Imigrantes disputam primeira Copa Gringos em São Paulo
2 de junho de 2014A poucos dias da Copa do Mundo, a expectativa pelo maior evento do futebol mundial é cada vez maior no Brasil. Mas para um grupo de estrangeiros que vive no país, a vibração e a torcida começaram semanas antes do evento. Na Copa Gringos, as partidas são amadoras, mas o espírito tem tudo a ver com o do verdadeiro Mundial.
O apito inicial da primeira edição da Copa Gringos foi dado em abril. Realizado em São Paulo, o evento foi idealizado pelo francês Stéphane Darmani, produtor audiovisual e de eventos que há sete anos vive na capital paulista.
"Eu já organizava campeonatos de futebol aqui em São Paulo. Como sou francês, achei que poderia ser legal ter um campeonato onde pudesse representar meu país, tipo um Mundial. Nada seria melhor do que poder vestir a camisa da minha seleção. Quando você é estrangeiro, esse é o melhor campeonato que você poderia jogar", diz Darmani.
Caçando gringos
Com a ideia na cabeça, o francês entrou em contato com o Consulado Geral da França em São Paulo, que apoiou a iniciativa e forneceu o contato de outros consulados. Um caminho que, segundo Darmani, não deu em nada. "Ou não tinham interesse ou não conheciam jogadores ou não queriam dedicar tempo ao projeto", conta.
Assim, ele teve que partir para outras frentes: perfis de estrangeiros no Facebook, câmaras de comércio, empresas, contatos pessoais e propaganda. Ele fez cartazes e pendurou em bares, pubs e centros culturais.
Em sete meses, Darmani conseguiu alcançar seu objetivo e formou 24 seleções. No último dia 4 de abril foi realizada a abertura da Copa Gringos, com o sorteio dos grupos. O evento contou com a presença do cônsul-geral da França, Damien Loras.
As 24 equipes são formadas por jogadores de 32 países. São oito times europeus: Espanha, Inglaterra, Portugal, Alemanha, França, Itália, Bélgica e Alpino, formada por jogadores da Suíça e da Áustria. A América está representada por Peru, Argentina, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Chile, Canadá, Paraguai, México e Bolívia. Os africanos do Congo, Nigéria e Camarões, a equipe chinesa e o time Esperanto – composto por jogadores de diversas nacionalidades – completam o campeonato.
"A única regra é que o jogador tem que ter mais de 16 anos. Alguns países já tinham equipes meio organizadas, como a Argentina, a Inglaterra e o México. Em janeiro, começamos a fazer amistosos para ver quais times já estavam prontos. O difícil não é só achar alguém que queria jogar, mas conseguir jogadores dentro de suas respectivas comunidades", diz Darmani.
Com a ajuda de um estagiário, o francês organizou todo o campeonato. "São duas quadras e doze jogos por domingo. A logística é simples. O mais difícil foi mesmo montar os times."
Viabilidade e confraternização
O objetivo de formar 24 equipes estava relacionado à viabilidade financeira do evento. Para poder realizar a Copa Gringos, Darmani precisava que cada uma das 24 seleções pagasse uma taxa de três mil reais.
"Eu sabia que havia todos esses estrangeiros aqui. Temos mais de 70 nacionalidades representadas em São Paulo. Algumas equipes não conseguiram jogar por falta de dinheiro. Foi o caso do Senegal. Já os holandeses fizeram justiça à fama de mão-fechada e não participaram por acharem a taxa muito cara", diz o francês.
A Copa Gringos já está em seus momentos decisivos: a final acontece no próximo dia 8 de junho. Segundo o organizador, os jogos foram disputados, mas não houve nenhum tipo de desentendimento entre as equipes.
"Está todo mundo respeitando as regras e os juízes. Para mim, o fair play é muito importante. E acho que todo mundo percebeu que o evento é legal, sério e bem organizado. Todos vêm felizes para os jogos, tomamos cerveja, fazemos churrasco. O espírito é super esportivo. Todo mundo fica encantado em poder representar o seu país, mas também por ter a oportunidade de cruzar com outras nacionalidades", diz o organizador.
Para Darmani, o fato de todos serem imigrantes faz com que as rixas desapareçam, e aproxima os jogadores. "No último domingo, tivemos Bolívia contra Paraguai. Muita gente na torcida, o jogo esquentou um pouco, mas no final, o futebol é assim, dentro de campo esquenta, mas uma vez que passa, todo mundo se abraça e a rivalidade termina. As equipes estão de parabéns pelo fair play", comemora.
Futebol como esporte popular
Um dos objetivos da iniciativa é celebrar o futebol pelo que ele realmente é: um esporte popular. E o organizador tem um ponto de vista firme em relação à Fifa e à comercialização do futebol.
"Não vou assistir aos jogos no estádio. Não dou meu dinheiro para a Fifa. Sou viciado em futebol, mas sou das antigas. Não gosto da maneira como a Fifa se apropriou do futebol e tornou tudo um negócio. Na Copa Gringos, tentei manter os valores universais do futebol. Temos uma mistura social grande, que vai desde refugiados políticos até diplomatas. Todo mundo se mistura e é disso que eu gosto no futebol. Eu lamento que, na Copa, os estádios não vão ter a cara do Brasil. Para mim futebol não é golfe", opina.
Em São Paulo, Darmani critica os altos preços exigidos para a prática de esportes. "Infelizmente há poucos espaços públicos para se jogar futebol. Há algumas quadras da prefeitura, mas tem que reservar com antecedência, entrar numa fila, o que torna tudo bem complicado. As quadras de futebol society estão sumindo por causa da pressão imobiliária. Você está no país do futebol, e, numa cidade grande como São Paulo, infelizmente o futebol é pago", lamenta.
A Copa Gringos fez tanto sucesso que Darmani nem vai esperar o próximo Mundial de Futebol para realizar mais um evento. Em setembro ele começa uma liga com as equipes de estrangeiros, que pretende levar adiante todos os anos.