não é o caso de Hansi Flick, que assume o leme de uma seleção que, depois de 2014 e ainda mais um pouco após 2018, perdeu o rumo e navega à deriva no competitivo futebol mundial, transformando-se nesses últimos anos numa fraca força intermediária distante das grandes potências futebolísticas europeias e sul-americanas.
Logo de cara já se sabe que ele trabalhará de forma diferente do seu antecessor. Enquanto Löw tentava adaptar os jogadores aos seus conceitos, Flick faz exatamente o contrário. Ele adapta os seus conceitos aos jogadores disponíveis. É um pragmático.
"Os melhores jogadores deverão atuar pela Alemanha." Essa será uma das colunas mestras do trabalho da comissão técnica e um princípio do qual não abrirá mão. "Enquanto Müller e Hummels, por exemplo, tiverem desempenhos de alto rendimento, serão convocados. Não importa a idade", afirma o treinador.
O mesmo poderá valer para jogadores como Marco Reus (32 anos) e Mario Götze (29 anos), ambos descartados pela gestão anterior: "Vamos ver quem está em boa forma e convocar os jogadores que queremos."
Pelo jeito, as portas podem se abrir novamente para o autor do gol do título de 2014. Suas atuações pelo PSV chamaram a atenção de Flick: "Parece estar no bom caminho". Quanto a Marco Reus, a opinião do técnico é ainda mais positiva: "No último terço do campo, no ataque, Reus é o melhor jogador alemão da atualidade." Diante do exposto, é fácil concluir que Marco Reus deverá estar na lista da próxima convocação.
Reconquistar a torcida
O pragmatismo de Hansi Flick o impulsiona em busca de bons resultados a curto prazo. O jornalista Thomas Böcker (agência de notícias DPA) destaca que o trabalho do novo técnico "não se pauta por longos ciclos, uma característica da era Löw que justificava maus desempenhos com o argumento de que o time precisa de mais tempo porque ainda está em construção". Essa era acabou.
A nova era com Hansi Flick começa agora. E com ele uma nova esperança pode raiar no horizonte da Nationalelf (os 11 nacionais). Afinal, ao assumir a seleção, Flick trouxe em sua bagagem sete títulos conquistados em parcos 18 meses. Sua tarefa agora é liderar a combalida Alemanha de volta à primeira prateleira do futebol mundial e, ao mesmo tempo, reconquistar a confiança da grande massa torcedora.
O pontapé inicial da nova jornada será dado daqui a alguns dias, pelas eliminatórias da Copa do Mundo 2022 contra Liechtenstein, Armênia e Islândia. Não deve ser tão difícil começar com o pé direito, não acham?
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras.