Kraftwerk
7 de março de 2009Os quatro integrantes do Kraftwerk chegam na segunda quinzena de março ao Brasil para duas apresentações no Rio de Janeiro (20/03) e em São Paulo (22/03). Para a banda, que é um dos principais produtos de exportação da música eletrônica alemã, será uma primeira chance de provar ao público brasileiro que seus espetáculos continuam tão impactantes como antes, mesmo após o desligamento oficial de Florian Schneider-Esleben, um de seus membros-fundadores.
Não é a primeira vez que o Kraftwerk troca de formação. Desde 1970, já passaram pelo grupo outros dez integrantes, sem que isso representasse qualquer queda na produtividade desta usina sonora. Afinal, a dupla que inventou a banda – o próprio Schneider e Ralf Hütter – ainda permanecia em seus postos. Agora Hütter está só na sala de comando, à frente de Fritz Hilpert, Henning Schmitz e do ex-operador de vídeo do estúdio Kling Klang, Stefan Pfaffe, que veio ocupar o lugar de Florian Schneider.
Mas a saída do artista, que no palco se encarregava da bateria eletrônica, da flauta e do violino, parece não ter chocado muito os fãs da banda pioneira da música eletrônica. Poucos dias depois que os produtores do festival Movimentos – organizado em Wolfsburg pela Volkswagen – colocaram os ingressos à venda para as três apresentações do Kraftwerk em abril, os bilhetes se esgotaram.
Repercussão na mídia alemã
A imprensa alemã deu bastante destaque ao comunicado oficial da EMI, gravadora do Kraftwerk, confirmando a saída de Schneider no início de janeiro. Mas salientou principalmente o desconforto de saber da notícia só depois da mídia britânica, já que foi o New Musical Express o primeiro a divulgar a informação na internet. Ainda que Schneider tenha se ausentado de todos os nove concertos realizados pelo quarteto no ano passado, ninguém na Alemanha parecia suspeitar do que estava de fato acontecendo.
Para o Frankfurter Allgemeine Zeitung, "da mesma forma minimal como o duo sempre operou, ele também se separou". O Die Welt foi taxativo ao reconhecer o significado dos doze álbuns do Kraftwerk para a música, lembrando que "só bandas se desintegram, ícones e idéias jamais", e que não há razões para temer um “curto-circuito” na qualidade do trabalho do grupo pois, "no caso deles, todos são substituíveis. Até mesmo por robôs, em caso de emergência.”
Enquanto o Tagesspiegel considerou a auto-demissão de Florian Schneider o fim de uma instituição cultural alemã, o Taz sentenciou: “A dupla que inventou o homem-máquina, que cantava se imaginando como robô, e que ia para o estúdio como outros vão para o escritório, se separou e quase ninguém reparou porque o conceito deles é tão bem sucedido, que ninguém se interessa por quem está por trás”.
A máquina é o mito
O Kraftwerk foi criado em Düsseldorf no ano de 1970 pelos amigos Florian Schneider e Ralf Hütter, que já vinham trabalhando juntos no grupo Organisation, que fundaram em 1968. O Organisation, um típico representante do krautrock, acabou gravando apenas um LP, intitulado Tone Float, que apostava num tipo de rock influenciado pela psicodelia do Pink Floyd.
Em 1970, a dupla montou um estúdio próprio – o hoje quase lendário Kling Klang Studio – para embarcar na viagem eletrônica do Kraftwerk. No segundo semestre daquele mesmo ano, lançaram seu disco de estreia, ainda acompanhados por dois bateristas que só participaram do primeiro trabalho: Klaus Dinger, falecido no ano passado, e Andreas Hohmann. O álbum, ainda voltado à sonoridade acústica, chegou a ficar entre os trinta mais vendidos da parada alemã. Mas a alta rotatividade dos membros coadjuvantes da banda prosseguiu.
Em 1974, o Kraftwerk conseguiu alcançar visibilidade internacional com o lançamento de Autobahn, cuja faixa-título durava 22 minutos. O disco fez sucesso até no Brasil, onde o tema “Mitternacht” chegou a ser usado como vinheta dos quadros de suspense do programa televisivo Fantástico.
Opção pela arte
Até o final dos anos 70, o grupo lançou sete álbuns, com clássicos como “Radioaktivität”, “Trans-Europa Express”, “Die Roboter” e “Das Model”, um de seus maiores hits. De lá para cá, os intervalos entre um disco e outro foram aumentando. Consolidados no olimpo da música pop mundial, eles – que nunca abriram mão de batizar os trabalhos em alemão, nem de cantar em sua língua materna quando bem entendessem – optaram por priorizar a qualidade em relação aos lucros.
Wolfgang Flür, que a partir de 1972 pilotou a bateria eletrônica da banda por longos 14 anos, afirmou certa vez: “Tivemos que receber o aval dos Estados Unidos e lá ganhar nossas medalhas de ouro para que a Alemanha se interessasse realmente por nós”.
Trinta anos depois, incumbido de compor uma vinheta para a feira Expo 2000 em Hannover, o Kraftwerk gerou polêmica: gravou uma peça de quinze segundos, na qual uma voz robótica repetia em diversos idiomas o nome do evento, e faturou um cachê respeitável de 400 mil marcos (cerca de 200 mil euros).
Autor: Felipe Tadeu
Revisão: Rodrigo Rimon