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Ibaneis diz à PF que Exército impediu remoção de acampamento

13 de janeiro de 2023

Em depoimento, governador afastado do DF afirma que determinou a retirada de bolsonaristas acampados em Brasília, mas autoridades militares se opuseram. Plano de segurança do dia 8 sofreu "sabotagem" das forças, alega.

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Ibaneis Rocha
O bolsonarista Ibaneis Rocha foi afastado do cargo por Moraes no dia dos atos golpistasFoto: Ton Molina/Fotoarena/IMAGO

O governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), prestou depoimento à Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira (13/01), no âmbito do inquérito que apura os atos golpistas em Brasília no último domingo. Ele é suspeito de ter sido conivente com os bolsonaristas radicais e ignorado apelos de autoridades para ampliar a segurança na Praça dos Três Poderes.

No depoimento de três horas, o governador afastado negou ter qualquer envolvimento com os atos antidemocráticos, seja por ação ou omissão, e afirmou que chegou a determinar a remoção pacífica do acampamento bolsonarista em frente ao Quartel-General em Brasília em dezembro, mas o Exército impediu a retirada.

Segundo Ibaneis, o processo de remoção dos acampados – que vinham ocupando o local desde a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro nas urnas e pediam uma intervenção militar para impedir o governo de Luiz Inácio Lula da Silva – teve início alguns dias antes da posse do petista, inclusive com a retirada de algumas barracas, mas o trabalho foi interrompido.

"Foi definida a data de 29/12/2022 e iniciado o procedimento de remoção, mas este foi sustado logo no início por ordem do comando do Exército. Algumas barracas chegaram a ser retiradas, mas o DF Legal, auxiliado pela Polícia Militar, não conseguiu terminar todo o trabalho de retirada em razão da oposição das autoridades militares", diz um trecho do depoimento, ao qual a emissora CNN teve acesso.

Ibaneis negou ter conhecimento de que ataques extremistas e violentos poderiam vir a ocorrer, afirmando que quem recebia as informações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) era a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, ou seja, parte de seu governo, mas que ele próprio não recebeu essas informações.

Segundo Ibaneis, não cabia a ele analisar "em minúcias questões operacionais de segurança".

"Recebia informes sobre as questões de segurança do DF e nenhuma dessas tratou de possíveis ações radicais que estavam sendo organizadas pelos acampados. Eventuais relatórios de inteligência ficavam restritos à Secretaria de Segurança, e apenas chegava ao governador o que realmente importava para suas decisões", afirma outro trecho.

Numa tentativa de evitar ser responsabilizado pela inoperância das forças de segurança, Ibaneis insistiu que "a Secretaria de Segurança Pública estava encarregada integralmente de fazer o planejamento para garantir a segurança dos atos que se anunciavam para o dia 8 de janeiro".

O governador já havia tentado jogar a culpa para a secretaria, então comandada pelo ex-ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres, no mesmo dia dos atos golpistas, quando gravou um vídeo pedindo desculpas ao presidente Lula pela violência em Brasília e anunciando a exoneração de Torres. Não bastou. Momentos depois, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o afastamento de Ibaneis do cargo pelo prazo inicial de 90 dias.

Vésperas e o dia dos ataques

À PF, o emedebista relatou ainda que, em 6 de janeiro, às vésperas dos ataques, recebeu uma mensagem pelo Whatsapp do atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que dizia estar preocupado com a chegada a Brasília de vários ônibus com manifestantes bolsonaristas.

Ibaneis afirmou que procurou imediatamente seu secretário de Segurança Pública, Torres, mas este estava nos Estados Unidos – Torres viajou de férias dias após tomar posse na secretaria do DF. O governador fez contato então com o secretário interino, Fernando de Sousa Oliveira, que "o tranquilizou, afirmando haver informes que os manifestantes estavam chegando pacificamente ao QG do Exército para a manifestação do dia 08/01/2023", diz trecho do depoimento.

Ibaneis disse ter recebido outras mensagens de Oliveira, inclusive no próprio dia 8 de janeiro, afirmando que tudo estava "tranquilo". Segundo ele, todas essas informações foram repassadas para Flávio Dino.

Acompanhando pela televisão a movimentação na Esplanada dos Ministérios, Ibaneis afirmou que, ao ver o início de um tumulto perto do prédio do Congresso, ordenou ao secretário interino, por volta de 15h40, que todas as forças de segurança fossem postas na rua. "Tira esses vagabundos do Congresso e prendam o máximo possível", teria dito ele a Oliveira, segundo seu depoimento.

Ibaneis disse ainda que ficou revoltado com as cenas de militares "confraternizando com os manifestantes" durante os atos antidemocráticos.

"Atos de sabotagem"

Em documento enviado ao STF, a defesa de Ibaneis insiste que o plano de segurança elaborado para os protestos de 8 de janeiro foi alvo de "atos de sabotagem" por parte das forças de segurança locais. O texto afirma ainda que os policiais agiram com "conivência e colaboração" com os extremistas.

"Foi uma verdadeira surpresa a inexistência de efetivos em número suficiente para conter os vândalos e, pior, que alguns PMs se confraternizaram com os manifestantes. O governador espera que todo o ocorrido seja cabalmente apurado e as responsabilidades fiquem demonstradas", acrescenta a defesa de Ibaneis, em nota.

Segundo o jornal O Globo, citando o advogado do governador afastado, Alberto Zacharias Toron, Ibaneis entregou à PF trocas de e-mails e mensagens com Flávio Dino e Anderson Torres que provariam que ele não teve culpa nos atos golpistas.

Ele compareceu à Polícia Federal nesta sexta-feira a pedido de sua própria defesa, antecipando-se a uma intimação.

Novo inquérito contra Ibaneis

Também nesta sexta, o ministro Alexandre de Moraes autorizou a abertura de um inquérito contra Ibaneis e outras autoridades públicas do governo do Distrito Federal para apurar eventual responsabilidade deles nos ataques. A medida atinge também o secretário Torres e o interino Oliveira, além de Fábio Vieira, ex-comandante-geral da Polícia Militar do DF.

Na decisão, o ministro do Supremo afirma que Torres agiu com "descaso e conivência", o que "só não foi mais acintoso do que a conduta dolosamente omissiva" do governador do DF.

Ibaneis "deu declarações públicas defendendo uma falsa livre manifestação política em Brasília, mesmo sabedor por todas as redes que ataques às instituições e seus membros seriam realizados", escreveu Moraes.

Segundo o ministro, o governador também "ignorou todos os apelos das autoridades para a realização de um plano de segurança semelhante aos realizados nos últimos dois anos em 7 de setembro, em especial, com a proibição de ingresso na Esplanada dos Ministérios pelos criminosos terroristas, tendo liberado o amplo acesso".

ek (ots)