História
27 de maio de 2008O amor que não ousa dizer o nome. Como se estivesse olhando através de uma janela, o observador vê uma cena de filme em preto-e-branco: dois homens se beijando projetados no interior de um bloco retangular de concreto de cerca de quatro metros de altura.
Num misto de instalação e escultura, o duo de artistas Michael Elmgreen e Ingar Dragset projetou o memorial dos homossexuais perseguidos pelo regime nacional-socialista, que o ministro alemão da Cultura, Bernd Neumann, inaugura nesta terça-feira (27/05) em Berlim.
Localizado em frente ao Memorial do Holocausto, a forma retangular do novo monumento dialoga com as colunas cinza retangulares do memorial aos judeus assassinados pelo regime de Hitler.
Além de honrar as vítimas perseguidas e mortas pelos nazistas, a Alemanha deseja, com este monumento, manter acordada a lembrança da injustiça e estabelecer um sinal duradouro contra a intolerância, a hostilidade e a exclusão de gays e lésbicas, explicam os dizeres ao lado do novo memorial.
Beijo gay, beijo lésbico
Em 12 de dezembro de 2003, o Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, decidiu a construção do monumento aos homossexuais – contra os votos dos partidos da União (CDU/CSU), à qual pertence a atual chanceler federal alemã Angela Merkel.
Este foi um belo presente de aniversário para o deputado federal do Partido Verde Volker Beck, ativista homossexual e um dos principais incentivadores do monumento.
Para Beck, a importância do memorial está no fato de ter sido negada, durante muito tempo, a injustiça feita a gays e lésbicas. O mesmo Parágrafo 175 do Código Penal Alemão que permitiu aos nazistas a perseguição e o assassinato de homossexuais foi válido na República Federal da Alemanha até 1969.
Quanto à resolução artística do monumento, o deputado não demonstra preocupação. Após críticas, principalmente de mulheres, a obra foi remodelada. No primeiro projeto, serão vistos dois homens se beijando. Mais tarde, serão duas mulheres.
Responsabilidade especial
A partir de 1935, os nazistas acirraram o Parágrafo 175. Um beijo entre pessoas do mesmo sexo já bastava para a perseguição judicial. Houve mais de 50 mil julgamentos. Os nazistas conseguiram impor, algumas vezes, até mesmo a castração das vítimas.
O Parágrafo 175 significava prisão em campos de concentração. Muitos não sobreviveram. Eles morriam de fome, doenças ou foram vítimas dos assassinatos sistemáticos.
Com exceção da Áustria anexada, a homossexualidade feminina não sofreu perseguição. Lesbianismo não era considerado perigoso ao regime. Se lésbicas, no entanto, entrassem em conflito com os nazistas, também se tornavam vítimas das repressões.
Direitos humanos de gays e lésbicas
O governo alemão observa a importância do novo monumento também pelo fato de pessoas serem, em várias partes do mundo, ainda hoje vítimas de hostilidade devido à sua identidade sexual.
"Devido a sua história, a República Federal da Alemanha tem a especial responsabilidade de se posicionar, decididamente, contra as agressões aos direitos humanos de gays e lésbicas", lê-se na placa do memorial.
Segundo o deputado Volker Beck, existem hoje mais de 80 países onde a homossexualidade entre pessoas adultas é passível de punição, que pode chegar até mesmo à pena de morte em 12 desses países – o que faz lembrar os nazistas e a importância do atual monumento.