1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Há uma espécie de guerra civil na Turquia"

Daniel Heinrich (lpf)24 de julho de 2015

Ancara ataca pela primeira vez posições do "Estado Islâmico" na Síria. Para a especialista Gülay Kizilocak, troca de golpes com jihadistas tem a ver com fato de o governo estar enfraquecido e a sociedade, dividida.

https://p.dw.com/p/1G4Hw
Foto: picture-alliance/dpa/AP Photo/L. Pitarakis

Após milicianos do "Estado Islâmico" (EI) dispararem contra um posto militar turco, a Turquia bombardeou pela primeira vez posições do grupo extremista em território sírio, informou o governo turco nesta sexta-feira (24/07).

Gülay Kizilocak, especialista do Centro de Estudos Turcos em Essen, na Alemanha, atribui em parte a escalada da situação na região ao fato de o governo turco estar enfraquecido no momento. Desde as eleições parlamentares em junho, o primeiro-ministro Ahmet Davutoğlu tenta formar uma coalizão.

Além disso, há a ameaça do EI, que controla áreas do território sírio na fronteira com a Turquia, assim como a divisão da sociedade em setores pró e anticurdos, numa "espécie de guerra civil".

DW:A Força Aérea da Turquia está atacando posições do "Estado Islâmico" (EI) na Síria. A situação na região está se agravando?

Gülay Kizilocak
Gülay Kizilocak é especialista do Centro de Estudos Turcos em EssenFoto: Imago/H. Galuschka

Gülay Kizilocak: Trata-se de uma situação altamente explosiva, logo após as eleições parlamentares de junho. O governo ainda está ocupado com a formação de uma possível coalizão, e a sociedade está dividida em dois campos de batalha: um pró-curdo e outro anticurdo. A isso se soma a constante ameaça dos terroristas do EI. Assim, é possível dizer que uma espécie de guerra civil está em curso no sudeste da Turquia.

Quanto às eleições parlamentares, como avalia a influência delas sobre os atuais acontecimentos?

Para mim está claro que nesta situação de insegurança há muitos que tentam se aproveitar da situação, porque no momento o governo atua apenas como negociador. O AKP [partido conservador islâmico do presidente Recep Tayyip Erdogan] deve que aceitar claras derrotas, e até hoje, mais de dois meses depois [das eleições], não foram tomados passos razoáveis no sentido de formar um governo. Todos os partidos que poderiam agora entrar em questão bloqueiam uma possível coalizão de governo, e muitos tentam se aproveitar dessa insegurança.

A senhora atribui os acontecimentos atuais ao fato de o governo estar enfraquecido?

Sem dúvida. Além disso, o governo turco tolerou as ações do EI até agora. Isso também se viu no ano passado, quando houve ataques em Kobane, diretamente na fronteira [da Síria] com a Turquia. E agora, como o governo está enfraquecido, a situação se agrava ainda mais.

O vencedor das eleições foi o partido curdo HDP. Qual o papel da legenda na situação atual?

O HDP tem o papel mais difícil no momento, acho, porque ele nasceu em consequência dos acontecimentos políticos dos últimos anos. O HDP não é mais apenas um porta-voz dos curdos no sudeste [da Turquia], mas também um ponto de convergência da esquerda intelectual contra o partido conservador islâmico do governo, o AKP. Muitos [eleitores de outros partidos] votaram no HDP por questões estratégicas e querem ver agora se o HDP realmente vai fazer diferença, sobretudo diante do contexto dos atuais ataques no sudeste do país.

Em termos de política externa, a senhora vê no comportamento do governo turco e agora também na interação com os americanos uma nova etapa das relações Turquia-Estados Unidos?

Acho que as relações turco-americanas sempre estiveram num nível razoável. É verdade que nos últimos tempos ocorreram algumas discordâncias, mas nunca houve uma distância grave entre a Turquia e os EUA. Por isso, não se trata de uma "nova" aliança. Mas é importante ter os EUA como aliado forte, que dá suporte na luta contra o EI.