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Rir da Guerra

31 de outubro de 2011

O filme de Leander Haussmann sobre o famoso "Hotel Lux" em Moscou é um empreendimento ousado. O diretor alemão transforma a obscura história da Segunda Guerra Mundial em comédia.

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Cenário do filme
Revolução mundial dentro do hotelFoto: 2011 Bavaria Pictures/Stephan Rabold

Fazer piadas sobre Hitler e Stalin não é para qualquer um - muito menos no cinema. Nazismo e Stalinismo não são exatamente o material ideal para comédias. Ainda assim, alguns diretores já o fizeram, como Charlie Chaplin (O Grande Ditador), Ernst Lubitsch (To be or not to be) e mais tarde Mel Brooks (Primavera para Hitler) e Roberto Benigni (A Vida é Bela). Todos conseguiram dar ao tema pesado um tom de comédia e, com isso, transmitir uma mensagem de humanidade e tembém de revolta.

O alemão Leander Haussmann é o mais novo diretor a lançar um olhar humorístico sobre a tragédia da Segunda Guerra Mundial em seu novo filme, Hotel Lux. E ele fez isso ciente dos riscos.

"Os acontecimentos que associamos diretamente com o destino de 20 milhões de vítimas são um drama, e por isso extremamente inadequados à comédia", disse Haussmann. O diretor mandou para Moscou seus dois atores principais, Bully Herbig e Jürgen Vogel, que interpretam comediantes da Berlim dos anos 1930.

Hans Zeisig (Bully Herbig), Frida van Oorten (Thekla Reuten), Siggi Meyer (Jürgen Vogel) em cena
Hans Zeisig (Bully Herbig), Frida van Oorten (Thekla Reuten), Siggi Meyer (Jürgen Vogel) em cenaFoto: Constantin Film Verleih GmbH

Armadilha mortal

Na Rússia, os dois homens se vêem em meio ao caos da Segunda Guerra Mundial. O cenário do filme é o famoso Hotel Lux, no centro de Moscou, que serve como ponto de encontro para os comunistas perseguidos em todo o mundo. O problema é que o local é também uma armadilha mortal para quem é perseguido pelos agentes implacáveis de Stalin.

O filme não vai agradar a todos. Fazer piada, ainda que sutil, sobre atrocidades históricas, morte e tortura é suficiente para afastar muitos espectadores. Mas Haussmann e sua equipe foram capazes de tirar material fictício de fatos históricos para criar uma comédia do absurdo.

O diretor usa elementos de comédia para levar o espectador a se interessar por assuntos sérios. "Nós não fazemos nenhum pastelão. Nós mostramos uma pessoa em fuga, presa em um labirinto de experiências confusas", explica Haussmann. "Muitas das coisas que aconteceram no Hotel Lux são absurdas e seguem regras de um sistema ilógico – o que cria o efeito de humor".

Rindo e chorando

E o filme, de fato, funciona em ambos os níveis. Cenas hilárias são intercaladas com sequências de absoluta seriedade, em que o público engole o riso. O filme Hotel Lux certamente transmite uma impressão dos horrores do hotel-prisão.

"O Lux era um hotel conspiratório por dentro e por fora - um lugar para segredos", escreveu em suas memórias a comunista austríaca Ruth von Mayenburg, que passou alguns anos no Lux.

"Não havia lista de hóspedes. Em nenhuma lista houve qualquer informação sobre quem tenha morado ali", diz von Mayenburg, uma das testemunhas mais importantes entre os falantes de alemão. "Quando as pessoas chegavam, geralmente o nome em seus passaportes não correspondia a seus nomes reais, e seus nomes verdadeiros não correspondiam aos nomes de seu partido - estes aliás, estavam sempre mudando." É justamente o jogo de mudança de identidades que compõe o filme.

Cena do filme
Cena do filmeFoto: 2011 Bavaria Pictures/Stephan Rabold

Toque autobiográfico

É claro que nem todas as piadas no filme funcionam. Ainda assim, Hotel Lux está entre os melhores trabalhos de Leander Haussmann - provavelmente porque ele uso parte de sua própria história no filme.

"Como um cidadão da Alemanha Oriental, ele cresceu em um ambiente comunista", disse o produtor Günter Rohrbach. "Ele sabe, por experiência própria, como um artista tem de lidar com esse tipo de sistema", observa. Essa vivência é evidente no filme. Hotel Lux é uma comédia bem-sucedida sobre uma era terrível da História.

Em seu livro Lachen über Hitler? - Auschwitz-Gelächter (Risos sobre Hitler? - Risadas sobre Auschwitz), a pesquisadora Margrit Frölich analisa a paródia no cinema e afirma que a ironia é apropriada para explicar figuras históricas.

"Em filmes históricos como A Queda [épico de 2005 sobre os últimos 10 dias de vida de Hitler], há o perigo de se promover o mito em torno de Hitler", escreveu ela. "Artistas com inclinação subversiva vão em uma direção diferente: para eles trata-se de esmagar completamente a aura dessa figura", considera.

Autor: Jochen Kürten (bv)
Revisão: Francis França