Hollande tem desafio de enfrentar impopularidade e manter reformas
1 de abril de 2014A situação do presidente François Hollande não é de se invejar. Apenas um dia após o Partido Socialista sofrer derrotas amargas nas eleições regionais no último domingo (30/03), o governo da França recebeu mais algumas notícias nada animadoras.
O Instituto Nacional de Estudos Estatísticos e Econômicos (Insee) anunciou que a dívida pública atingiu um novo patamar, chegando a 93,5% do PIB, e que o déficit orçamentário é maior do que se esperava (4,3%).
Os números deixam claro que o programa de reformas econômicas de Hollande ainda não surtiu efeito, enquanto os resultados das eleições demonstram que o apoio popular ao seu governo anda em baixa.
"As pessoas estão frustradas com o baixo crescimento e o alto desemprego", diz Carsten Brzeski, diretor econômico do banco ING-Diba. "A população ainda não está claramente ciente do que está acontecendo. O problema é que ainda não houve, de fato, reformas estruturais".
Novas soluções
Brzeski acredita que as reformas são essenciais para reduzir a dívida e revigorar o mercado de trabalho. "A França se encontra na mesma situação da Alemanha no início do século", observa o economista.
Na época, o chanceler federal Gerhard Schröder introduziu um pacote de reformas chamado "Agenda 2010", que incluía o relaxamento das leis de proteção ao trabalhador, além de reduções no auxílio-desemprego, seguros de saúde e pensões.
Para o economista, a França não terá como evitar a adoção de medidas semelhantes às de Schröder: "Os franceses devem se libertar da concepção de que a ajuda deve vir de fora."
O país costumava basear sua política econômica na desvalorização do franco – moeda francesa anterior à adoção do euro – ou em programas custeados pelo Estado, financiados através de dívidas. Hoje em dia, essas duas opções são inviáveis, explica Brzeski.
O governo francês já começou há alguns meses a flexibilizar o mercado de trabalho, enquanto, ao mesmo tempo, aliviou algumas cargas ao setor empresarial, aponta Claire Desmemay, do Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP). "Os sindicatos foram incluídos no processo, e as grandes greves foram evitadas", diz. "Não chega a ser uma Agenda 2010, mas já é um início."
Pacto de responsabilidade
As medidas, porém, amedrontam muitos franceses. O "pacto de responsabilidade", como é chamado o pacote de reformas de Hollande, tem alguns pontos em comum com as reformas alemãs: a redução dos benefícios sociais e dos direitos trabalhistas.
A ala mais à esquerda do Partido Socialista critica o plano, mas nem mesmo o recente revés eleitoral não deverá deter Hollande. "É uma ilusão, mesmo porque tanto o mercado financeiro quanto os parceiros europeus observam atentamente o que o governo faz", analisa Demesmay.
Enquanto o presidente dispõe de maior controle sobre a política interna, em comparação com o governo de Schröder, seus oponentes são mais poderosos do que eram os do ex-chanceler alemão.
"Os sindicatos na França são bem menos conciliatórios, eles têm uma cultura de confrontação", explica Demesmay. "Até agora, Hollande tem optado por uma política de pequenos passos, no intuito de proteger seus correligionários e a população. Mas não sei se ele vai conseguir manter esse ritmo após a derrota nas eleições regionais."
Sem retroceder
Segundo Demesmay, Hollande deve comunicar mais claramente à população o que está em jogo na França. Jean-Marc Ayrault, que renunciou à chefia de governo logo após a derrota nas eleições, pensa da mesma forma. O governo, afirma, não disse com clareza suficiente o quão difícil é a situação do país.
Na noite de segunda-feira, Hollande nomeou como novo primeiro-ministro Manuel Valls, ex-ministro do Interior e que pertence à ala da direita do Partido Socialista. No entanto, observa Brzeski, a troca no gabinete não deve mudar a conjuntura econômica atual.
"Hollande não tem outra escolha a não ser manter o curso", afirma. Sua única esperança, segundo o economista, seria "esperar que os primeiros sinais positivos de uma recuperação apareçam a tempo para sua próxima campanha presidencial".
No caso de Schröder, os sinais veiram tarde demais. Após seu governo adotar a Agenda 2010, seu partido, o Social-Democrata (SPD), perdeu as eleições de 2005 para Angela Merkel.