Típico alemão?
7 de janeiro de 2010Angela Merkel é boa mesmo como chanceler federal? Quanto ganha um jogador de futebol profissional no Bayern de Munique? Que carro é bom ter para poder casar com uma alemã? Essas são perguntas que os turistas alemães ouvem esporadicamente de jovens estudantes chineses. São questões que evocam uma imagem da Alemanha unilateralmente marcada pelos clichês que costumam se propagar na internet.
"Ao lado do alemão mau, do nazista alemão, também sempre houve o 'homem de bem' alemão, um clichê que se manteve durante séculos", explica Jens Hacke, do Instituto de Pesquisa Social de Hamburgo.
No entanto, os tempos em que os alemães eram automaticamente associados a nazistas também já passaram, garante o sociólogo. Hacke estuda a história da mentalidade política da República Federal da Alemanha e investiga, entre outras coisas, se a RFA – em seus 61 anos de existência e vinte anos após a reunificação – ainda é considerada uma nação provisória, um Estado sem alma e sem carisma.
Existe uma série de características absolutamente positivas, mas essas geralmente se propagam menos que a imagem negativa do alemão xenófobo e maçante, afirma Hacke.
Modelo Alemanha como marca
O modelo Alemanha da época do chanceler federal Helmut Schmidt acabou se tornando a marca registrada do país, apesar da crise do petróleo, dos tumultos sociais do Outono Alemão e das dores da reunificação. Sendo assim, 60 anos de República Federal da Alemanha se tornam retrospectivamente uma história de sucesso.
A galeria dos premiês consagrados – Konrad Adenauer, Willy Brandt e Helmut Schmidt – acabou virando uma história de heróis. Todos os momentos coletivos de êxito e felicidade da história da Alemanha do pós-guerra – como o milagre econômico, o milagre de Berna (vitória da seleção alemã na Copa de 1954) ou o recente mar de bandeiras alemãs na final da Copa de 2006 – foram acrescentados ao catálogo de mitos da Alemanha.
No entanto, com as terríveis imagens bélicas do Afeganistão, as imagens sombrias do passado nacional-socialista voltam à tona. E com elas, a pergunta: como transmitir a uma geração jovem, versada em mídias digitais, o Holocausto como um crime contra a humanidade?
"Para um jovem de 15 anos, todo o período nazista – apesar dos filmes do historiador Guido Knopp para a emissora de direitos públicos ZDF – é tão distante como a Idade Média", constata Jens Hacke, reivindicando novos métodos de formação política.
O politólogo nascido em 1973 ainda se lembra de conversas com testemunhas de época, com antigos prisioneiros de campos de concentração, convidados pelas escolas para narrar suas vivências. Essas imagens vão deixar de existir em um futuro breve.
Representantes em manga de camisa
Sucesso material e esportivo, mas sobretudo alto desempenho científico ainda marcam a imagem exterior da Alemanha, que – apesar da crise financeira – ainda tem uma dominante feição materialista.
Sem o mesmo brilho e a mesma glória com que se mostram, por exemplo, o Reino Unido e a França, a Alemanha realiza suas cerimônias oficiais com sobriedade, às vezes até com uma certa falta de jeito. Para Hacke, um bom exemplo disso foi a recente eleição para a presidência alemã. Um evento sóbrio que mostra o presidente do Parlamento digitando descontraidamente um torpedo em seu celular, enquanto espera a chegada do chefe de Estado.
Na França, lembra Hacke, uma ocasião dessas justificaria uma unidade especial das Forças Aéreas sobrevoando o Arco do Triunfo. Na Alemanha, por sua vez, tais imagens continuam sendo impensáveis.
Forte cultura regional e capital cosmopolita
Vinte anos após a reunificação, a Alemanha está se estabilizando como um conglomerado de culturas regionais em parte bastante fortes. Dialetos regionais, cozinha regional e monumentos arquitetônicos conferem ao país uma imagem eclética e segura de si. Berlim, a metrópole de cofres vazios, é um centro atraente e espaço de nostalgia coletiva por uma sociedade cosmopolita.
"O hamburguês talvez tenha mais em comum com o inglês do que com o bávaro, e em determinadas regiões o bávaro também tem mais a ver com o austríaco do que com o baixo-saxão e vice-versa", afirma Hacke.
O sociólogo encara a federação de estados alemães como uma chance de uma imagem modernizada da Alemanha, a encontrar uma verdadeira unidade na diversidade de traços culturais, políticos e econômicos.
O que restou após 60 anos de República Federal da Alemanha? Duas coisas: o Estado constitucional liberal celebrado por Ralf Dahrendorf no "país sem ideias", e a revolução pacífica de 1989. Não um clichê, mas uma imagem bonita, confiante e forte a ser transmitida ao mundo, avalia Jens Hacke.
Autor: Sven Ahnert
Revisão: Augusto Valente