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Imagens da arte que nunca existiu

Simone de Mello7 de abril de 2005

O projeto "Antologia da Arte", lançado na internet pelo artista alemão Jochen Gerz, pode ser apreciado numa exposição do Centro de Arte e Tecnologia de Mídia de Karsruhe (ZKM). Como seria a arte que nunca existiu?

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Jochen Gerz, recorte de 'Map Wohnort'Foto: Jochen Gerz
Bildgalerie Deutsche Kunst der Nachkriegszeit Jochen Gerz, deutscher Künstler
Jochen GerzFoto: dpa

"No contexto da arte contemporânea, qual é a sua visão de uma arte ainda desconhecida?". Esta é a pergunta que o artista alemão Jochen Gerz lançou no ar, recebendo respostas de centenas de artistas e teóricos. As respostas – em texto e imagem – foram sendo publicadas gradativamente na rede, compondo o work in progress www.anthology-of-art.net. Os resultados deste trabalho de arte e mídia podem ser vistos até 7 de agosto no Centro de Arte e Tecnologia de Mídia de Karlsruhe.

Arte coletiva

Um procedimento típico da obra mais recente de Jochen Gerz, residente em Paris, é criar o contexto e estabelecer as regras do jogo para obras de arte coletivas. E a internet é a mídia que mais se apropria a este tipo intercâmbio. Em Oráculo de Berkeley (1997-99), por exemplo, usuários de todo o mundo foram convidados a formular uma pergunta "nova, esquecida ou jamais feita".

A nova Antologia da Arte, por sua vez, reúne as mais diferentes visões do que seria uma arte por vir, ainda desconhecida. Como visualizá-la? Um reflexo de luz sobre uma superfície escura, uma escada de pintor pintada sobre a parede, um diagrama que permite a reconstrução da obra de arte desaparecida, a foto de uma cama com dois abajures acesos ao lado. As respostas são tão plurais quanto a diversidade da arte contemporânea.

Obra sem autor

Jochen Gerz Ausstellung
Jochen Gerz diante da sua instalação de fotos 'As testemunhas de Cahors', Frankfurt an der Oder, 2003Foto: AP

Outro aspecto da obra de Jochen Gerz aparente na Antologia da Arte é o desaparecimento do artista no sentido de autor. Gerz, um dos nomes da arte conceitual alemã, apenas indicou os seis primeiros artistas e os seis primeiros críticos a participarem do projeto. Foram estes, por sua vez, que nomearam os próximos e assim por diante, até o projeto completar 26 "gerações" de participantes e um total de 156 imagens e 156 textos.

O caráter de work in progress também se aplica à recepção do projeto. Desde 2001, quando a ação foi lançada por Gerz, as contribuições de teóricos e artistas, inclusive brasileiros, foram aparecendo gradativamente na rede. Após o encerramento desta etapa, o material vem sendo reapresentado no formato de exposição e transitando por diversas cidades.

Teoria como arte

Gerz descreve o que ele pretendia atingir com este projeto: "Além de compilar uma coleção representativa de teoria contemporânea, a intenção era investigar um processo de colaboração, sem interferência ou influência de um autor tradicional. Pode-se dizer que a arte de hoje deixou de ser questionada. Muito pelo contrário, toda palavra sobre arte tende a se transformar ela mesma em arte."

ZKM Karlsruhe, Ausstellungsansicht Jochen Gerz
'Anthology of art', exposição de Jochen Gerz no ZKM, Karlsruhe).Foto: Jochen Gerz/ Franz Wamhof

"A Antologia da Arte testa os limites desta tendência: Será que um grande número de autores independentes pode produzir uma obra de arte? Será que esta forma de produção reflete a sociedade global melhor do que modelos de exposições de arte com curadoria tradicional?"

Arte do futuro

O que a Antologia da Arte tem em comum com o atual discurso da arte e da crítica e teoria de arte é pluralidade de vozes que não necessariamente culmina em diálogo. O processo não centralizado de escolha dos participantes – um procedimento aleatório explorado sobretudo pela arte conceitual das décadas de 60 e 70 – faz com que o acervo de opiniões e contribuições pareça ser representativo da atual coexistência de discursos paralelos.

Embora a Antologia da Arte não pretenda dar nenhuma resposta sobre o que seria a arte ainda desconhecida, ela certamente mostra com clareza que o projeto de uma arte futura dificilmente pode transcender os limites da produção contemporânea.