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Humanos primitivos teriam escapado por pouco da extinção

Esteban Pardo
5 de setembro de 2023

Análises genéticas apontam que quase todos nossos ancestrais morreram em uma catástrofe natural 900 mil anos atrás. Apenas 1.280 indivíduos teriam sobrevivido. Uma parte deles está em você.

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Crânios de neandertal e homo sapiens com uma calota de crânio de uma outra espécie humanoide no meio
Acredita-se que neandertais, denisovanos e os primeiros humanos modernos tenham coexistido por até 300 mil anosFoto: Nir Alon/Zuma Press/picture alliance

Imagine que há 900 mil anos você estava vagando nu por uma bela área de natureza extrema. O tempo começa a ficar cada vez mais frio e seco, a comida se torna escassa e todos ao seu redor estão morrendo. Você tem de garantir sua própria sobrevivência nessas condições.

Se essa situação parece distante da sua realidade, ela foi bastante real para o seu tataravô de 30 mil gerações passadas.

Um estudo publicado na revista Science no final de agosto aponta que nossos ancestrais que viviam na África estiveram à beira da extinção.

Houve uma súbita queda no tamanho da população, restando apenas 1.280 pessoas. A causa dessa extinção quase total ainda é incerta, mas a hipótese levantada pelo estudo é de que tenha havido uma mudança climática parecida com a que estamos atravessando atualmente.

Muitos morreram, alguns sobreviveram, e então, nós viemos

Com isso, o destino da humanidade ficou literalmente nas mãos de algumas poucas pessoas. Toda a nossa história, nossos entes queridos e todos que conhecemos são oriundos desses poucos e sortudos sobreviventes. Os autores do estudo descobriram que esse grupo conseguiu preservar o contingente populacional ao longo de 117 mil anos.

"O fato de que estamos aqui hoje, povoando o planeta com mais de 8 bilhões de indivíduos, significa que nós conseguimos sobreviver a uma miríade de eventos desfavoráveis graças a nossas habilidades de adaptação e, por que não, a um pouco de sorte", disse Giorgio Manzi, professor de antropologia da Sapienza Universidade de Roma. Manzi colaborou com a pesquisa.

O chamado evento gargalo ocorre quando um grande número de seres vivos é atingido por condições naturais desfavoráveis. Alguns poucos conseguem passar pela parte mais estreita da garrafa e repovoar o ambiente.

Lacuna nos registros fósseis

A ciência nos ensinou muito sobre nossas origens, principalmente por meio dos fósseis.

Uma teoria amplamente aceita é a de que entre 700 mil e 500 mil atrás um ancestral comum se dividiu em três linhagens que resultaram nos neandertais, denisovanos e numa versão primitiva de nós. Esse ancestral comum tem sido chamado pelos cientistas de Homo heidelbergensis e esse novo estudo reforça essa teoria.

Mas existe uma lacuna nos registros fósseis. Há poucas evidências fósseis de 900 mil anos atrás, e isso intriga os cientistas há décadas.

Esse novo estudo, no entanto, apresenta uma razão possível para a existência desses poucos fósseis. A hipótese é de que entre 930 mil e 813 mil anos atrás cerca de 98,5% desses humanos primitivos foram extintos.

Se havia menos indivíduos, faz sentido que menos pessoas tenham sido fossilizadas. Por isso, a menor quantidade de evidências fósseis localizadas.

Mudança climática levou antigos humanos à extinção?

Os pesquisadores afirmam que seus achados têm uma forte relação com uma mudança climática dramática a partir de um evento que ocorreu há quase 1 milhão de anos.

Esse fato, conhecido como Transição do baixo e médio Pleistoceno, foi um ponto de virada para várias formas de vida.

Mandíbula do crânio de um humanoide
Homo heidelbergensis foi uma espécie de humano primitivo que se acredita ser um ancestral comum dos neandertais, denisovanos e dos humanos modernosFoto: Hendrik Schmidt/ZB/dpa/picture alliance

"Nossa descoberta chama a atenção para como a mudança climática afetou a evolução”, disse Manzi, que também ressaltou que a atual mudança climática causada pela ação humana "pode nos levar à beira da extinção de novo”.

Nossos ancestrais podem ter vivido um evento glacial severo, quando o gelo se espalhou dos polos da Terra, secas muito rigorosas, ou ainda a perda de outras espécies.

Soa familiar? Estamos diante de eventos parecidos atualmente, com a única diferença de que o gelo polar está derretendo, e não se espalhando.

Olhada no passado por meio dos genes humanos

Os pesquisadores analisaram a sequência genética de mais de 3 mil humanos modernos, usando um novo método estatístico chamado FitCoal.

O FitCoal resgata a história a partir do material genético e assim, produz dados sobre populações passadas.

As descobertas ainda precisam ser confrontadas com os fósseis já encontrados e também com registros arqueológicos. Por exemplo, os pesquisadores gostariam de compreender se esses 1.280 sobreviventes eram mesmo ancestrais de Neandertais, Denisovanos e do humano moderno.

E com o FitCoal, tudo o que eles precisam é de apenas uma fração da informação genética.

Por que cientistas temem uma nova era do gelo na Europa