Há 250 anos nascia o pai da homeopatia
10 de abril de 2005Christian Friedrich Samuel Hahnemann nasceu no dia 10 de abril de 1755 em Meissen, no Estado da Saxônia, no leste da Alemanha. Filho de um pintor de porcelana, o garoto cresceu em um ambiente modesto e, graças a uma bolsa, pôde estudar em numa renomada escola da região.
Desde cedo, Hahnemann demonstrou grande facilidade para línguas. Além do alemão, aprendeu inglês, francês, espanhol, latim, árabe, grego, hebreu e caldeu. Tinha ainda aptidões para as ciências naturais e grande interesse pela botânica.
Iniciou o curso de Medicina na Universidade de Leipzig. Porém, insatisfeito com o enfoque exclusivamente teórico das aulas, Hahnemann transferiu-se para Viena.
Em 1781, Hahnemann defendeu sua tese de doutorado na faculdade de Erlangen. Começou a praticar a medicina no povoado saxônico de Hettstedt. Meses depois, mudou-se para Dessau, onde conheceu Johanna Leopoldina Henriette Küchler, enteada de um farmacêutico. Em 1782, casaram e mudaram-se para Gommern – também no leste do país.
Similia similibus curentur
Embora considerado bom médico, Hahnemann demonstrou-se desiludido com a pouca eficácia dos métodos terapêuticos usados na época. Para garantir o sustento da família, optou por traduzir obras científicas, especialmente nas áreas de química e medicina.
Em 1790, Hahnemann traduziu o tratado Matéria Médica, do inglês Willian Cullen, que relatava as propriedades curativas da Chinchona officinalis, ou quinina, contra a malária. Intrigado, Hahnemann testou em si mesmo a substância e desenvolveu sintomas semelhantes aos da doença. Subitamente, tomou consciência do que ocorrera: quinina acarretava sintomas semelhantes aos apresentados pela enfermidade que curava.
Hahnemann experimentou outras drogas como beladona, mercúrio, digital, ópio, arsênico e diversos medicamentos de uso corrente na época. Os testes confirmaram sua teoria. Cada remédio provocava uma doença similar àquela para a qual era ordinariamente receitado. Similia similibus curentur ou "semelhante cura semelhante". Hahnemann desvendara o princípio da homeopatia.
Homeopatia, uma idéia anterior a Hahnemann
Hahnemann publicou, em 1796, um importante ensaio chamado Um novo método para averiguar os princípios curativos das drogas. Com ele, o médico descrevia suas descobertas e começava a entrar para a história.
Na verdade, Hahnemann não é o pai das idéias básicas da homeopatia. No século 5º a.C., Hipócrates, pai da Medicina, já afirmava que uma doença podia ser combatida com substâncias que causavam sintomas parecidos. Hipócrates tentara a cura de certos males com semelhantes.
O mesmo princípio curativo já fora mencionado na Índia mais de 2 milênios antes. E, no século 16, o suíço Paracelso afirmava que venenos ministrados em pequenas doses podiam curar enfermidades.
Hahnemann, que conhecia e admirava os trabalhos de Hipócrates e Paracelso, tinha agora a comprovação prática das idéias de seus mestres.
A nova terapia
Hahnemann dedicaria o resto de sua vida a desvendar a cura pelo semelhante e aprofundar-se nesta premissa. O princípio "Similia similibus curentur" foi batizado por Hahnemann de homeopatia – do grego "homoion" similar, e "pathos" doença.
Querendo fazer dela um método eficaz de tratamento, ele experimentava as substâncias, registrava seus efeitos no organismo e passava a utilizá-las em doentes com sintomas semelhantes.
Hahnemann começou seus tratamentos aplicando grandes doses. Mas, devido a efeitos colaterais, procurou desenvolver um procedimento para proteger o paciente e evitar intoxicações. Passou a diluir as substâncias para que fossem ministradas em pequenas quantias.
Sacolejo de cavalos desvendam a terapia
Sempre atento aos tratamento dos seus pacientes, Hahnemann notou que, quanto mais afastado ficava o domicílio dos enfermos, mais rápidos e eficazes se mostravam os medicamentos. A única diferença entre os remédios de quem residia próximo e de quem residia longe eram os sacolejos sofridos durante o transporte a cavalo.
Hahnemann concluiu que, se os processos de saúde, doença e cura são dinâmicos, o medicamento também deveria sê-lo. Sendo assim, as substâncias homeopáticas deveriam passar pelo chamado processo de dinamização: ao serem preparadas, deveriam sofrer batidas fortes e ritmadas para despertar a energia contida nos elementos.
A nova terapia de Hahnemann era eficiente e agradável aos pacientes. Uma ótima opção aos tratamentos primitivos e sem embasamento científico da época, como a prática de sangrias, ingestões de purgantes e substâncias tóxicas.
Professor cheio de controvérsias
Em 1812, Hahnemann recebeu licença para lecionar na Universidade de Leipzig. Viveu na cidade até 1821 com sua família (a esposa e 11 filhos, dos quais dois viriam a morrer).
Suas críticas aos métodos de cura da época esvaziaram-lhe a sala de aula. Aos poucos alunos que restaram, ele propôs a formação de um grupo de "provadores de drogas". Neste período, redigiu uma obra onde estão descritos todos os sintomas e propriedades das substâncias testadas por ele e seus discípulos.
A controvérsia em torno de seus métodos contribuiu para que Hahnemann mudasse várias vezes de cidade. Em 1821, estabeleceu-se em Köthen, onde recebera autorização para a fabricação de seus medicamentos. Por essa época, Hahnemann escreveu seu último livro médico importante, intitulado Doenças crônicas, sua natureza e tratamento homeopático, publicado em 1828.
Inquisição homeopática
Os êxitos do método homeopático eram proporcionais às críticas que este recebia. Médicos adeptos da medicina tradicional incitaram farmacêuticos contra Hahnemann. Muitos consideravam a homeopatia um sistema nulo, de valor puramente especulativo, e até prejudicial à saúde.
Na Áustria havia um decreto que proibia sua prática. Em Praga, o médico que lançasse mão dos novos métodos seria condenado a pagar multa. Reincidentes tinham o diploma cassado e eram exibidos, como malfeitores, em praça pública.
Cólera ajuda e difundir a homeopatia
Em 1831, um ano após a morte de sua esposa, Hahnemann ajudou a conter uma epidemia de cólera na Europa. Seu sucesso no tratamento da moléstia chamou a atenção e despertou interesse internacional. De vários locais do continente vieram agradecimentos e elogios aos novos métodos do médico alemão.
Na Áustria, os governantes aboliram o decreto anti-homeopatia, mesmo a contragosto. Na França, as idéias de Hahnemann ganharam adeptos e nos EUA formou-se uma sociedade homeopática.
A partir de 1832, vários médicos e cientistas propagaram a nova medicina: Romani em Nápoles, Pierre Dufresne em Genebra, Des Guidi em Lyon, o professor Mabit em Bordeaux e Petroz, Croserio, Curie, Léon Simon em Paris.
Hahnemann deixa a Alemanha
Em 1835, Hahnemann casou-se com uma jovem francesa, Melanie d'Hervilly-Gohier, e mudou-se com ela para Paris.
Na França, Hahnemann encontraria o reconhecimento ao seu trabalho que lhe fora negado em seu país de origem. E sua transferência contribuiu para que a homeopatia demorasse mais a se propagar na Alemanha.
Hahnemann morreu aos 88 anos, em Paris, no dia 2 de julho de 1843. Seus estudos foram rapidamente difundidos, serviram de inspiração para novas gerações de clínicos e tornaram o mundo mais saudável.
Desvendando a natureza
Hahnemann não é o descobridor da homeopatia, pois o princípio curativo desta é uma lei da natureza. Seu grande mérito é tê-lo desvendado e aplicado ao uso medicinal.
Hahnemann e seus discípulos desenvolveram 100 substâncias curativas. Hoje há cerca de 3 mil delas. Ao longo dos anos, os métodos homeopáticos evoluíram muito. Mas seus princípios básicos, desvendados por Hahnemann, perduram após mais de dois séculos.
Homeopatia no Brasil
A homeopatia foi introduzida no Brasil por um dos discípulo de Hahnemann, o francês Benoit-Jules Mure. Mure chegou ao país em 1840 e obteve apoio de D. Pedro II para a prática, ensino e propagação da nova medicina.
A homeopatia propagou-se no Brasil, recebendo apoio do pensamento positivista no final do século 19. O método se propagou até o final da década de 20, sofrendo posteriormente um lento declínio. Nos anos 60, a homeopatia sobreviveu no país graças a nomes como os de Abraão Brickman, Alfredo de Vernieri, Paiva Ramos, David Castro e Artur de Almeida Resende Filho.
Nas últimas décadas a homeopatia voltou a ganhar notoriedade e prestígio. Hoje, o Brasil é um dos países com maior número de médicos homeopatas do mundo e calcula-se que cerca de 17 milhões de brasileiros já tenham recorrido à medicina de Hahnemann.
No território nacional existem cerca de 15 mil médicos exercendo a homeopatia, 2 mil farmacêuticos e o mesmo número de farmácias especializadas.
E, para quem gosta de história, existe até o Museu de Homeopatia Abraão Brickmann, na cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.