Homicídios crescem na Amazônia, na contramão do país
28 de junho de 2022O 16º anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicação que reúne dados de instituições de segurança de diferentes partes do Brasil, revelou uma queda de 6% nas mortes violentas no Brasil em 2021. No entanto, a região Norte o número de assassinatos aumentou no ano passado.
Segundo o documento, divulgado nesta terça-feira (28/06), o número de homicídios em todo o Brasil manteve a tendência de queda observada desde 2018. No ano passado, foram registradas 47.503 vítimas e 22,3 mortes violentas para cada 100 mil habitantes, o menor índice desde 2011.
As mortes violentas intencionais (MVI) incluem casos de latrocínio, homicídio doloso, mortes por intervenção policial e lesão corporal seguida de morte. Entre as vítimas, 91% são do sexo masculino, 78% são afrodescendentes e 51% são jovens.
Na região Norte, o aumento nas mortes violentas foi de 9%, com taxa de 33,3 casos para cada 100 mil habitantes – a segunda maior taxa entre todas as regiões. O índice mais elevado foi registrado na região Nordeste, com 35,5.
Entre as 30 cidades brasileiras com as maiores taxas médias de mortes violentas, entre 2019 e 2021, 13 estão na Amazônia, sendo que onze destas, nas áreas rurais. Estes municípios registraram mais de 100 mortes violentas para cada 100 mil habitantes.
Recentemente, o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira no vale do Javari – uma região remota do estado do Amazonas palco de conflitos entre indígenas e invasores de terras – chamou a atenção mundial para a violência e a falta de policiamento na região.
O crescimento da violência na Amazônia é atribuído, em grande parte, ao tráfico de drogas e à forte presença de armas, além do desmonte de mecanismos de fiscalização e proteção. Quase todos os 13 municípios estão próximos a terras indígenas e a fronteiras internacionais.
Na Amazônia Legal – que reúne os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins - e em parte do Maranhão, a taxa de mortes violentas é de 30,9, bem mais elevada do que a média brasileira.
Na avaliação por estado, a taxa mais alta foi observada no Amapá, com 53,8 por 100 mil habitantes. Entretanto, o aumento mais acentuado das mortes violentas ocorreu no Amazonas, com 1.670 homicídios em 2021, contra 1.121 em 2020, ou sejam um crescimento de 49%.
O anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública utiliza dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das secretarias estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social, e da Polícia Civil de Minas Gerais, além do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, do Núcleo de Apoio Técnico do Ministério Público do Acre, e do próprio Fórum.
Certificados de registros de armas em alta
O anuário revela que o número de pessoas com certificado de registro de armas de fogo cresceu 474% durante o governo Jair Bolsonaro.
Os dados se baseiam em informações do Exército, e incluem registros para atividades de caçador, atirador desportivo e colecionar (CAC) até 1º de julho de 2022, além de outros tipos de registros que também tiveram crescimento.
O Brasil possui 673,8 mil registros CAC, o que significa 314 em cada cem mil pessoas possuem a autorização. Em 2018, esse número era de 117,5 mil, ou seja, 56 pessoas a cada 100 mil.
O estado de São Paulo acumula a maior parte dos registros CAC (26%), seguido do Paraná e Santa Catarina, que concentram 16%. Por sua vez, o Rio Grande do Sul representa 11% do total.
A região Sul, como um todo, possui 25% dos registros CAC no Brasil, segundo dados do IBGE.
Leve queda nos feminicídios
A análise divulgada no anuário, com base informações das secretarias estaduais de segurança pública, aponta que o número de vítimas de feminicídio – o assassinato de mulheres cometido em razão do gênero – teve uma leva queda de 1,7% em 2021.
Em 2021, 1.341 mulheres foram vítimas de feminicídio, enquanto em 2020 o número de vítimas foi 1.354. A taxa de assassinatos por 100 mil mulheres caiu de 1,3 e para 1,2, o que significa uma redução de 1,7%.
Em contrapartida, cresceram os registros de outros tipos de violência contra as mulheres, como lesão corporal dolosa, ao mesmo tempo em que aumentaram as chamadas para o número das polícias militares, o 190, associadas a casos de violência doméstica.
Também aumentaram os registros de ameaças às mulheres, assim como os pedidos e a concessão de medidas protetivas de urgência.
rc (ots)