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Negócio questionável

23 de novembro de 2011

Criticada por permitir que editora de sua propriedade venda publicações eróticas e esotéricas, Igreja Católica na Alemanha agora quer se desfazer do negócio. Faturamento anual chega a 1,6 bilhão de euros.

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Católicos buscam compradores para a editora
Católicos buscam compradores para a editoraFoto: dapd

A editora alemã Weltbild divulgou nesta terça-feira (22/11) que seus sócios pediram à direção da empresa para encontrar "o mais rapidamente possível" um comprador para a editora. Os sócios responsáveis pela Weltbild são 12 dioceses católicas, a assistência espiritual aos militares, de Berlim, e a associação das dioceses alemãs.

Com a venda, os religiosos pretendem encerrar um assunto que permaneceu intocado por muito tempo. Só há três anos é que ele passou a ser discutido publicamente: estaria de acordo com os valores e as metas da Igreja católica o fato de a Weltbild publicar, entre outros livros, alguns de conteúdo erótico e esotérico? Católicos mais conservadores acreditam que não, já outros pensam no faturamento anual de mais de 1,6 bilhão de euros alcançado pela editora. A Weltbild defende-se das acusações de pornografia, rejeita a ideia de censura e fala sobre "cidadãos responsáveis".

Plano de venda é antigo

Em 2009, a empresa quase foi vendida. Naquele ano, o grupo Thalia, entre outros, havia demonstrado interesse na Welbild, mas não se chegou a um consenso sobre o preço. Chegou-se a dizer que a soma esperada era de mais de um bilhão de euros – o que em meio à então recém-desencadeada crise econômica ninguém iria querer pagar. A Weltbild continuou, então, nas mãos da Igreja católica.

Em outubro de 2011, a revista especializada Buchreport reiniciou a discussão sobre as ofertas literárias eróticas da Weltbild. Sob o termo de busca "erótico", teria sido possível encontrar mais de 2.500 referências no site weltbild.com – atualmente não se encontra mais nenhum. O grupo Weltbild detém 50% do grupo de editoras Droemer Knaur e tem ainda 33,3% de participação na buecher.de. Nesta, ainda se encontra material erótico, mas que está longe de ser pornográfico.

Screenshot Weltbild.de
Ao buscar o termo 'erótico' era possível encontrar mais de 2.500 referências no site weltbild.comFoto: Weltbild.de

O diretor Carel Halff não se cansa de explicar que a venda de livros eróticos representa menos de 0,017% do faturamento ao longo de 2011. Ainda assim, ele não conseguiu evitar as novas discussões sobre a venda da editora. O próprio papa Bento 16 disse no começo de novembro aos bispos alemães que é tempo de "limitar energicamente a disseminação de material de conteúdo erótico ou pornográfico, inclusive pela internet".

O conselho permanente da Conferência Alemã dos Bispos reagiu e priorizou na segunda-feira (21/11) a venda da editora.

Funcionários temem cortes

Um dos que poderiam comemorar a venda da Weltbild é o cardeal Joachim Meisner. O arcebispo da cidade de Colônia exige há anos uma estrita separação entre a Igreja e a editora Weltbild. Em 2008, a Diocese de Colônia repassou sua cota da editora para a Congregação Alemã das Dioceses. "Não dá para ganharmos dinheiro durante a semana exatamente com o que criticamos na pregação de domingo. Isso é escandaloso", afirmou Meisner no jornal Welt am Sonntag.

O arcebispo de Munique, o cardeal Reinhard Marx, também concorda, mesmo tendo as arquidioceses de Munique e Freising a segunda maior participação na Weltbild. "Podemos ter grandes conglomerados de mídia, mas se eles não tiverem como meta pregar o Evangelho, segue-se na direção errada".

Desde que o papa Bento 16 em setembro passado convocou a Igreja a um maior "distanciamento de coisas materiais", o assunto evoca ainda outro ponto. Questiona-se se seria conveniente à Igreja ser proprietária de uma empresa que visa o lucro, com mais de 6 mil funcionários e um faturamento bilionário.

Com a venda, os funcionários da Weltbild em Augsburg temem que suas condições de trabalho irão piorar. A editora tem grande influência no mercado. Segundo a própria empresa, ela é uma das maiores do ramo do comércio de livros, mídia e internet na Europa. A Weltbild tem filiais no mercado livreiro, dispõe de uma loja online e também faz vendas por reembolso postal. Além de livros e revistas, o grupo também oferece CDs, DVDs, presentes, artigos eletrônicos e para a casa.

Uma nova editora

Sede da Weltbild em Augsburg
Sede da Weltbild em AugsburgFoto: picture-alliance/dpa

A história da Weltbild é longa. Em 1948, ela foi fundada com o nome Winfried-Werk GmbH e produzia, inicialmente, a revista católica Mann in der Zeit (Homem no tempo), que 20 anos depois teve o nome alterado para Weltbild.

Em 1972, a empresa começou com o negócio de envio de livros e nos anos 1980 expandiu para outros países. Em 1997, começaram as vendas pela internet. Em 2006, concretizou-se a fusão do grupo com a família Hugendubel e, três anos mais tarde, centenas de postos de trabalho foram fechados.

Sob um novo comando, seja quem for o novo proprietário, a empresa poderá seguir em diversas direções: de um completo ou apenas parcial desmantelamento até uma expansão da presença na internet e a eliminação de filiais que precisam de modernização. Mas pelo menos uma questão será resolvida com a venda: a Weltbild poderá, sem problema, vender realmente publicações eróticas.

Autora: Marlis Schaum (msb)
Revisão: Roselaine Wandscheer